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Nerd Show: Gabriel Bá e Fábio Moon

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Gabriel Bá e Fábio Moon. Os dois são conhecidos no mercado como gêmeos gênios. Trabalhos como Meu coração não sei porque e as inúmeras HQs autorais publicadas em um dos mercados mais competitivos do mundo comprovam o apelido carinhoso. Então, se você não conhece o trabalho dos caras, o Nerd Show de hoje é um bom começo. Depois corra e compre logo algo dos caras. É bom demais!

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:: Como vocês pagam as suas contas? Vivem apenas de quadrinhos? Acham que isso é possível?
Bá e Moon: Pagamos as contas só com desenho, mas não só quadrinhos. Fazemos ilustrações para jornais e revistas, além de storyboards para propaganda. É possível viver de quadrinhos se você procurar oportunidades de trabalho no exterior, mas também não é fácil.
:: Quais são as suas maiores influências?
Bá e Moon: Nossas maiores influências são o Laerte e o Will Eisner, que apresentam pessoas de verdade. Eles contam histórias cotidianas, antropológicas, com desenhos onde a expressividade dos personagens e o cuidado com o cenário e a diversidade de pessoas ficam bem aparentes.
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Os gêmeos com Frank Miller!!! o/

:: O que falta ao Brasil para ter um mercado de verdade de HQs? Mais autores, mais investimento das editoras? Leis de incentivo?
Bá e Moon: Falta profissionalismo, por parte de todo mundo. As editoras têm que arriscar mais e investir mais nos autores. Os autores têm que produzir mais e investir mais na qualidade de seus trabalhos, tanto nas histórias quanto na arte.
:: Falando em lei de incentivo, o que vocês acham da idéia?
Bá e Moon: Acho que buscar apoio e recursos com lei de incentivo para possibilitar a produção de quadrinhos sempre é bom e, considerando que fazer quadrinhos não é a atividade artística mais cara do mundo, deveria ser fácil encontrar empresas dispostas a patrocinar o mercado de quadrinhos. Acho que isso funciona muito bem fora de São Paulo, mas aqui, as empresas preferem investir em produtos que tenham mais visibilidade, como filmes, peças de teatro e exposições, mesmo que acabem gastando mais dinheiro.
:: Muitos autores brasileiros estão lançando HQs no mercado europeu e americano antes de lançarem no Brasil. O que acham disso?
Bá e Moon: Tanto o mercado europeu quanto o americano são maiores do que o brasileiro e possibilitam com mais facilidade um certo retorno financeiro. Não é fácil publicar lá fora, mas não é mais difícil do que publicar por aqui. Receber pelo seu trabalho possibilita você poder se concentrar somente nos quadrinhos, sem ter de fazer milhões de ilustrações espalhadas por várias revistas todos os meses. Isso é um fator determinante. Outro é a visibilidade do seu trabalho publicado lá fora. Você pode ganhar (ou perder) mais respeito por publicar lá fora, o que não é garantia quando você publica seu trabalho por aqui.
:: Como foi produzir o primeiro fanzine de vocês? E como foi a recepção do público ao material?
Bá e Moon: Todos os nossos primeiros fanzines foram feitos para o público à nossa volta. Fizemos o Vez em Quando no terceiro colegial para os amigos da escola, que não tinham o costume de ler quadrinhos. O mesmo ocorreu quando fizemos a Ícones no primeiro ano da faculdade. Esse público que não tinha o hábito dos quadrinhos repara muito mais na história, na personalidade dos personagens, do que no desenho em si, se era parecido com os gibis da banca ou não, e acho que isso já nos direcionou mais para a ênfase que colocamos na história. Quando começamos o fanzine 10 Pãezinhos, voltamos a vender o fanzine na faculdade e, mais uma vez, a maioria dos nossos leitores não lia quadrinhos. Eram amigos da faculdade, do trabalho, colegas psicólogos da minha mãe. As histórias do início do 10 Pãezinhos refletem esse público cotidiano, onde os personagens são pessoas normais com quem todos podem se identificar. Sempre tivemos uma boa recepção do público, principalmente em relação às histórias. Quanto ao desenho, nossos maiores críticos sempre fomos nós mesmos.
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:: Vocês apareceram no mercado criando fanzines de altíssima qualidade. Como foi a virada de fanzine para revistas profissionais? Foi uma transição rápida?
Bá e Moon: Depois que nós publicamos O Girassol e a Lua e o Meu Coração, Não Sei Por Que. em livros (pela Via Lettera), paramos de fazer o fanzine porque não tínhamos mais tempo para sair vendendo de mão em mão, e achamos que esse contato pessoal com o público é grande parte do sucesso das vendas do fanzine. Fizemos histórias para a FRONT, para o Dez na Área, Um na banheira e ninguém no Gol e para uma exposição na Espanha, e acho que acostumamos o público com um pouco mais de qualidade gráfica. Nós mesmos nos acostumamos com esse padrão de qualidade, com a durabilidade dos livros. Quando voltamos a lançar nosso próprios trabalhos com a revista Feliz Aniversário, Meu Amigo, não dava para voltar para o xerox, pois queríamos criar algo que as pessoas não quisessem jogar fora depois de lido.
