A gente lemos – Demolidor #5
Se tem um roteirista de quadrinhos que eu aprendi a gostar, é o Mark Waid. É engraçado, porque ele escreve de forma tão… inesperada algumas coisas que eu chego a me perguntar se aquele personagem sempre foi legal daquele jeito ou se é coisa do cara. Foi assim com aquela edição que ele fez durante do run do Morrisson na Liga (uma das coisas mais antigas que li com ele), e depois durante sua estadia no título do Homem de Ferro Capitão América. Com o Demolidor não foi diferente.
É bem complicado arrumar coisas BOAS MESMO de se ler em se falando de “gibis de linha” hoje, e a Marvel – entre maxissagas e afins – ultimamente vem conseguindo emplacar títulos bem bacanas no seu núcleo urbano: tanto em títulos mais “antigos”, como no Punho de Ferro do Matt Fraction, quanto em coisas mais recentes como aquela obra de arte sequencial que é a mensal do Gavião Arqueiro (também Fraction), é na simplicidade dos heróis menos conhecidos que a Casa das Ideias vem brilhando, na minha opinião. E o Demolidor do Waid é um desses exemplos, talvez o melhor deles.
Eu comecei a acompanhar (por recomendação acho que do Change em um dos podcasts não faz tanto tempo) aproveitando que a Panini começou a lançar a fase em encadernados nas bancas. Comprei duas edições, mas a periodicidade ESPECIAL, característica da editora, me desanimou e larguei de mão. Esses dias passei por uma banca na rodoviária, vi a revista e pensei “porque comprá-la, porque não comprá-la, porque comprá-la” comprei-a-a. Então embora eu esteja meio voando na trama (mesmo tendo lido o restante da história em TPBs gringos)(é, é, não foi na GIBITECA DO ULTRA, pasmem), pude aproveitar bastante do volume.
Temos a conclusão dum primeiro arco que se inicia lá no primeiro volume publicado pela Panini, onde vemos o diabo destemido enfrentando o Garra Sônica (aquele vilão merdão que eu só conhecia pelo Guerras Secretas), e nos volumes subsequentes onde mais coisas acontecem na vida do herói que, embora sejam aparentemente não-conectadas, nesta edição se revelam orquestradas por um velho conhecido do diabão. Que, claro, eu não vou contar quem é: já não basta eu escrever “imitando o Hell”, se eu começar a dar spoilers ai vai ficar muito descarado HAUAHUAHAUHAUAH
Mas apesar de ser uma reviravolta muito interessante, não é onde o roteiro de Waid brilha: temos também a relação entre Mudrock e seu velho amigo Foggy Nelson, que está enfrentando um perigo muito maior e mais delicado que qualquer mercenário por ai – o câncer. Claro que isso não é novidade, o Quasar Capitão Marvel mesmo numa das melhores sacadas do Jim Starlin também teve a doença, mas a forma que Waid consegue lançar dilemas – relativamente – corriqueiros na vida de um super-herói como o Demolidor é bem interessante. Afinal, Matt tem além de um emprego de verdade (que não é o de “FOTÓGRAFO”, como o Aranha), uma vida mais próxima dos leitores, mutável, com problemas profissionais e, porque não, amores que vem e vão. Aliás, Waid mostra como ninguém como o Demolidor é PEGADOR (emprego e namoradas… ok, talvez NEM TÃO próxima dos leitores assim).
Senti falta no entanto do desenhista regular anterior, Paolo Rivera, que apesar de não ser muito melhor no quesito técnica, resolvia graficamente algumas questões quanto aos poderes do Demolidor de maneira bem criativa, com o uso de onomatopéias e cores de maneira a acrescentar elementos na narrativa sequencial. Não que o novo artista – Chris Samnee – deixe a desejar, colocando também elementos narrativos interessantes, sobretudo na última história do encadernado, onde Matt encontra o Surfista Prateado numa história quase filler, pois todo o volume é uma espécie de transição entre dois grandes arcos. O traço de Samnee lembra um pouco um Mike Allred menos estilizado, em sintonia com a safra de “novos artistas” da editora, como o já citado Rivera e o excelente David Aja.
Duas histórias curtas fecham a revista, retiradas do título “Daredevil Black & White”, a primeira escrita por Peter Milligan com arte de Jason Latour e a segunda sem créditos, cortesia da editora que não bastasse contar errado as páginas do título regular (para encher linguiça com material menor) ainda não credita corretamente a história. Parece aquelas palhaçadas que aconteciam muito na Abril, com tapa-buracos meio nada a ver no final dos volumes. Enfim, a primeira história não me agradou, pois embora tenha um argumento muito bom do Milligan (embora batidasso, afinal o próprio Waid já havia abordado alguns números antes isso de “o Demolidor tem a oportunidade de voltar a enxergar”)o P&B muito reticulado cansa um pouco a vista. Pelo menos a segunda e última história é mais no esquema chiaroscuro, mais agradável e com resoluções interessantes por parte do artista, que eu jamais saberei quem é, porque eu não quero pesquisar porque estou com preguiça.
Por fim é uma boa edição, sim, porém mais pela conclusão do primeiro arco. De resto tem bastante carga emocional pela forma como lida com o tema “câncer” (com uma passagem no meio do encadernado MUITO BOA onde Foggy conversa com algumas crianças com a doença, que não fica piegas nem apelativa)(aliás, esse é o ÚNICO momento em que o Homem de Ferro aparece. Muita pilantragem colocar o latinha na capa só por isso ahuahauhauah) além da história com o surfista ser bem bacana. Justificou a compra e me fez ter vontade de comprar os volumes que perdi no site da editora. Crédito do Waid, que está conseguindo ser consistente durante seu run pelo título, apesar do momento complicado em que o escreveu (Novos 52, aquisição pela Disney, reformulação editorial e merdas do tipo).
Minha recomendação fica a seguinte: se você quiser correr atrás dos volumes anteriores, compre esse sem pestanejar. Se não, mas se você gosta do personagem, pode encontrar umas histórias bem legais com momentos bacanas (como o Demolidor voando na prancha do Surfista). Mas se você meio que caga pra isso, compre só a próxima, que deve inciar o próximo arco maior e vai te dar uma visão mais coesa do trabalho dos autores.
Demolidor #5
Roteiro de Mark Waid, arte de Chris Samnee, cores de Javier Rodriguez
148 páginas, cores, capa cartonada, R$ 18,90, Panini.
Nota: 8,0