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A gente vimos: Caça-Fantasmas (2016), por Algures

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Ultimamente parece que toda vez que faço resenha de algum filme, eu tomo o ponto de partida da memória afetiva. Não sei se sou eu me repetindo ou Hollywood, mas meu palpite é que sejam os dois. Afinal, os dois tipos de filmes mais potencialmente lucrativos na indústria hoje são os super-heróis e as franquias de 20-30 anos atrás. E não é por acaso; há 2 ou 3 décadas atrás os espectadores eram jovens o suficiente para fazer de suas experiências cinematográficas memoráveis (mesmo quando o filme era, na verdade, ruim) e hoje são adultos o bastante para serem capazes de comprar seu próprio ingresso de cinema – e levar a família toda junto. Fora o fato de que, em décadas anteriores muitos países, que hoje são grandes mercados de cinema, não eram abertos para filmes estrangeiros, e o resultado é que muitos deles até conhecem filmes como Robocop ou Caça-Fantasmas, mas nunca foram tão ligados a eles na infância como os americanos.

Corta para 2016. Por quê fazer um filme dos Caça-Fantasmas, além dos motivos mercadológicos óbvios? Difícil responder a essa pergunta, mas a verdade é que remakes serão feitos quer o público que ama o original queira ou não, então o negócio é aproveitar ou ignorar conforme nossa conveniência. Eu mesmo já tive problemas com remakes no passado, mas hoje tenho uma relação bem mais saudável com eles.

Nesta nova versão de Caça-Fantasmas, Erin Gilbert e Abby Yates são cientistas que no passado escreveram um livro sobre fantasmas. A primeira tentou enterrar esse passado e construir uma carreira respeitável na academia, enquanto a outra continuou seguindo o objetivo de provar que fantasmas são reais. É claro que isso separou as duas, e anos depois elas são obrigadas a se reunir novamente por conta de eventos estranhos que ocorrem na cidade. A elas juntam-se Jillian Holtzmann, uma engenheira malucona, e Patty Tolan, uma funcionária do metrô nerd de história que sabe tudo sobre a cidade.

Este Caça-Fantasmas tem diversos pontos positivos e diversos negativos. A começar pela história, que apesar de não ser nada demais, desenvolve bem melhor o mundo em que os personagens vivem. A consequência disso são personagens com uma bagagem que os personagens do filme anterior não tinham, e o filme explora isso sem gastar muito tempo do filme. Outro ponto positivo é que esse Caça-Fantasmas funciona como uma espécie de “ano um” da franquia, mostrando não só a origem do grupo, mas como os equipamentos foram construídos, de onde veio o logotipo, como conseguiram o carro, e por aí vai.

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As atuações estão boas o bastante, mas não fogem muito daquilo que a gente já viu em outros filmes, especialmente Kristen Wiig e Melissa McCarthy, que já provaram serem capazes de atuar bem mais do que apenas no piloto automático. O destaque para mim fica por conta de Leslie Jones, que apesar de ter um jeito bem específico de atuar (vindo da escola SNL), consegue se sair muito bem como uma personagem engraçada, sem ser estereotipada e exagerada sem perder a humanidade.

Quanto à comédia, bem, este é um pouco mais complicado porque humor, creio que mais do que qualquer outro estilo narrativo, é subjetivo. Eu tenho problemas com os “filmes de gênero” de Hollywood, o que inclui as comédias, mas costumo gostar dos filmes do diretor Paul Feig (sendo Spy por enquanto meu favorito). Então não foi muita surpresa que eu tenha saído realmente satisfeito da sessão de cinema depois de assistir o filme; apesar de um ou outro exagero, Feig consegue construir a comédia a partir da história, então quando o humor funciona, funciona muito bem.

Mas é claro que nem tudo são flores neste remake. Enquanto McCarthy, Wiig e Jones atuam como pessoas reais, Kate McKinnon decide seguir a rota de um personagem saído de uma esquete do SNL, o que funcionou para muitos, pelo que eu vi, mas não funcionou tanto assim para mim. Os efeitos especiais são bem feitos o bastante, mas não é nada que se destaque ou seja um dos pontos mais altos do filme (o 3D, no entanto, vale a pena, pois eles conseguiram fazer em diversos momentos com que coisas saíssem para “fora” da tela, como os raios de energia, de um jeito bem diferente do que vimos nos filmes 2D convertidos para 3D).

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Mas talvez o ponto mais negativo que eu colocaria para esse novo Caça-Fantasmas tem sido um problema crônico nos blockbusters de hollywood: a “esquecividade” (QUE?) destes filmes. Este foi um ano em que assisti diversos blockbusters que gostei quando vi no cinema, mas dias depois tinha dificuldade de lembrar de momentos memoráveis (dois exemplos recentes foram X-men: Apocalipse e Independence Day: Ressurgence). Infelizmente, o mesmo ocorre com Caça-Fantasmas: foi um filme que achei muito engraçado quando vi no cinema, mas de cabeça não consigo lembrar de muitas piadas memoráveis. E este tipo de coisa diz muito sobre o rumo para o qual estes filmes têm caminhado.

Ah, e tem participações/easter eggs de todos os principais membros do elenco original (inclusive do falecido Harold Ramis), com exceção do Rick Moranis. Apenas a participação de Ernie Hudson é relevante, o resto é absurdamente descartável (e desnecessário).

No fim das contas, Caça-Fantasmas provavelmente vai decepcionar muita gente por motivos diferentes. Vai decepcionar quem esperava um filme memorável e vai decepcionar os haters que queriam que esse filme fosse um desastre. Não é um nem outro. É só mais um blockbuster típico de Hollywood. Para o bem e para o mal.

Nota: 6,9735

Algures

Meu nome é Algures e tenho 41 anos (teria se tivesse vivo). Morri aos 13 anos tentando ouvir o Podcast MDM proibidão. Envie esse post para 20 pessoas para que eu possa descansar em paz. Caso não repasse essa mensagem, vou visitar-lhe hoje à noite e você vai se arrepender. Dia 15 de julho, Rafael riu dessa mensagem e 27 anos depois morreu em um acidente de carro. Não quebre esta corrente a não ser que queira sentir minha presença (atrás de você)

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