A gente lemos: Liga da Justiça Terra Dois, direto da Terrinha!
Se a Panini Brasil-sil-sil não colabora, então nos resta fazer o caminho inverso de Cabral!
No longínquo ano de 2000, estreava em Terra Brasilis a famigerada (e odiada na mesma medida) linha Super-Heróis Premium da Editora Abril. Formato americano! Papel melhor! Excelente acabamento! Lombada quadrada! Precinho nada camarada (pra época…)!
Naquela época, eu cheguei a comprar alguns números da iniciativa. Inclusive a número 1 de Superman, que despontava pro mundo com esse nome no lugar do já solidificado Super-Homem.
Pois bem: aquela edição trouxe duas histórias – uma do próprio Superman, com roteiros do (argh!) Jephinho Loeb e desenhos (ainda inconstantes) de Mike McKone; e outra da Liga da Justiça. Escrita por Grant Morrison e desenhada pelo genial Frank Quitely (que eu até então não conhecia), Terra 2 abriu os horizontes: os meus e os do multiverso, que começava a retornar, ainda devagarinho.
Na trama, Alexander Luthor, a contraparte do universo de anti-matéria do “nosso” vilanesco Lex Luthor consegue furar a barreira dimensional entre os universos e vir parar no mundo de matéria. Aqui, ele espera contar com a ajuda dos heróis mais poderosos da Terra, quer dizer, da Liga da Justiça, para voltar a seu universo e fazer frente ao temível Sindicato do Crime – que nada mais são do que contrapartes maligrinas de alguns membros da Liga (Ultraman/Superman; Supermulher/Mulher-Maravilha; Coruja/Batman; Anel Energético/Lanterna Verde; Flash/Relâmpago).
Se lá pelas Eras de Prata da vida, o Sindicato do Crime era composto meramente pelos gêmeos malvados da outra terra da Liga da Justiça, não passando de uma desculpinha para que o Superman socasse alguém igual a ele e tal com os outros heróis, ao retomar esse grupo (que se defuntara com a Crise), o Deus do Buguimá remodela o próprio conceito de um mundo moralmente (e fisicamente) espelhado. Se os bons são maus, e se é o mal que rege o mundo, então… O bem é que deve ser combatido. Morrison teve a sacada de pensar a contra-Terra (ou Terra-1, nas palavras de Alexander Luthor) como um mundo em que a vilania é a regra de conduta, onde mesmo os que seriam “bons” (como o chefe de polícia de Gotham, o Comissário… Wayne) são ruins em essência. Não há conserto para a Terra-1. Na verdade há, mas passa longe de ser “o bem”.
Pois fato é que essa história, exceto pelas Importadoras do Ultra (essa franquia que não para de crescer), nunca mais deu as caras em língua portuguesa. Até essa colecção de banda desenhada dos super-heróis DC Comics da Panini de Portugal. Na série, similar àquela da Salvat com os personagens da Marvel que quase foi publicada aqui, reúne, em 20 volumes, algumas histórias clássicas da editora (e outras nem tanto – para a lista completa, clique aqui), em edições de capa dura e bom acabamento, com preço médio de 8,9 euros. O volume #1 é justamente a Liga da Justiça Terra 2, que eu tratei de comprar, e que além da história título traz também as edições de 1 a 3 de JLA: Classified, por Morrison e McGuiness – companhia muito melhor para a história do que a malfadada fase do Loeb com McKone. Por ser a edição #1 da coleção, Liga da Justiça: Terra Dois é mais barata: apenas € 4,90.
Ao contrário do que possa parecer, a diferença do português falado aqui e na terra do Leandro Leal faz-se perceber e é quase um empecilho. Não sei vocês, mas o português d’além mar faz tudo parecer mais cômico, posto que mais afetado. É difícil não rir de um Lex Luthor que se refere à sua secretária como “Menina Teschmacher” ao invés de Srta Teschmacher, ou o Ultraman (Ultra-Homem) dizer que está “nas tintas se o céu vai cair”.
Tirando isso (e o inexplicável fato de a capa do volume ser uma ilustração da história acessória e não da principal), a Panini Pt nos apresenta um grande material: abre o volume uma bela e filosófica introdução de José Hartvig de Freitas, para duas histórias realmente muito boas (nem falei dela, mas nesses três números de JLA: Classified Morrison lança algumas bases que retomará em Se7e Soldados).
No mais, diante da edição portuguesa (com certeza!) fica a dúvida: porque ao invés de republicar materiais de qualidade no mínimo duvidosa (Justiça, estou falando de você), a Panini não investe em histórias realmente boas como esta? Talvez a gente encontre a resposta n’algum universo de anti-matéria por aí…
Nota: 8