Review: Batman e Robin: Ano Um (#1 de #12)
Eu não leio mais quadrinhos de super-heróis já tem tempo.
Quando você lê a mesma mídia por quase 40 anos (eu fui alfabetizado com quadrinhos), você meio que já viu de tudo. As histórias se repetem e você começa a ver o mesmo argumento sendo recontado pela terceira ou quarta vez – sim, mesmo naquele novo arco que promete que vai ser tudo diferente e vai mudar o status quo de tal super-herói ou super-grupo.
Mas mesmo assim, quando veteranos como o Mark Waid anunciam um novo quadrinho (e principalmente uma mini-série), eu tento parar pra dar uma conferida – e a DC lançou nas bancas a primeira edição da mini Batman e Robin: Ano Um, escrita pelo próprio e com ilustrações de Chris Samnee, um dos melhores artistas da atualidade.
Os dois, aliás, estão reeditando a parceria que deu super certo no Demolidor, que saiu de 2011 a 2014.
A série “Ano Um” já é uma tradição na DC. Ela começou, se não me engano, com o Frank Miller e David Mazzucchelli contando as primeiras aventuras do Batman. A partir daí já tivemos o Ano Um do Robin, Asa Noturna, Batmoça, Novos Titãs e até da Liga da Justiça, escrita pelo próprio Mark Waid.
Agora, o roteirista vai contar como foram as primeiras aventuras da dupla dinâmica, de como o Batman e Robin começaram a agir juntos.
Waid não perde tempo recontando a origem do Batman nem do Robin. Na primeira página ele já mostra que tem quatro semanas da morte dos pais do Dick Grayson e ele está pronto pra sair em sua primeira ronda de combate ao crime com o Batman.
Do primeiro papo com o comissário Gordon à uma armadilha mortal do Duas-Caras, a primeira ronda noturna do Robin é bastante agitada e cheia de desafios, no meio à falta de entrosamento com o Homem-Morcego.
O Robin sempre foi um elemento controverso nas histórias em quadrinhos do Batman, especialmente pós-Frank Miller.
Depois da guinada ao tom sombrio e sério do personagem pós-Cavaleiro das Trevas (guinada essa que nunca teve volta), ver o Batman levar um menino de sunga verde e capa amarela no meio da noite violenta de Gotham City não fazia mais tanto sentido.
O Menino Prodígio começava a ser deixado de lado não só nos quadrinhos como também em outras mídias que definiram o Batman na mente do público em geral, como os filmes do Tim Burton.
Depois de ir pros Titãs, de virar Asa Noturna e de ter outras identidades secretas, o público deixava claro que o Robin não fazia mais tanto sentido nas histórias – tanto que o público escolheu matar o Menino Prodígio no arco Morte em Família, em uma votação aberta pela própria DC Comics na época.
O Robin chegou a voltar firme nas HQs com o Chuck Dixon durante os anos 90, mas o tom das histórias era outro (e o Robin também). Entrava Tim Drake, em histórias bem sérias e abordando temas difícies, como gravidez na adolescência.
Essa volta do Robin meio que deu o tom pro retorno da Batfamília. O Batman voltava a se aproximar do Asa Noturna, Robin, Batmoça e até o Azrael entrou na família.
Porém, lembrando que o tom das histórias ainda seguiam a linha do Chuck Dixon, mais sombrias e sérias, longe do tom alegre e infantil das antigas aventuras do parceiro-mirim do Batman.
E por assim ficou um bom tempo (pelo menos por boa parte dos anos 2000 em diante, do pouco que acompanhei esporadicamente as histórias do Homem-Morcego).
Então o Robin, a partir daí, foi se encaixando em duas formas: ou ele era o menino-prodígio alegre e brincalhão das histórias da era de prata ou ele se encaixava na realidade sombria do Batman pós-Frank Miller.
E como fica o Robin do Mark Waid em Batman e Robin: Ano Um?
Pelo menos nessa primeira edição, Mark Waid conseguiu achar uma espécie de caminho do meio.
O Robin sim está incluso no ambiente sombrio e perigoso da Gotham City pós-Cavaleiro das Trevas, mas Waid vai fazendo uns pequenos ajustes não só na personalidade do Batman como também em todo o seu universo para que o Robin consiga caminhar bem entre a era de prata e a sobriedade conhecida das histórias do Homem-Morcego.
É tipo uma evolução natural do Batman e Robin do Mike Barr e Alan Davis (e funciona muito bem sendo isso mesmo).
Mas e o gibi em si?
Ainda é a primeira edição (de 12). Mas, apesar disso, Mark Waid não perdeu tempo e já apressou pra contar toda a primeira aventura dos dois logo na primeira edição. Tudo acontece de forma muito corrida, principalmente porque ainda não sabemos no quê exatamente Waid vai querer focar nessas 12 edições.
Não sabemos ainda se ele vai focar na relação entre pai e filho dos dois, se vai ser focado somente na parceria no combate ao crime ou em outra coisa.
Mas mesmo assim, mesmo em um gibi corrido e ainda meio vago sobre seus objetivos, Mark Waid entrega algo que é acima da média do que vemos hoje em dia – agora se é por causa de seu conhecido talento ou pelo atual baixo nível do mercado, eu não sei dizer exatamente.
Tudo, é claro, fica ainda mais divertido com os traços de Chris Samnee, que além de ser um dos melhores artistas da atualidade, como disse nos primeiros parágrafos desse texto, ele também tem uma paixão genuína pelo Homem-Morcego e o Menino Prodígio. Procurem seus perfis nas redes sociais – todo outubro ele faz um Inktober temático do Batman.
Vou conferir qual é nos próximos capítulos.
Como falei, a primeira edição é apressada e Mark Waid ainda deixa um pouco confuso qual será o foco da história que ele quer contar.
Mas cá pra nós, quando uma dupla dessa se junta pra fazer um gibi, é claro que vale a pena acompanhar até o final.
Nota 7.5