Semana passada, a coluna “Outro Canal” do jornalista Daniel Castro, da Folha de S. Paulo, informou que mesmo com a ação de dublar 24 Horas e outras séries, a audiência da Fox brasileira parece não ter melhorado.
Como o Ibope não divulga dados da TV paga, as informações indicam que houve uma queda de 10% do número de televisores que fica pelo menos um minuto no canal. Em suma: a rede só piorou sua situação que já era péssima (amarga o último lugar entre as TVs pagas no Brasil).
No texto “O caráter traiçoeiro das dublagens” (a leitura está liberada apenas para assinantes UOL ou Folha), Bia Abramo comenta o caso e lembra ainda o fracasso da versão brasileira de Desperate Housewifes.
“A rejeição à dublagem não se deve apenas às perdas eventuais da graça de certas expressões (que fatalmente ocorrem), por melhor que ela seja feita. O problema é que ela se interpõe, lembrando constantemente ao espectador que ele está excluído daquele universo, daquele modo de vida, daquilo que as séries sugerem como modelos de consumo e atitude”, explica.
Então, de acordo com Bia, ao ver uma série dublada, o espectador é lembrado constantemente do quanto ele está alheio àquele universo. Além disso, eu acredito que o público de séries costuma ser mais seleto e de bom nível cultural e detestaria ver dublagens ao invés de legendas, tanto na TV quanto no cinema. Ao contrário dos Estados Unidos, a TV paga aqui não é uma mídia popularizada, e sim restrita a poucos.
Como se isso não se bastasse, a Fox brasileira simplesmente ignorou a opinião de seus assinantes e espectadores. A empresa, em nenhum momento, buscou anunciar sua ação antes de fazê-la e sim impor sua medida. Acreditando que a reversão do quadro seria imediata, já que a concorrente TNT é líder com séries dubladas.
Mas o buraco é mais embaixo. Não estamos falando de engenharia, onde dois mais dois são quatro. No mercado de entretenimento, o espectador quer ser mimado e perde a confiança no produto se percebe que a empresa não está nem aí para a forma como ele quer consumir o conteúdo.
Como se isso não bastasse, a Fox não percebeu que se a TV aberta perde audiência para a internet, a TV paga perde ainda mais facilmente. Aposto que muitos espectadores preferiram assistir os episódios na versão original (ou quem sabe legendada pelos fãs) e será que era tão difícil assim prever que isso ocorreria?
A situação é um lembrete cruel que o consumidor moderno faz para as empresas. Ele freqüenta comunidades, conhece quem pensa como ele e consegue se mobilizar rapidamente. Está nas mãos da Fox provar o porquê de ser uma emissora tão importante, perceber seu erro e estudar medidas para reverter não só a baixa audiência, mas o efeito negativo em sua reputação.
Bugman é um comunicólogo
