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Homem-Aranha 3, por Bugman

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Os dois primeiros filmes me fizeram ser exigente com qualquer seqüência. Não estava nem um pouco disposto a abrir mão disso e o fato de saber que muitas críticas qualificavam o filme como “com muita ação e pouca magia” – conforme eu temia – me fizeram achar que estava diante da mesma decepção que tive com Superman Returns. Será que eu estava certo?
Ah sim, tem spoilers neste texto, ok?

Discordo de qualquer comentário de que Homem-Aranha 3 seja decepcionante ou algo do tipo. Verdade seja dita, mais uma vez Raimi surpreende e mostra seu inegável talento de diretor ao dirigir um filme melhor do que o segundo e que chega bem próximo do que o primeiro foi. É para aplaudir de pé.
Peter Parker (Tobey Maguire), pela primeira vez em sua vida, tem tudo o que quer. Finalmente conseguiu equilibrar suas duas vidas, está bem no seu relacionamento com Mary Jane Watson (Kirsten Dunst) e o que é mais importante: todos o amam. Isso até vir mais um chamado à batalha: a descoberta de que o verdadeiro assassino de seu tio está solto e que ele agora tem superpoderes.
Todo herói tem seu metrón, sua medida, a qual ele não pode e nem deve ultrapassá-la. Quando Édipo mata uma comitiva e seu rei, ultrapassa seu metrón, e, por isso, é punido pelos deuses. Ele mata seu próprio pai e se casa com sua mãe. É o crime da soberba, do herói se achar igual aos deuses e ser punido por isso.
Da mesma forma, Parker vive um instante de soberba. Ele está muito mais confiante do que antes e acredita que sabe lidar com todas as situações e que nenhuma vida é mais difícil do que a sua, o que justificaria se irritar e se exibir. Enfim, o crime da soberba traz a punição para que o herói lembre que é humano. Então se prepare, Aranha, porque você vai penar neste filme.
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O grande mito que se desenvolveu sobre Homem-Aranha 3 é sobre seu roteiro. Sou muito exigente com roteiros ao ponto de dizer que em alguns filmes ou HQs eles simplesmente inexistem. Por isso mesmo me sinto confortável em dizer que o roteiro deste filme é um dos mais ousados, criativos e perfeitos que já vi.
Desde o início, o excesso de inimigos parecia ser algo que acabaria com a história. Os irmãos Raimi (o diretor e Ivan Raimi) conseguiram a proeza de fazer um roteiro verossímil e que aborda os personagens com a devida profundidade.
Betty Brant (Elizabeth Banks) tem mais espaço, Gwen Stacy (Bryce Dallas Howard) é a adolescente que zilhões de fãs do aranha aprenderam a amar e o próprio Capitão Stacy está bem caracterizado para possíveis seqüências. Não adianta reclamar do excesso de personagens, isso foi uma proposta do filme – e é dentro dessa proposta que ele deve ser julgado – que dentro disso conseguiu atender. Nunca vi um filme com tantos personagens e tão bem amarrado.
A maior queixa dos fãs ou críticos de cinema já começa a cair quando não entendem que os filmes do aranha – assim como todos os filmes de herói, com a exceção do monótono Superman Returns – são filmes de ação. O que não significa que eles possam abrir mão da dramaticidade que seus personagens possuem. Sim, HA3 não é um drama como Dançando no Escuro, de Lars Von Trier, mas está longe de ser um filme com um monte de explosões e que não leve a pensar.
É um filme que comove, alegra, faz pensar e também faz chorar. É uma aventura dramática e não apenas uma aventura. Mesmo com tanta coisa para contar o roteiro consegue manter sua verossimilhança e não deixa o ritmo cair nem soar rápido ou superficial demais.
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Sobre os atores: sem dúvida alguma, absolutamente todos estão melhores em relação aos primeiros filmes. Até a contestada Kirsten Dunst dá a luz de sua graça e traz de volta a fantástica atriz de Entrevista com o vampiro e As Virgens Suicidas, interpretando a Mary Jane com mais consistência de toda trilogia. Mesmo o fraco James Franco (Harry Osborn) convence em várias cenas de forte dramaticidade.
Tobey Maguire dá um grande espetáculo na história envolvendo-se em situações muito mais difíceis. Não é apenas um nerd que ele interpreta, mas um nerd que fica maligno, que quer causar ciúmes e agredir. Poucas vezes o lado negro de um herói foi tão bem idealizado. Se o filme surgisse antes da nova trilogia de Star Wars, George Lucas chamaria Maguire para ser Anakin Skywalker.
Destaque para os dois novos vilões: Topher Grace (Edward Brock Jr.) está ótimo como uma contraparte de Peter Parker e Thomas Haden Church dá uma nova vida ao Homem-Areia (Flint Marko). Seu vilão é daqueles que envolve a platéia que consegue…Entendê-lo e sentir pena dele. Piegas? Nem tanto…
