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A gente lemos: Uma caralhada de coisas do FIQ (parte 1)

“Boeeeeeemia! Aqui me tens de regresso!”

Pensaram que eu tinha morrido, acenderam velas agradecendo e… se foderam-se! Tô de volta ao QG do MdM, pra ocupar a minha baia de trabalho antes que eu seja substituído por um desses modelos N.A.S.I.C. de forma de vida artificial que andam rondando por aí. O mundo ainda não está pronto pra isso!

E se este foi ano de FIQ, nada melhor do que encerrar minha participação no ano (será?) e preparar minha entrada (ui!) no próximo do que falando das paradas oriundas de lá. Para este post de mini-reviews, separei algumas coisas que li. Como critério (totalmente aleatório) de separação, aqui falarei apenas de edições em formato “pequeno” (aka formatinhos e outros formatos inferiores ao americano). Depois farei um post das coisas com tamanhos maiores. Por quê? Sei lá. Só sei que foi assim.

BEHALTER, de Caio Yo

Descobri o Caio Yo indo buscar “O dia do Porko”, do Vencys Lao, e foi uma descoberta bem ducacete. Seu primeiro gibi que li, Behalter, conta a história de uma nave singrando o espaço, a Wulkure 87, tendo como único tripulante humano o adolescente Bruno. Há máquinas-tutoras na nave a quem o garoto antiquadamente chama de “Mãe” e “Pai”. Apesar de estéril, o ambiente dentro da Wulkure é tranquilo, Bruno segue uma rotina de atividades até que o avistamento de um estranho objeto obstruindo a rota desconstrói toda a tranquilidade. Behalter é uma história curtinha mas que permite uma série de reflexões, por exemplo sobre o que  humaniza o humano. É legal também a força da sequência da chave inglesa que, sem spoilers, cria um efeito muito louco de humanização em algo que é essencialmente desumano.

Behalter, de Caio Yo. Independente, 68 páginas, preto e branco. R$15,00.
Nota: 8,5

Webcomics Brasil apresenta: Fliperamas

Lançado em agosto deste ano, Fliperamas era um dos meus alvos no FIQ – porra, uma coletânea de HQs sobre essa divindade de molecada dos anos 90? Tinha tudo pra ser imperdível! E sabe o que é pior? O álbum É imperdível! Claro, tem aquela oscilação típica das coletâneas, que faz dividirem espaço histórias geniais como “Meu querido save” de Yoshi Itice (ex-Lobo Limão, atual Manjericcão) com outras nem tão inspiradas assim, como “Smashing Tortoises”, do Rafael Marçal. Mas no resumo o álbum é bem legal. Aqui, os games servem de pretexto pra se discutir as vicissitudes da vida e do amor (como em “Continue”, do Vinícius Feliz ou “You lose!”, do Wesley Safadão digo, Samp), ou a passagem de gerações como em “Legado de gerações”, do Nicolas Cares. Todo o projeto gráfico da coletânea também tá bem legal, sempre remetendo ao mundo dos games old school, como o índice na forma de um mapa de “Sumário World” (sacaram? Sacaram?), ou as fontes com uma pegada mais pixelada.

Webcomics Brasil apresenta: Fliperamas, vários autores (organização de Mille Silva). Independente, 80 páginas, preto e branco. R$15,00.
Nota: 7,5

Dia do Porko, de Vencys Lao

Fui caçar esse gibi por razões óbvias – ele já havia me escapado no último FIQ, e depois, não sei porque, na GibiCon do ano passado, mas isso tinha de acabar. Escrito e desenhado pelo Vencys e prefaciado pelo Paulo Crumbim e pela Cris Eiko (de Quadrinhos A2 e da graphic MSP do Penadinho), a HQ conta, sem nenhum texto, a louca caçada de três aborígenes (e meio) a um porco do mato num mundo fantástico. O estilo do Vencys, que lembra muito animações a la Cartoon Cartoons, recheia a trama de pequenas gags visuais e dá, com perfeição, o ritmo de uma caçada louca. Mesmo curtinha, a HQ abre espaço para um twist bem divertido no final.

Dia do Porko, de Vencys Lao. Independente, 32 páginas, preto e branco. RS10,00.
Nota: 8

Guia Culinário do Falido

Junte cinco quadrinistas comuns (pero no mucho), adicione relações alimentares pouco saudáveis, misture tudo e… voilá! Nasce o Guia Culinário do Falido, da Balão Editorial! Leo Finocchi (o Pelúcio); Marília Bruno (a Letícia); Felipe 5Horas (o CincoHoras); Fernanda Chiella (a Fer) e Samanta Flôor (a Samanta mesmo) se juntam para contar, cada um no que lhe apetece, histórias de comida e seus preparos. Se pra quem já acompanha a Samanta no Toscomics não é surpresa nenhuma vê-la falando de comida (sério, ela é uma chef de dar inveja no Change), os demais entram na brincadeira com muita moral. Assim, você pode aprender a fazer macarrão abandonado com o Pelúcio, hamburguer com a Letícia, a cozinhar de cueca com o CincoHoras e com o gato (er… gata) com a Fer. Uma medonha receita de coxinha (FORA GILMA! CUNHA-GUERREIRO-DO-POVO-BRASILEIRO! BOLSOMITO!) baseada em Mad Max Fury Road fecha o álbum, que é curtinho mas dá as caras de um filão a ser mais explorado: espero que Guilherme Kroll e cia já estejam providenciando continuações!

