A gente lemos: Gibis de Séquisso (nuas, peladas, pornôr)!
Ah, o sexo. O chaca-chaca na buchaca. O rala-e-rola. O sobe-e-desce. O vuco-vuco, fuque-fuque, nheco-nheco, o dentro-e-fora, o tinky-winki e outros eufemismos engraçadinhos para a boa e velha conjunção carnal. Provavelmente o motivo mais razoável para que nós humanos, darwinianamente tenhamos abandonado a vida em cima das árvores.
Pois bem: feriado prolongado chegou, a Srª Porco viajou e me restou o X-videos os gibizinhos. Aproveitei a última compra na Bienal do Livro para ler algumas coisas que eu tava muito a fim de ler – é delas que vou falar, claro.
A primeira leitura foi Clara da Noite, HQ desenhada pelo monstruoso Jordi Bernet (se você não conhece, dê seu jeito), com textos sobretudo de Carlos Trillo. Clara é uma prostituta de parar o trânsito (afinal, ela é a cara da rainha das pin-ups Bettie Page), que vive com seu filho pequeno, Pablito. Suas histórias de duas páginas, soberbamente desenhadas por Bernet, narram de maneira engraçadinha seus encontros e cotidianos, o que faz com que obviamente o álbum seja recheado de peitinhos e fodinhas.
Sobretudo por se tratar do Bernet, era um gibi que eu estava muito a fim de ler desde o lançamento, de modo que quando o achei foi praticamente uma obrigação trazer pra casa. Talvez por isso mesmo as histórias em si me deixaram meio decepcionado. Ok, sejamos justos, a maioria das histórias é legal, o lance da necessidade do uso da camisinha na ocupação de Clara é sempre bem apontada (imagina um encontro dela com o Vira-Lata do Paulo Garfunkel e do Libero Maravoglia?), mas algumas histórias incomodam pela objetificação que geram sobre a própria Clara (como aquela em que ela é estuprada e cobra o programa do criminoso, ou aquela em que ela faz sexo com um time inteiro de futebol como parte do condicionamento dos atletas, por exemplo). Agora, nada se compara às HQs que fazem piada sobre a relação de Pablito com o trabalho da mãe. De qualquer forma, acho que meu incômodo se dá muito mais por anacronismo, por estar tentando rir hoje de piadas que eram “ok” em 1993, mas não soam bem em 2016.
Mas isso não é o suficiente para invalidar o álbum não. Até porque a arte do Jordi Bernet sozinha já segura qualquer coisa!
Clara da Noite, de Carlos Trillo, Eduardo Maicas e Jordi Bernet. Zarabatana Books, março de 2008. 68 páginas, R$29,90.
Nota: 6,5.
Outro da série de coisas que eu queria muito ler foi este Garotas de Tóquio, de Frédéric Boilet, que a Conrad lançou aqui em… bem, de quando a Conrad ainda existia. No álbum, Frédéric conta histórias curtas das meterolas de quando viveu (ou vive ainda?) no Japão. Histórias sensíveis e íntimas das transas as mais diversas, com as mais diversas garotas e nos mais inusitados lugares. Tudo isso de um jeito bem… chato. Poutz. Que-álbum-chato. Na segunda história a arte já te deu no saco (meio que o Boilet desenha sobre fotografias, dando uma ideia – ruim – de fotonovela mal xerocada. Os enquadramentos, quase sempre em estilo POV então… caralho.) e as histórias íntimas que ele quer contar são chatas, insossas. No final, dá a impressão de ser só um cara pagando de comedor fazendo quadrinhos. Chaaaaaaato!
Garotas de Tóquio, de Frédéric Boilet. Conrad, 2006. 84 páginas, R$15,00 (na Comix).
Nota: 3
Por fim, a melhor pedida do feriado foi completamente “enlatada”: Criminosos do Sexo, de Matt Fraction e Chip Zdarsky, aqui lançado pela Devir. Salvo engano foi o Barba Magnética do KokoCast quem me deu a nota desse gibi, ainda quando estava saindo na gringa, e confesso que fiquei instigado: um casal heterossexual que, ao transar consegue (literalmente) parar o tempo, e usa dessa bizarra habilidade para… assaltar bancos! Fiquei pilhado desde então, e quando saiu aqui no Brasil pela Devir, eu quis mas não pude ($), daí fui deixando passar, até que a Bienal do Livro me colocou na cara do gol e comprei. Confesso que antes de começar a ler eu dei uma cagadinha: olhei pra prateleira e lembrei que recentemente tinha jogado quase 90 mangos fora, comprando numa tacada os três volumes de Casanova, do mesmo Fraction (não consegui sequer superar aquela baboseira toda do primeiro volume).
Mas Sex Criminals não deixou isso acontecer! Sem enveredar em bobajadas viajandonas inúteis, Fraction entrega uma história divertida e engraçada sobre dois desajustados que se percebem semelhantes. A história é predominantemente contada pelo ponto de vista de Suzie, uma tímida bibliotecária que muito jovem descobriu o seu “dom” e que desde então vem procurando algo ou alguém que não lhe deixasse só. Ao mesmo tempo conhecemos o problemático Jon, um cara que odeia o seu passado e seu presente e que, ao mesmo tempo, evidentemente esconde alguma coisa.
Sim, em alguns momentos Fraction investe no non sense, como na cena em que Suzie canta Fat Bottomed Girls do Queen, ou na própria aparição da “Polícia do Sexo”, mas o non sense chega para servir à trama, e não para “sustentá-la” como em Casanova – nesse sentido Criminosos do Sexo lembra muito mais seu trabalho em Gavião Arqueiro, por exemplo.
Agora, há um detalhe particularmente interessante na HQ: é impressionante como, fazendo um gibi centrado no sexo, Chip Zdarsky consiga se esquivar tão francamente de desenhá-lo: o que se vê nas páginas do gibi raramente passa de um peitinho ou outro, dando um ar de um Emmanuelle-com-roteiro pra coisa toda.
O final da HQ deixa um buzilhão de pontas soltas, desde coisas pequenas (como a garota que procura a biblioteca. Será que ela volta?), passando por coisas grandes como a Polícia ou o futuro dos protagonistas. Foda agora é aguentar a “periodicidade” (olho nas aspas) da Devir. Sem falar do preço, claro.
Criminosos do Sexo Volume I: Uma estranha habilidade, de Matt Fraction e Chip Zdarsky. Devir, 2015. 136 páginas, R$64,90.
Nota: 8