A direção de Raimi conduz o filme com uma elegância e sutileza jamais vistas nos filmes finais desse tipo de trilogia. Sim, é um filme de ação, mas as cenas de drama são carregadas e fortes. E quando eu falei de filme de ação: que cenas maravilhosas… nenhum, absolutamente nenhum erro nas cenas que são de perder o fôlego.
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Ver Peter agredindo Mary Jane é chocante demais, ver dois grandes amigos se despedindo para sempre é de embargar os olhos e ver um herói ser capaz de perdoar é para segurar firme no braço da cadeira. E isso só é possível porque o roteiro e a atuação fenomenal de Church fazem com que o espectador se envolva com Marko e o perdoe ao mesmo tempo que ao amigão da vizinhança.
Pela primeira vez na trilogia, Raimi deixa as relações paternais de lado para falar da fase difícil da passagem para a vida adulta. Se nos anteriores, Peter conseguia ser mais feliz do que seus “pais” (Ben Parker, Norman Osborn e Otto Octavius), neste ele aprende que na vida adulta há os altos e baixos, mas você nunca deve se esquecer de quem ama você e quem você ama.
Acima de tudo, é um filme que fala sobre o perdão e sobre a responsabilidade com quem amamos. É um filme para coroar a criatividade e talento de um grande diretor. Sam Raimi pode bater no peito e dizer que dirigiu a única – rigorosamente a única – grande trilogia de um super-herói. Perfeita, arrebatadora e um presente para os fãs.
Homem-Aranha 3 encerra um ciclo de muita emoção, aventura e beleza que foi tudo que os fãs de quadrinhos sempre quiseram ver tantas vezes. Dá a impressão que esperamos muito, muito tempo por isso. Pouco importa se teremos ou não um quarto filme, esse é o fim de uma grande saga e a afirmação absoluta de que o Homem-Aranha é o personagem mais popular entre os amantes dos quadrinhos e um dos maiores ícones desta era.
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É para chorar, se alegrar e agradecer que pudemos ver tudo isto. Este é o Homem-Aranha, é quem ele é e é o que ele representa. E esta, é a sua história.
Curiosidades (Spoilers):
– O simbionte caindo do céu, mais parece uma metáfora que Raimi encontrou para definir sua própria opinião sobre o personagem: algo sem lógica e, completamente, despropositado. Como se isso não bastasse, o fato do diretor ter aceitado incluir o personagem em seu, possivelmente, último filme da franquia deixou bastante gente encucada.
A explicação agora é óbvia: Raimi topou colocar o Venom em um filme com três inimigos, quando ele não poderia ser o grande vilão e o matou no mesmo filme. Ao contrário do que alguns fãs pediram ou achavam, ele não deixou o personagem como gancho em um próximo filme tomando o cuidado de se certificar que o maldito simbionte não passaria a ser mais do que um vilão coadjuvante como ele sempre deveria ter sido!!!
Realmente, Raimi mostrou quem manda.
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– Outro dado importante: o mandamento básico de roteiro é: todo filme precisa de um ótimo final, mas toda platéia perdoa qualquer absurdo nos dez primeiros minutos. Agora pensem um pouco: reparam que o simbionte surge antes dos primeiros cinco minutos de filme? E por isso nem pensamos muito em de onde ele veio.
Sim, foi um grande furo de roteiro dizer que um simbionte caiu do espaço, mas ao mesmo tempo foi um furo que não incomoda em momento algum do filme, apenas depois dele. E olhe lá.
– Há um dado curioso: Harry Osborn morre de forma semelhante a Norman…PORÉM, durante o filme o comentário de Mary Jane “nem cicatriz ficou” deixa evidente para o espectador que Harry possui um fator de cura. Será que isso foi algo solto ou é alguma “deixa” para uma ressurreição? Espero que não…
– O final do Homem Areia deixa a pergunta: ele se desintegrou ou simplesmente foi embora? Ele vai voltar? Como será? Talvez seja uma boa referência para os próximos filmes fazerem.
– Cabelo de emo, Mary-Jane com aquela roupa de garçonete…Ninguém me convence que Raimi não anda vendo Rebeldes.
– A cena final do filme anterior mostrava uma preocupada Mary-Jane vendo o aranha em ação. Nesta é apenas Peter e MJ dançando juntos uma música lenta. O herói pagou o preço de sua soberba e aprendeu que no fim das contas o herói, como o homem comum, apenas busca o amor. Que bom que o Aranha está feliz, todos nós também estamos.
Nota: 9Clap! Clap! Clap! Clap! Clap!
Bugman chorou novamente. Desta vez, como um ninja sensível: silenciosamente e no escuro…

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