A Gente Lemos: Dioniso
Pois bem, Nerdaiada maldita… Eis que chega até as minhas demoníacas mão a Graphic Novel de Jerri Dias e Pedro Zimmerman, Dioniso… Primeiramente deixe-me chover no molhado e elogiar toda a acuidade e acabamento gráfico dado a obra… Papel Couché, capa dura, encadernação de lombada quadrada, e 114 páginas de cores vivas e uma capa bacana dão um “peso” ao material que impressiona, parabéns a Editora Avec.
Agora partimos pro conteúdo… A Graphic conta uma história baseada numa tragédia grega de Eurípedes, As Bacantes… mas apesar disso parecer pomposo, não se faz necessário que o leitor de primeira viagem e meio burraldo sem cultura tenha um prévio conhecimento da cultura Grega… Obóviamente que saber um basicozinho ajuda a pegar mais referências, mas de modo geral a história é bem acessível.
Na bagaça conhecemos o detetive particular Adriano Ferri, que um dia vai com sua cocota assistir um show de teatro e dança num lugar meio inusitado, essas coisas meio hipsters, e lá conhece as Bacantes, um grupo artístico só formado por mulheres que apresentam um espetáculo baseado nas antigas crenças gregas ao deus Dioniso.
Apesar de achar algumas coisas meio estranhas, Ferri não liga muito praquilo, até que sua cocota resolve fazer um teste pra ingressar no grupo, e estando no lugar errado na hora errada ele presencia o ritual meso-demoníaco de iniciação de sua cocota, onde percebe que as sedutoras dançarinas do grupo
não são só dançarinas…
A partir daí a história engrena, e Ferri enfrenta as mulheres demônio até acabar cara a cara com Dioniso, a divindade grega em “pessoa” (ou seria em Bodeoa?)… E esse é o ponto alto da história na minha humilde e limpinha opinião, quando Dioniso resolve contar pra Ferri o que rolou no breu das tocas e no silêncio das alcovas do mundinho fétido das divindades… E nos diz como Yaweh ( Ou Javé, ou simplesmente Deus, o cristão, que vocês devem saber quem é) conseguiu se tornar o pica das galáxias, mas o preço que isso custou, e que agora tá rolando uma treta divina entre a galera celestial onde eles estão voltando pra Terra pra recuperar seus adoradores.
Olha, devo lhes admitir que essa parte da Graphic é muito bacana, e obóviamente que instiga a mente nerd de qualquer um que tenha um parco conhecimento de mitologias diversas, fazendo-nos imaginar que essa história pode render muitas e ótimas continuações explorando justamente essa treta entre Deuses diversos, mesmo que qualquer leitor iniciado no mundo Vertigo (ou até nas histórias misturando Asgard e o Olimpo da Marvel ou ainda em Dies Irae) já tenha visto algo similar… O assunto ainda rende, e é praticamente inesgotável dada a imensa gama de divindades e culturas mitológicas do nosso mundo.
MAAAAAASSSS… nem tudo são flores, a Graphic tem sido vendida como a primeira iniciativa com arte 3D do Brasil, e devo lhes dizer que é justamente esse caráter “inovador” que é o grande ponto fraco da HQ…
Se por um lado os cenários digitais são exuberantes e com um colorido, luzes e sombras aplicadas de modo impecável, e ainda mais valorizados pela opção de não se usar balões de diálogo sobrepondo a arte (o texto todo é inserido em texto corrido abaixo dos quadrinhos)… as figuras humanas renderizadas pelo programa Daz Studio não passam a devida fluidez e narrativa que se deseja numa HQ.
Os personagens com aquelas poses “duras” e artificiais, algumas expressões faciais estranhas e anti-naturais acabam por frustrar o leitor… Ainda mais que a obra por diversas vezes opta por nos mostrar o que está acontecendo com longos planos e páginas sem texto, só se apoiando na narrativa visual da página, e isso fica deveras prejudicado pelas figuras humanas digitais sem a “malemolência” necessária.
Isso fica muito nítido numa sequência em que as “mulheres-demônio” na sua forma humana, dançam numa boate seduzindo dois incautos que serão sacrificados a Dioniso… A cena que deveria exalar sedução, erotismo e movimento fica truncada e sem fluidez com as poses artificiais dos modelos em 3D… Obóviamente que fiquei pensando o que um desenhista com o talento de Serpieri ou Manara (ou nem tanto) pra figuras femininas poderia fazer naquelas páginas.
Não sei exatamente quais foram as decisões que pautaram a escolha da arte em 3D em detrimento de um desenhista tradicional, mas acredito que a obra poderia (e merecia) uma arte melhor trabalhada. No fim das contas, espero que se os autores derem continuidade nas histórias, procurem um desenhista batuta pra dar a Graphic o valor artístico que ela merece.
Nota: 5