Guia Culinário do Falido, Balão Editorial. 28 páginas, preto e branco, R$10,00.
Nota: 9

Bete Vive: Jonatan, de Lita Hayata

Bete é uma jovem adulta que deixou a família no interior para viver na grande cidade. Lá ela tem seus amigos, mas divide o apartamento com uma estranha figura: a Morte. O que gera um problema dos diabos quando seu irmão mais novo, Jonatan, vem passar uns dias com ela para prestar vestibular. Se não bastasse ter de evitar as investidas da Morte sobre o garoto, Bete ainda precisa enfrentar de frente o fantasma que ela criou sobre si própria para a família! Resumo feito, é preciso dizer que a arte da Lita é incrível! Tem uma fluidez e uma beleza impressionantes: é uma arte bastante econômica, que usa de poucos traços para contar muito. Entretanto, como quadrinho não é só arte, Bete Vive Jonatan sofre com alguns problemas, sobretudo de roteiro. A trama deixa vááááárias coisas subentendidas, não-ditas, dando a impressão de que você pegou o bonde andando (talvez um reflexo de ser o desdobramento de uma webcomic…). É o caso do lance com a namorada do Jonatan, ou mesmo a relação de Bete com a Morte – ao mesmo tempo que ela parece ser algo metafórico (a morte ronda a vida de Bete), ela também é representada de maneira concreta demais e sem maiores explicações. Do ponto de vista editorial, o gibi foi lançado via Catarse e teve problemas por isso também. Coisinhas bobas, tipo… não ter o nome da autora na capa do gibi! Ou não existir um prefácio ou introdução dizendo ao leitor se ele precisa (ou não) procurar a webcomic antes de ler o impresso, ou introduzindo (ui!) mesmo o leitor, contando do universo da HQ e tal, coisa pequena, tipo os dois parágrafos de apresentação que constam no Catarse.
De qualquer forma, todo mundo precisa começar de algum lugar, e Bete vive: Jonatan é um bom começo.

Bete vive: Jonatan, de Talita Hayata. Independente, 56 páginas, preto e branco, R$20,00.
Nota: 5,5

Alan Moore, o mago supremo, de Caio Oliveira

Autor da camiseta mais circulante em eventos de quadrinhos (justamente a capa do gibi), Caio Oliveira pega o velho bruxo de Northampton e outros roteiristas do mundo dos comics (Grant Morrison, Michael Bendis, Neil Gaiman, Frank Miller e outros) numa paródia muito bem sacada ao Dr. Estranho. Tudo é muito bem amarrado, com boas sacadas construídas sobre momentos reais vividos pelos roteiristas. Feito quase em formatinho, é um gibi muito legal para os leitores mais velhacos se divertirem com passagens conhecidas da história dos comics, apesar de as notas no final (Explicando a Piada) sejam claras o suficiente para que o leitor novato também se divirta, e tenha certeza de que não está lendo um gibi do Morrison!

Alan Moore, o mago supremo, de caio Oliveira. Independente, 32 páginas, colorido. R$10,00.
Nota: 8,5

Mortalha, de Caio Yo

Deixando de lado a ficção científica de Behalter, Caio Yo em seu lançamento deste ano, nos leva até à Idade Média para acompanharmos Bartolomeu, um escudeiro desamparado com a morte recente de seu cavaleiro, Sir Baptiste. A tragédia abre espaço para que Bartolomeu reflita sobre esse momento inescapável da vida, suas consequências e desdobramentos. Mais do que isso, enfrentar a morte permite que o escudeiro se dê conta da grande importância desse momento: só a Morte é capaz de dar sentido a vida. Outra vez, o trabalho gráfico do Caio é digno de nota: a HQ tem uma arte muito bonita, e o tratamento de verniz localizado na capa gera um efeito (sutil) muito legal. Tudo está no lugar, as páginas pretas no meio da HQ, toda a miríade de simbolismos visuais para falar da morte… enfim, um gibi muito bacana mesmo, que vale a pena.

Mortalha, de Caio Yo. Independente, 68 páginas, preto e branco, R$15,00.
Nota: 8,5

Na outra margem, de João Henrique Belo

Em seu primeiro trabalho solo, meu parça João Henrique Belo (o John Beautiful) utiliza-se uma pequena ponte num interior do Brasil pra apresentar um caso de amor e poder. Quando Zé Mendigo decide consertar, por conta própria, a ponte caindo aos pedaços da cidade, mal sabe que vai acabar se envolvendo numa trama comandada pelo coroné local. Uma história curta, emocional, e que deixa espaço para outros desdobramentos. Enfim, não confie no texto da contra-capa, que quase estraga o gibi: leia que vale a pena.

Na outra margem, de João Henrique Belo. Independente. 24 páginas, preto, branco e alaranjado, R$10,00.
Nota: 8,0

All Hipster Marvel, de Caio Oliveira

Eu já tinha falado dessa série de histórias de uma página com versões hipsterezes dos heróis Marvel que o Caio Oliveira vinha fazendo. Pois bem: aproveitando o FIQ, as páginas foram impressas neste gibi, que reúne tudo o que já havia sido publicado na fanpage do Caio. Pra quem só quer ler as coisas mesmo, pode soar meio sem sentido, mas para o Grêmio Recreativo Fetichistas do Papel é compra certa: a leitura dura menos que uma cagadinha e você vai se divertir bastante!

All Hipster Marvel, de Caio Oliveira. Independente. 20 páginas, colorido, R$10,00.
Nota: 8,5

É isso aí, povo! Qualquer hora eu volto!

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