Início dos anos 90.
A primeira temporada dos Simpsons caia como uma bomba arrasadora no Brasil – e no mundo inteiro. Estávamos vivendo o auge da Simpsonmania…
…ou Bartmania, pra ser mais exato.
E com o jovem Change não foi diferente. Eu era maluco pelos simpsons – e continuo sendo, já que são 34 anos acompanhando a série! Eu vejo os Simpsons na televisão por quase toda a minha vida.
Eu brinco que eu comecei a ver os Simpsons mais ou menos na idade do Bart e hoje eu já ultrapassei a idade do Homer, pra se ter uma ideia.
Mas enfim, voltando ao início dos anos 90.
O jovem Change estava louco pra consumir qualquer conteúdo que estampasse o Bart Simpson na capa. Além de acompanhar os episódios todo fim de semana na Globo, os camelôs da praça Saens Pena na Tijuca tinha uma cacetada de produtos falsificados – cadernos, carteira, adesivo de carro, bonecos piratas, camisetas, bonés. Eu tinha tudo desses camelôs!
E eis que sai o videogame dos Simpsons! Isso mesmo! Finalmente chegava a hora de eu poder jogar um game no meu Phantom System controlando o próprio Bart Simpson!
Fui na Neo Game, locadora que ficava lá perto da Rua Uruguai, e vi a capa do jogo. Bart Simpson voando pelos céus de Springfield em cima de seu skate, enquanto usava sua lata de spray pra descrever o título do jogo e, ao fundo, alguns personagens que eu via no desenho sendo atacados por aliens.
Imaginem como não ficou a minha jovem cabeça quando viu aquela ilustração? ELA EXPLODIU em mil pedacinhos!
Contei os minutos pra chegar o fim de semana – lá em casa só íamos à locadora no sábado – pra poder alugar a fita. Por um milagre a única fita estava disponível. Peguei e fui correndo pra casa.
Quando você liga a tela, vemos uma ilustração em 8 bits dos Simpsons no sofá vendo TV, com a música tema tocando ao fundo.
“Caraca maluco, isso é igualzinho ao desenho animado”, pensei. Aperto start e começa o jogo.
Primeiro temos a história. Como eu não sabia inglês, não entendi porra nenhuma do que estava escrito na cutscene, que só mostrava uns humanos que eram alienígenas na realidade, colocando alguns objetos púrpuras em uma esteira. Na cutscene o Bart colocava seus óculos escuros e conseguia ver os alienígenas por debaixo de seu disfarce de humanos.
Rejogando essa fita pra fazer esse review, e agora já sabendo ler em inglês, vi do que se trata: alienígenas aparecem na Terra e querem construir uma máquina pra dominar toda a humanidade. Pra construir essa máquina, eles precisam de… Objetos de cor púrpura. Eles chegam a Springfield exatamente pra isso, pra recolher todos os objetos púrpuras possíveis pra construirem sua máquina de dominação mundial. E por algfum motivo o Bart é o único que sabe disso e que tem óculos de raio x especiais pra ver esses alienígenas disfarçados de humanos.
É… Com uma história idiota como essa, era melhor não entender inglês mesmo. Enfim, hoje em dia eu vejo que o game é uma sátira ao filme Eles Vivem, com o lance dos óculos que conseguem enxergar as pessoas de verdade, etc.
Começa o jogo. Um aviso surge na parte inferior da tela falando que é preciso pintar todos os objetos roxos de vermelho com sua tinta em spray ou simplesmente se livrar deles. Assim você passa pra próxima fase.
Agora o jovem Change sabia disso? É claro que não! Eu não sabia ler inglês. Eu simplesmente não sabia o que fazer no jogo, já que ele te dá as instruções por escrito. A sorte que um dos moleques do meu prédio conhecia um outro moleque da escola dele que já tinha jogado a fita, aí ele deu as instruções sobre os objetos púrpuras.
Porém, mesmo assim, o game ainda é cheio de situações que você não faz ideia de como proceder. Você tem que entrar em uma loja e comprar coisas, tipo bombinhas e morteiros. Mas quantas delas você tem que comprar e em quais situações você deve usar, não há qualquer indicação pra isso.
