10,5 mulheres importantes para os comics mainstream
Hoje comemora-se o Dia Internacional da Mulher e é claro que essa é a desculpa perfeita para o tipo de matéria jornalística mais preguiçosa que existe hoje: um post com lista!
Falando sério (não que eu estivesse brincando totalmente antes), vou aproveitar a data para mostrar algumas mulheres que foram relevantes para a evolução da indústria. Durante toda a história dos quadrinhos (e mais particularmente dos quadrinhos americanos, que são o recorte principal deste post), muitas foram as mulheres cujo trabalho causou impacto em vários aspectos, seja para levantar questões importantes ou para criar toda uma nova linha de HQs para leitores adultos.
Este post é para homenagear mulheres que talvez não sejam tão conhecidas do público, mas foram, em diversos níveis, fundamentais para os comics. Nesta lista, o foco foram as HQs mainstream publicadas nos EUA, por isso nomes importantes como Trina Robbins, Alison Bechdel e Marjani Satrapi ficaram de fora, embora seja impossível ignorar sua importância. Também deixei de fora profissionais como desenhistas, arte-finalistas e coloristas para me focar nas posições de editora e roteirista (e porque, safadamente, eu posso guardar estas para outros posts sobre esse tema no futuro).
Enfim, fique com a lista:
10. Ramona Fradon
Uma das autoras lamentavelmente esquecidas (e que ainda está viva, então dá pra consertar esse erro antes que seja tarde), Fradon foi uma artista cuja carreira começou em 1950 e cujos trabalhos deram frutos principalmente nos anos 60 e 70 em personagens como Aquaman e o Cavaleiro Andante. Seus créditos incluem a co-criação do personagem Metamorfo.
Onde estão seus trabalhos: Nos anos 60 e 70, principalmente, basicamente só para a DC. Trabalhou para a Marvel numa edição fill-in do Quarteto Fantástico e numa história da Tigra que nunca saiu.
9. Kelly Sue Deconnick
Alguém que pode ser considerada a “baderneira” dos comics, Kelly Sue balançou o mercado mainstream reformulando a Miss Marvel, “promovendo” a heroina a Capitã Marvel, rebootando a personagem Ghost para a Dark Horse e, mais recentemente, por sua HQ Bitch Planet. Deconnick também é editora e adapta mangas para a língua inglesa.
Onde estão seus trabalhos: Na Marvel (Capitã Marvel), na Dark Horse (Ghost) e mais recentemente, na Image (Bith Planet, Pretty Deadly).
8. Ann Nocenti
Nocenti é mais conhecida pelo seu trabalho na Marvel, tendo sido roteirista de títulos como Demolidor e Inumanos, entre muitos outros. Ela também foi editora de títulos X como Novos Mutantes e Uncanny X-men, além de ter criado personagens como Mary Typhoid, Coração Negro, Longshot, Mojo e Espiral.
Onde estão seus trabalhos: Em uma porrada de títulos da Marvel nos anos 90 e 2000, de Homem Aranha a X-men, passando por Demolidor e Doutor Estranho.
7. Devin Grayson
No início dos anos 2000, Grayson foi roteirista da maior parte dos títulos relacionados ao Batman, entre eles Mulher Gato, Gotham Knights e, curiosamente, Asa Noturna. Grayson (a roteirista, não o personagem) também trabalhou pra a Marvel e com projetos próprios como SER, Relative Heroes e Matador, com o desenhista Brian Stelfreeze.
Onde estão seus trabalhos: Em basicamente tudo relacionado ao Batman nos anos 2000 (incluindo crossovers como Terra de Ninguém).
6. Barbara Kesel
Ex-esposa de outro roteirista conhecido (especialmente nos anos 90), Karl Kesel, Barbara corre por fora por ter produzido diversos trabalhos interessantes e infelizmente não ser lembrada por isso. Kesel entrou no mundo dos quadrinhos depois de escrever ao editor Dick Giordano sobre a representação das personagens femininas nos quadrinhos, isso ainda nos anos 80. Depois, escreveu HQs como Rapina e Columba e alguns elseworlds para a DC. Nos anos 90, trabalhou para a Dark Horse como responsável pela maioria dos designs e criação de cenários e personagens para Golden City, cidade que aparecia em diversas histórias da editora. Kesel também é citada como tendo influenciado Karl Kesel na representação de fortes personagens femininas das histórias que ele escrevia, como Lois Lane nos títulos do Superman.
Onde estão seus trabalhos: Na DC dos anos 80 e 90 (Rapina e Columba, Elseworlds Finest: Supergirl e Batgirl), e na Dark Horse dos anos 90 (Golden City).
5. G. Willow Wilson
Muçulmana de Nova Jérsei, G. Willow Wilson é uma das vozes islâmicas nos quadrinhos americanos. Não que suas obras sejam panfletárias, pelo contrário; é justamente a naturalidade destes temas em suas histórias que a tornam uma as mulheres mais importantes nos comics atualmente. Mais recentemente ficou conhecida como roteirista de Ms Marvel, um quasi reboot que figura, não por acaso, uma adolescente muçulmana de Nova Jérsei que ganha superpoderes.
Onde estão seus trabalhos: Atualmente, na Vertigo (Cairo, Air) e na Marvel (Ms Marvel).
4. Gail Simone
Gail Simone talvez seja o nome mais conhecido desta lista, e não por acaso: Seus trabalhos com Birds of Prey, Secret Six e Mulher Maravilha (Simone também escreveu o roteiro da animação da Amazona) são bastante lembrados até hoje. Além disso, Simone é conhecida por ter sido uma voz para o sexismo existente na indústria das histórias de super-herói, quando compilou uma lista de eventos onde personagens femininas eram mutiladas, assassinadas, estupradas ou sofreram de alguma forma por causa do seu gênero (como no caso de estupro ou aborto espontâneo) como mero dispositivo de plot para motivar personagens masculinos. Ela deu para a lista o título “Mulheres em Refrigeradores”, após uma história onde Kyle Rayner (na época o Lanterna Verde oficial) encontra sua namorada morta e seu corpo enfiado no refrigerador por um supervilão. Após a lista cair na internet, uma grande polêmica se instaurou e, a partir daí, começou-se a se falar seriamente sobre sexismo nas histórias em quadrinhos.
Onde estão seus trabalhos: Nos anos 90 e 2000 da DC (Birds Of Prey, Secret Six) e Marvel (Deadpool e Agente X). Atualmente, fez Red Sonja para a Dynamite.
3. Kim Yale
Yale é uma escolha pessoal minha, por dois motivos: primeiro, porque fez parte do início das minhas leituras de quadrinhos, e segundo, porque pouca gente conhece sua contribuição para diversas histórias clássicas. Yale escreveu, junto com o colaborador (e posteriormente marido) John Ostrander, diversas grandes histórias da DC no início dos anos 90, entre elas Esquadrão Suicida, Caçador de Marte e o crossover Millennium. Além disso, Yale e Ostrander são os criadores da Oráculo. Infelizmente, Yale faleceu de câncer em 1997, aos 43 anos.
Onde estão seus trabalhos: Nas Hqs do Esquadrão Suicida dos anos 90, nas histórias do Ajax dos anos 90, na saga Millennium (DC Comics).
2. Karen Berger
É difícil imaginar como seria a indústria de quadrinhos hoje sem Karen Berger. Especialmente a DC Comics e sua aposta mais acertada dos últimos 30 anos, o selo Vertigo. Berger foi responsável pela “invasão britânica” nos comics, trazendo autores do calibre de Neil Gaimam, Alan Moore, Marke Millar, Peter Milligan e Grant Morrison para as HQs da DC. Por conta disso, acabou se tornando a fundadora da Vertigo em 1993, onde permaneceu até 2012.
Onde estão seus trabalhos: Em qualquer HQ da Vertigo de 2012 para trás.
1. Ruth Roche
Também creditada como Rod Roche e RA Roche, foi uma roteirista e editora durante a Era de Ouro dos comics. Roche trabalhou na Fiction House, uma editora que contratava muita mão de obra feminina e era uma espécie de “terceirizada” do Eisner/Iger Studio, que produzia quadrinhos sob demanda nos anos 30 e 40. Além de ter escrito diversas HQs na época, também escreveu tiras de jornais e eventualmente acabou se tornando sócia do estúdio para o qual trabalhava, que passou a se chamar Roche-Iger Studio, e se manteve por lá até o fim da empresa, nos anos 60. O livro “Women in Comics”, de Trina Robbins e Catherine Yronwode, foi dedicado pelas autoras a Roche.
Onde estão seus trabalhos: na Era de Ouro dos quadrinhos, mais particularmente em Phanton Lady e Sheena: Queen of the Jungle, entre outros (todos da Era de Ouro).
0,5 – Gloria Steinem
A posição “meia boca” (que não é meia boca) vai para Glória Steinem por um motivo muito simples: apesar de não ter uma grande passagem pelos quadrinhos, tem certa ligação profissional com a mídia. Steinem é famosa pelo seu ativismo social e político com relação aos direitos das mulheres e foi líder do movimento feminista americano nos anos 60 e 70. Steinem também foi a primeira funcionária da revista Help!, uma revista satírica da Warren Publishing que era uma espécie de “sucessora não oficial” da Mad. A Warren, para quem não sabe, é a editora responsável pelas HQs Creepy e Eerie, além da criação da personagem Vampirella.