A Gente Lemos – Star Wars: Marcas da Guerra
Sempre quando se fala em Star Wars, a segunda coisa em que pensamos, talvez, seja na expressão (hoje popular) “universo expandido”.
Muito antes da Marvel começar a sequer engatinhar em erigir seu edifício transmídia monumental, a megassaga de George Lucas já tinha dezenas de livros, quadrinhos, especiais de natal (urgh) e spinoffs (como Caravana da Coragem – urgh²) destinados a enriquecer a mitologia da franquia e – principalmente – encher os bolsos do barbudo.
Mas a despeito desse objetivo principal, o universo expandido tornou-se com o passar dos anos objeto de muito apreço e carinho por parte da enorme legião de fãs da série. Lá era onde os agora leitores poderiam continuar a se maravilhar com as aventuras dos personagens da tela grande e também com tantos outros que surgiram depois, ou mesmo no intervalo entre o Episódio VI e A Ameaça Fantasma (urgh³). Era divertido.
Porém, além de divertido também era tarefa para poucos: lembro que pelo menos aqui no Brasil, quando eu era criança, era bem complicado obter coisas do UE pois a maior parte delas não chegava até aqui. Ou você tentava achar um pocket book em inglês ou simplesmente ignorava boa parte desse novo cânon, o que muitas vezes acabava acontecendo. Daí depois que a Disney adquirindo os direitos sobre Luke, Leia, Han e todo o resto decidiu sepultar de vez toda a cronologia suplementar, esse desejo de acompanhar mais do universo Guerra nas Estrelas pareceu algo cada vez mais distante.
Ou não.
Junto com os novos filmes, a empresa do rato achou por bem iniciar uma nova rodada de expansão da saga, reunindo todos os romances anteriores sob um selo próprio (Legends) e limpando o terreno para estabelecer novas tramas e estender o escopo da narrativa de acordo com seus novos padrões, de maneira uniforme e planejada (além, claro, de tirar os direitos de vários autores da jogada e poder possuir, de fato, tudo o que vier a acontecer sob a tutela da marca). E o primeiro E um desses esforços é a Trilogia Aftermath, escrita por Chuck Wendig e traduzida para o português em terras tupiniquins pela Editora Aleph.
A editora, que já havia ficado conhecida por estas bandas por (re)lançar diversos clássicos da ficção científica contemporânea – Asimov, Clarke, Dick, dentre outros – com esmero exemplar, lançou o primeiro volume da trilogia que busca conectar o final de O Retorno de Jedi com o próximo filme da franquia, O Despertar da Força, em tempo recorde: o livro, que foi lançado na gringa em setembro desse ano, chegou ao QG do MdM não faz um mês (mesmo que numa versão não revisada). E o resultado não poderia ser melhor.
A história é competente. Wendig é um bom escritor que resolve suas cenas de maneira dinâmica sem se prender muito em descrições detalhadas e preza mais pela fluidez das cenas e pelo desenvolvimento sutil dos personagens, que aliás são uma nota à parte da nova trilogia. Eles captam muito daquilo que sobrava na trilogia clássica e que faltava na nova (além do bom-senso) – personagens com os quais você pode se importar e que funcionam bem sozinhos. Mas isso não quer dizer que o livro não tenha suas “participações especiais” – elas estão lá e são para gregos e troianos (leia-se: “hardcore” e “modinhas”).
A trama é interessante por mostrar o que sucedeu ao final do Império no último filme da primeira trilogia, mostrando que ao final de uma guerra existem muito mais questões que só uma cerimônia de entrega de medalhas e os créditos da produção. Assim como no final do Império Romano, a queda do Imperador Palpatine junto com seu fiel general Darth Vader deixou uma galáxia em frangalhos, miserável, esperando pela próxima virada das marés. Será que a Aliança Rebelde (que agora se chama “Nova República”) conseguirá dar unidade ao novo sistema de governo? E o Império, terá de fato sido extinto? Ou será que ainda existem focos de resistência?
No final o livro serviu bem ao que se propôs: recapitular brevemente os acontecimentos da Batalha de Endor e de resumir como as coisas acontecem daí por diante, além de já estabelecer algumas pontes com o aguardado episódio VII (encerrando a história, inclusive, no “novo Tatooine” da franquia – Jakku). O único ponto negativo, até agora, é que por se tratar de uma trilogia, não sei até que ponto é interessante ter um elemento de ligação com o novo filme que termine depois deste, ou seja, teremos o primeiro livro agora em 2015 e o último sendo lançado talvez entre os episódios VIII e IX. Mas aposto que isso é algo que já foi pensado pelos executivos da Disney, muito mais inteligentes e bem pagos que eu.
Recomendo a leitura, ainda mais que devido ao lançamento do filme (É hoje! Já comprou seu ingresso?) andam rolando umas promoções bem bacanas por aí. Vale a compra também para apoiar o trabalho excepcional da Aleph, que anda se esforçando para entregar ao mercado consumidor dito “nerd” o que ele quer, numa apresentação digna pelo preço cobrado.
Ah! E vale lembrar que a editora também está lançando a série Legends, tendo inclusive posto nas prateleiras recentemente o último livro da Trilogia Thrawn, O Último Comando, cujo autor – Timothy Zahn – esteve recentemente no Brasil, então é uma ótima oportunidade para os que querem conhecer mais sobre os “mistérios da Força”.
Enfim, escrevi pra cacete. Deixa eu correr aqui pra pegar a última sessão do filme novo no GLORIOSO cinema do Shopping Nova América, lá em Del Castilho. E não, não vou ler comentário nenhum, folodam-se vocês e seus spoilers.
Star Wars: Marcas da Guerra
Chuck Wendig
Editora Aleph
404 páginas
Nota: 8,5