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A Gente Vimos: Street Fighter Assassin’s Fist

Aproveitando que neste fim de semana ocorreu o evento esportivo mais importante do ano (que é a final do EVO, torneio mundial de jogos de luta), resolvi assistir algo que já estava na minha lista a tempos e que tem tudo a ver com o evento: a série feita diretamente para a Web Street Fighter Assassin’s Fist (Ou lutador de rua assassino de primeiros, em tradução nórdica).

Em 2010Joey Ansah e Christian Howard lançaram no Youtube o Video Street Fighter Legacy, que era uma espécie de Fan Film/prova de conceito mostrando o Ken e o Ryu indo para a porrada:

Pode-se ver que na época o Zack Snyder tava em evidência pela quantidade de Slow Motion que tem nessa porra. Pois bem, geral viu o vídeo e gostou, e quando eu digo geral eu incluo a Capcom, que liberou os direitos para os caras transformarem o videozinho em uma série completa. Anos depois, dirigida pelo Joey (que faz o Akuma na série) e escrita pelo Christian (que faz o Ken), foi lançada de grátis no Youtube a websérie em 12 capítulos  Street Fighter Assassin’s Fist (só que agora sem os slow motion).

A série é focada no treinamento de Ken e Ryu, e como eles aprenderam a dominar o Mu no Hado (que é o Hadouken na prática). Em paralelo, a série também mostra o passado do mestre deles, Gouken, e seu irmão Gouki, que mais tarde se corrompe e se transforma no Akuma devido a influência de uma forma mais agressiva de Hado, o Satsui no Hado (vulgo o “lado negrosombrio do Hadouken”). O treinamento do Gouken e Gouki é mostrado fazendo um paralelo com o do Ryu e do Ken, mostrando que o mestre não quer que o mesmo aconteça com algum dos seus discípulos. Os atores que escolheram são realmente parecidos com suas contrapartes no jogo, porém eles são visivelmente artistas marciais primeiro e atores depois: ninguém vai ganhar Emmy de melhor ator aqui. Outro problema visível é o efeito Barrados no Baile: Esses fdps são muito velhacos para ficar pagando de adolescente, o que leva a alguns momentos em que isso quebra um pouco a suspensão de descrença (como quando eles resolvem ir em um cabaré e o Ryu diz que eles não tem idade para beber).

Ninguém aqui tem menos de 30.

Porém, quando chega a hora da porrada, os atores não decepcionam. Apesar de poucas, todas eram muito bem coreografadas e com um ótimo ritmo. Além disso, não se vê aqui o que aparece em muitas adaptações: a vergonha do material original. Aqui todo mundo usa Hadouken, Shoryuken e Tatsumaki Senpukiaku (vulgo ataque das corujas) durante as lutas de forma muito orgânica, apesar do Shoryuken ir um pouco alto demais e ser sempre filmado de baixo para cima. Ainda assim, achei a última luta do seriado empolgante, especialmente o seu final. Uma outra grata surpresa foi o fato do roteiro ser muito bem amarrado, não deixando aquelas pontas soltas idiotas tão comuns nos blockbusters. Toda vez que eu me perguntava algo como “Por que caralhos esse filha da puta do Ken foi sair lá da casa do caralho dos EUA para ir treinar na floresta no Japão a adolescência toda?” o seriado ia lá e respondia esta exata dúvida, e o melhor, de forma convincente. Até mesmo a mudança de ator para o cara que faz o Gouki se transformar no Akuma faz sentido no contexto da história, e não é apenas “trocamos o ator e foda-se”. Outro ponto positivo do roteiro é que os diálogos não estão lá apenas para fazer exposição no roteiro, mas também para construção de personagens e suas motivações. As atitudes dos personagens não parecem forçadas, e qualquer decisão tomada por alguém sempre é calcada na trajetória do mesmo. Algo que fica visível é que a principal característica do seriado é o respeito ao material original, até nos pequenos detalhes. Além de contar de forma verossímil como foi o treinamento de Ken e Ryu (ao contrário do desenho Street Fighter Victory, que apesar de muito legal tomava altas liberdades com o material original, com direito a coisas esdrúxulas como o Dhalshim ensinar o Hadou para eles), a produção acerta em várias pequenas coisas, como o Ken ter o cabelo mais longo durante o treinamento e o Ryu usar uma faixa branca e não vermelha na mesma época (como mostrado na série Alfa/Zero), além de várias outras coisas  que só fãs retardados de Street Fighter conhecem e dão algum valor. Outro coisa boa foi o preciosismo na escolha dos estilos de lutas mostrados: Em vários momentos, os personagens lutam exatamente com os mesmos movimentos dos jogos. E não estou falando só dos óbvios Royusen, Caraquetuquem e Radúguem, mas também nas pequenas coisas, como estilo de socos, chutes, saltos dados, com o exemplo máximo sendo o Ken ganhar uma luta não com um Shoryuken ou Hadouken, mas com um prafrente+chute médio que, para quem não manja de jogos de luta, é esse golpe aqui: Outras escolhas similares são feitas em outros momentos, como os katas para liberar a energia para praticar o Hado, com destaque especial ao do Satsui no Hado, cujo o Kata é exatamente como o Akuma faz antes de lançar um Hadouken de fogo nos jogos: Isto só me faz ficar mais puto com o filme de Tekken, que teoricamente deveria ser o mais fácil de adaptar os estilos de luta. Ao invés disto, fizeram a escolha inexplicável de fazer as pessoas lutarem de um jeito aleatório ao invés do dos personagens originais. Única coisa que presta neste filme é a caracterização dos personagens, que realmente são muito próximos aos do jogo.

Tão parecido quanto a Gal Gadot e a Maravilha

Mas o apego da produção aos detalhes não está apenas no estilo de luta: Quem já praticou alguma arte marcial japonesa mais tradicional reconhecerá as pequenas coisas no treinamento e maneira de se portar com o Sensei. Além disso, devido à série se passar toda no Japão, uma considerável parte dos diálogos é em Japonês, e só algumas em inglês (geralmente com o Ken, apesar dele também falar japonês). Mais importante, a escolha de que falas são em qual lingua sempre são adequadas, e quase nunca se fica com aquela sensação de “por que caralhos eles tão falando em inglês/japonês agora?”

Street Fighter Assassin’s Fist é uma obra prima? Não. Mas é entretenimento feito com cuidado, sem nada que ofenda a sua inteligência (o que não se pode dizer de boa parte dos filmes de ação dos últimos anos). Mesmo com o seu visível baixo orçamento e a limitação dos seus atores, o esmero na produção fazem com que a série seja agradável de se assistir. Salvo talvez as adaptações de jogos de videogame feitas pelo Takashi Miike (um dia faço um post sobre elas), está é a adaptação de jogo mais fiel ao material original que eu já vi. Pode-se considerar inclusive, como a versão definitiva da origem de Street Fighter.

Nota: 7,5

Ficou interessado? Quer assistir? Basta dar o play abaixo (dá para ativar legendas em português:

https://www.youtube.com/watch?v=NyVO0NLoLWE&list=PLZLTS4u9M_2r89MGqgDNGGxQfmLuhtxqU

Agora é esperar que saia a segunda temporada, que vai começar a adaptar o Street Fighter 2, possivelmente com a presença da Chun-li e do Guile (boatos  dizem que o Scott Adkins pode ser o Guile).

PS: Pessoal que viu a Websérie de Mortal Kombat: Ela presta?

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