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A gente lemos: Canário Negro – O som e a fúria

“Dinah Lance está causando furor no mundo da música como vocalista da banda recentemente rebatizada como Canário Negro. Agora, usando o apelido de DD, a garota com a voz mais singular (e poderosa) do Universo DC está a um passo do estrelato. Mas, por algum motivo misterioso, o grupo se tornou um imã para confusão e a maioria de seus shows termina em briga e caos. E se os integrantes não conseguirem controlar essa violência toda, tudo pode acabar… inclusive suas vidas!”

Era 1999 quando eu conheci a Canário Negro. Exatamente 17 anos atrás, a editora Abril colocava nas bancas de jornal a edição #21 do gibi Os Melhores do Mundo, na qual estreava o arco “Liga da Justiça Ano Um” (que a Eaglemoss republicou este ano). Naquele arco o monstruoso Mark Waid apresentava uma visão humana dos maiores heróis do mundo – entre elas Dinah Drake, a Canário Negro, uma florista que era a herdeira de uma grande heroína já aposentada, sua mãe, Dinah Lance.

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De lá pra cá, acompanhei a personagem em fases boas (o gibi com o Arqueiro Verde) e outras não tão boas assim (as Birds of Prey de Gail Simone), mas um certo agrado pela personagem permaneceu, mesmo entristecido pelo subaproveitamento dela. Quando a DC anunciou uma nova fase com a personagem, pós Novos 52, sem grandes amarras cronológicas, eu me animei. Esperei e obóviamente arrumei uma correria danada quando o encadernado chegou às bancas. Mas era o Marinho quem sabia o que me esperava:

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Veja bem, a ideia (não parece mas) é boa: Dinah (ou DD) é a vocalista de uma banda, a Canário Negro (a DC até lançou um EP do grupo, que pode ser ouvido aqui), que roda os EUA em turnê se envolvendo em altas confusões. Assim, nesse plot bobinho (lembrem que Dinah tem poderes vocais) estava a chance de uma série despretensiosa e divertida. Simples assim: gibi para atender a lei de Ultra (ler numa cagada), se divertir um bocado e seguir com a melancolia da vida.

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O problema é que Brenden Fletcher (que também escreveu Batgirl) não consegue desenvolver o roteiro. Black Canary não vai a lugar nenhum, os acontecimentos se sucedem sem necessariamente se desenvolver. A coisa toda tem um gosto rançoso de cópia preguiçosa (nisso Annie Wu também tem sua responsabilidade, com a arte descoladinha cheia de inserções de fora dos quadrinhos) de Scott Pilgrim Contra o Mundo. Os personagens não se aprofundam, a trama pula e se desdobra sem grandes tensões, sem climáxezes e sem graça. Falta o despirocamento de Scott Pilgrim, ou sua veia multimídia (por que não chamaram logo o próprio Bryan Lee O’Malley?). Os vilões, a trama de fundo, enfim, é tudo muito furado.

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Um caso sintomático dessa desorganização de roteiro é o volume final presente no encadernado (Black Canary #7): soluções apressadas (e forçadas) vão sendo enfiadas goela abaixo do leitor. Tudo é muito fácil, as coisas se desenrolam sem peso e o final é óbvio (o bem vence o mal, espanta o temporal, azul e amarelo tudo é tão belo!). A página final, o gancho para a sequência, só serve para te dar uma certeza: você não vai voltar para o próximo volume.

Há ponto positivo? Há. Se tem algo que o gibi pode apresentar de bom é ter uma “trama” exclusivamente focada em mulheres sem apelar para voadoras de perna aberta e closes nas xerecas, bundas e peitos  o que certamente tem uma grande influência de as artistas serem duas mulheres – além de Annie Wu, Pia Guerra (de Y, o último homem) também assina os lápis. Além disso, a história também passa longe de romancinhos bestas, mas isso é só. Como eu disse antes, já passou da hora da indústria vencer o básico: ter grupos não maioritários na frente dos holofotes, representados de maneira minimamente digna é o básico do básico. Passou da hora de irmos além disso.

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Sem amarras cronológicas e com uma premissa pra lá de fora do óbvio, o novo título da Canário Negro poderia nos dar isso.

Não deu.

Não passou nem perto.

Canário Negro – O som e a fúria. De Brenden Fletcher (roteiro), Annie Wu e Pia Guerra (arte), Panini Comics (junho/2016). 164 páginas, R$ 22,90.

 

Nota: 3

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