O jogo não é nada intuitivo, então dá pra concluir que ninguém nessa época conseguia passar da primeira fase.
O que dá pra concluir que o Change do passado odiou esse game, correto?
Errado.
O Change do passado amou essa fita de coração! Na época a nossa única base de comparação era o Atari 2600… E as outras fitas eram tão difícies (geralmente por uma jogabilidade de merda ou gamedesign injusto) que não passar da primeira fase era super normal!
Mas estamos aqui pra fazer um review com o velho Change, que já jogou quase todo o catálogo de fitas do antigo Nintendo 8 Bits e conhece muito mais sobre o game design na época. Então vamos lá.
Olha, supondo que você saiba mais ou menos o que fazer no jogo, temos que reconhecer que a primeira fase de Bart Vs The Space Mutants não é ruim. Eles jogam uma caralhada de coisas diferentes pra você fazer. Tem os alienígenas pra você pular em cima, tem os objetos púrpuras pra você pintar de vermelho, tem uma loja pra você fazer compras, tem um telefone pra passar um trote pro Moe, tem uma parte onde você anda de skate em alta velocidade e ainda tem um chefe pra lutar!
Mas parece que eles jogaram tudo que tinham nessa primeira fase – talvez já sabendo que a maioria das crianças não sairia dela. Agora adulto – e com a ajuda de saves states dos emuladores, eu consegui chegar mais longe e o jogo só piora em relação à mesmice.
E tem mais: os controles são horrorosos. Em uma jogada inexplicável de péssimo game design, o botão de correr é O MESMO do botão de pular. As plataformas do jogo são MUITO difícies de se executar (e a Akklaim, desenvolvedora do jogo, ainda usou a mesma engine no jogo do Monstro do Pântano que eu falei aqui).
A música então, nem se fala. Durante quase todas as fases, a única música que se escuta é o tema dos Simpsons… SEM PARAR! De vez em quando, em outras fases, tem uma pequena variação do tema, mas no fim é só o mesmo.
Pesquisando mais sobre os bastidores da Akklaim na época desse jogo, vemos que boa parte da grana foi gasta nos direitos do desenho animado e nos direitos da música tema – e parece que não sobrou mais grana pra nada! Por isso só uma música no jogo inteiro (deve ser por isso que eles fizeram um porte pra tudo quanto é console da época!
E tem mais: o desenvolvimento desse jogo foi todo feito com pouquíssima informação sobre o desenho animado. A primeira temporada mal tinha terminado e a Akklaim teve que se virar – o que gerou aquela história absurda de alienígenas colecionando objetos roxos (e também a presença de pouquíssimos personagens reconhecíveis, como o Nelson, Moe e a babá).
Antes de fechar o review, só postar aqui algumas curiosidades:
- Esse jogo foi feito tão no começo dos Simpsons que ele ainda não tinha caído na regra do “Bart Simpson de camisa azul em peças de merchandising”. Já repararam nisso? Quando o Bart não estava na televisão, ele sempre usava camisa azul clara, ao invés da vermelha. Era assim nos bonequinhos, camisetas e até nos videogames, como o fliperama da Konami. Mas Bart vs the Space Mutants foi uma exceção.
- Muitos dos produtos de merchandising dessa época não fazia ideia de como eram os Simpsons. As empresas só tinham acesso a uns pouquíssimos episódios e algumas artes conceituais que a FOX mandava pra eles. É por isso que poucos personagens aparecem e sempre com as cores erradas dos primeiros episódios, como por exemplo o Moe de cabelo escuro, o Barney de cabelo amarelo e as roupas erradas do diretor skinner.
Sobre a nota, vou me basear no velho Change e não no jovem Change. Quando mais novo eu amava esse jogo… Principalmente por não ter o que comparar – na época desse jogo tudo o que eu sabia de games eram os antigos jogos do Atari 2600. E minha paixão pelos Simpsons era tão grande que qualquer migalha que oferecessem pra mim com a cara do Bart Simpson já estava de bom tamanho.
Mas jogando hoje e comparando com os outros games que saíram na época:
