Lembro que quando saiu, lá nos idos de dois-mil-e-estamos-velhos-magneto, 24 Horas foi uma febre.
Pra quem não lembra, o seriado acompanhava as 24 horas de um dia de trabalho (duh) do super-agente-desequilibrado-porém-eficiente Jack Bauer, que tentava salvar o dia enquanto se mantinha no limite equilibrando o destino dos EUA e a sua vida pessoal num esquema de ação em tempo real (tá, não era láááá tão tempo real assim, mas você entendeu).
Pois bem, como o troço fez bastante sucesso (e dinheiro) e a moda do momento é ser verde e revirar o lixo reciclar, a Fox, não faz muito tempo, tinha anunciado uma nova temporada da budega, mas que já não contaria com o agente-que-não-caga interpretado por Kiefer Sutherland (cujo destino já tinha sido definido na última temporada, em 2014).
Então eis que então, nessa última segunda, o The Wrap anunciou quem assumiria o posto de plantonista na Counter Terrorist Unit – Corey Hawkins, que recentemente interpretou o Dr. Dre no último filme do diretor Spike Lee – Straight Outta Compton. O cara também fez The Walking Dead e estará no próximo filme do King Kong pela Legendary Pictures.
E segundo a co-CEO do Fox Television Group, Dana Walden, a ideia sempre foi escalar um ator “com diversidade”, conforme declarou num evento recentemente.
“O personagem foi originalmente concebido para um ator com diversidade [diverse actor]. Nós queríamos que fosse o mais diferente possível do Jack Bauer, e esse foi o direcionamento inicial – de ter um protagonista com diversidade. Tanto faz se afro-americano ou latino (…).”
Bem, diferente das cretinices recentes envolvendo a mudança de etnia do Tocha Humana no último Quarteto Fantástico, aqui parece não haver então espaço para mimimices desse tipo – é outro agente (Eric Carter, um ex-Ranger do exército americano), num outro dia, trabalhando para a CTU e não uma “nova versão dum personagem clássico”, ou outra babaquice do tipo como argumentavam os opositores ao filme da FOX.
Porém, por outro lado, vale notar que 24 tem como um de seus co-criadores Joel Surnow, um dos raros conservadores numa Hollywood cada vez mais liberal, que se auto-descreve como um “malucão de direita” [right-wing nutjob], então a escalação dum ator negro para o papel pode atender a algum tipo de agenda (como já fez no passado o seriado em relação da doutrina de “guerra ao terror” da administração Bush, por exemplo).
Ou não, vai ver sou eu que ando paranoico ultimamente.
Fato é que, embora o ritmo dum seriado como 24 Horas ainda seja fonte de inveja pra muito thriller por aí, eu não sei ao certo qual o espaço que o mesmo teria nos dias de hoje.
Numa época em que tamos bastante discussão política na mídia, abordando vários pontos de vista com uma pegada mais cerebral, e exemplos bem sucedidos de seriados frutos dessa abordagem, como Homeland, ainda haveria lugar para truculência, correria e bauerismos? Ou talvez seja justamente isso que o mercado precise – duma descarga de adrenalina com o senso de urgência necessário para justificar os meios em nome dos fins?
Só nos resta esperar.