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:: Vocês foram pela primeira vez às convenções americanas como fanzineiros ou já tinham conversas profissionais agendadas?
Bá e Moon: Fomos à nossa primeira Comic Con em 1997 e também foi a ano que começamos a fazer o fanzine dos 10 Pãezinhos. Fomos sem saber como seria, sem conhecer nada do mercado, com páginas a lápis do ROLAND debaixo do braço pra mostrar e ver se alguém queria publicá-lo. Pegamos várias filas, mostramos o trabalho pra várias pessoas, mas o destino do ROLAND era mesmo ser autopublicado. O que vimos aquele ano na Comic Con, a desmistificação de nossos ídolos e de uma magia inatingível do mercado americano, foi crucial pra levarmos nosso trabalho a sério e pra contar “O Girassol e a Lua” no fanzine.
:: Vocês lançaram recentemente três trabalhos: Casanova (arte do Gabriel Bá) e De: Tales (reunindo trabalhos dos dois já publicados no álbum 10 pãezinhos: Crítica) nos EUA e Um Dia.Uma noite no Brasil. Seria o melhor momento na carreira de vocês, até hoje? Como é a sensação de lançar tanta coisa de uma só vez? Como é lançar revistas nos EUA com editoras fortes por trás e lançar no Brasil de forma independente?
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Bá e Moon: Este é o melhor momento da nossa carreira até agora, mas estamos somente começando. Quanto mais você trabalha, mais trabalho você tem. Pode parecer um pleonasmo, mas é um fato que não acontece somente nos quadrinhos, mas em várias áreas. Quanto mais trabalho você faz, mais você aparece e as pessoas acabam querendo ver mais coisas suas ou trabalhar com você. Produzir quadrinhos demora muito mais tempo do que o público acredita e, às vezes, você acaba ficando meses trabalhando secretamente num projeto que só vai ser divulgado quando for publicado. Os projetos têm a hora certa de divulgar e publicar e pode acontecer tudo ao mesmo tempo.
É uma ótima experiência publicar com editoras grandes no mercado americano, pois elas fazem muito bem este trabalho de promoção e divulgação dos projetos, além de respeitarem os autores e nos dar a possibilidade de ganharmos algum dinheiro. Nós seguramos nossas histórias até hoje pra publicá-las da forma certa na hora certa e esta hora é agora, com o De:TALES. Finalmente mostramos as nossas próprias histórias para o mercado americano e o resultado não podia ser melhor. Aqui no Brasil, onde continuamos a pensar em projetos longos que funcionem com editoras, também achamos que podemos contribuir mais para o mercado nacional com revistas independentes. São projetos diferentes. No fundo, tentamos pensar em histórias que possam ser contadas em qualquer lugar.
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:: E esse novo projeto, The Umbrella Academy? Já pode falar algo sobre ele?
Bá e Moon: O que eu posso falar é que estou muito feliz por terem me chamado pra desenhar esta história. É um projeto de muita visibilidade e que coloca muita responsabilidade em cima de mim. A premissa da história é boa – um grupo de pessoas que tem que superar suas diferenças pra evitar o fim do mundo – e traz elementos que eu gosto de desenvolver. O escritor me pareceu apaixonado por quadrinhos e por este projeto, o que me passou mais segurança de aceitar o desafio.
:: Como está a recepção do público americano ao trabalho de vocês?
Bá e Moon: Pela primeira vez eles estão lendo nossas histórias e eu acho que estamos mostrando algo que é diferente do que estão acostumados e isso tem sido muito bom. Ainda não temos muita resposta do público, mas tivemos uma ótima aceitação entre os profissionais da área este ano na Comic Con, o que foi muito gratificante. Todos os anos que passamos esperando e nos preparando para este momento valeram a pena e agora que eles viram que não estamos brincando, temos que mostrar que agüentamos o tranco e continuar a produzir novas histórias.
:: Com quais super-heróis Marvel e/ou DC vocês gostariam de trabalhar?
Bá e Moon: O Batman.
:: Um recado para os leitores do Melhores do Mundo.net e para a turma que sonha em trabalhar com quadrinhos…
Bá e Moon: Tem que produzir sempre, não parem nunca. É uma profissão muito difícil, tudo demora muito, mas é a melhor coisa do mundo. Façam fanzines, contem histórias, não fiquem esperando a sua chance. Só depende de vocês.
:: E diz pro povo onde comprar esses últimos lançamentos.
Bá e Moon: O jeito mais fácil de comprar nossos quadrinhos é pela internet. Aqui no Brasil, podem comprar pela Comix (www.comix.com.br), que tem tanto nossas revistas nacionais quanto o material publicado no exterior. Pra este material gringo, também podem comprar pela Khepri Comics (www.khepri.com), mas aí tem um mínimo de US$ 20 para remessas internacionais.

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