Nerd Show
Nerd Show: Márcio Seixas
Esta semana, os Melhores do Mundo entrevistaram o dublador Márcio Seixas. Entre seus trabalhos está a voz de personagens como Batman e The Tick, além da clássica voz “versão brasileira Herbert Richers”…
Na entrevista, Márcio fala palavrão, reclama do desrespeito contra os dubladores no Brasil e fala um pouco sobre sua profissão. Uniiiii-vooooooos…
Mallandrox: Quem são os melhores dubladores brasileiros atualmente na sua opinião?
MS: Guilherme Briggs é, na minha opinião, o melhor dublador que surgiu nos últimos 20 anos.
Bugman: Eu não sei se você já ouviu falar de uma gravação que rola na web conhecida como “Bátima: feira da fruta” (é bem fácil de achar na web ou no youtube) de dois fãs que dublaram um episódio inteiro da série clássica com Adam West. O episódio é o maior sucesso entre fãs. O que você acha disso e quais são as possibilidades que você vê na internet?
Márcio Seixas: “Batman feira da fruta” não sei o que é isso. Perdão, não posso opinar, por não conhecer.
Mallandrox: Como foi o início de sua carreira como dublador, e diga os principais personagens que você já dublou. A vida de dublador é esse céu de brigadeiro que muitos nerds acham?
MS: De maneira nenhuma a vida do dublador é um céu de brigadeiro. Trabalhamos muito, somos mal-remunerados, explorados, lesados.
Esse desrespeito só acontece no Brasil. Em qualquer parte do mundo onde a dublagem é obrigatória, os dubladores vivem da atividade. Nós não podemos viver da dublagem, porque não dá. Todos nós temos outras atividades.
Comecei minha carreira em 1974 nos estúdios da Herbert Richers onde trabalhei por 19 anos. Pedi demissão quando percebi que, como empregado do Herbert Richers, seria obrigado a dublar essas porcarias de novelas mexicanas e venezuelanas. Isso foi por volta de 1988.
Desde então sou dublador freelancer, não tenho vínculo empregatício com ninguém, logo, eu só dublo o que me interessa.
Nerd Reverso: No final de um dos episódios da Liga da Justiça (“This little piggy”), você dá uma de crooner e canta uma música. Foi uma experiência nova pra você como dublador? Cantar como personagem é mais difícil que falar como um?
Márcio Seixas: Fiquei muito surpreso quando amigos e fãs da série me informaram que eu “cantei bem” num episódio. Pensei que estavam confundindo outra série com a do Batman que eu dublo. Decifrei o mistério na própria empresa que dubla o personagem; um colega cantou por mim, já que eu desafino até parabéns pra você. Cantar é um tormento pra mim. Não canto nada.
Mallandrox: Sobre a adaptação na hora de dublar, você é a favor de dar aquela “abrasileirada” nos filmes, seriados, e desenhos, ou prefere ser fiel ao original?
MS: Sou sempre a favor de um texto coloquial, com nossa maneira de nos expressarmos. A adaptação é sempre o melhor caminho.
Change: Como foi a dublagem do desenho animado do Tick? Li em algumas revistas que vocês rolavam de rir no estúdio!
MS: Realmente, dublar o Tick foi um dos momentos mais divertidos de minha vida de dublador. Eu adorava fazer aquilo, assim como os colegas que dublavam os outros personagens. O diretor também adorava a série, de modo que tudo se encaixou pra gente poder fazer um bom trabalho – acredito – neste personagem que infelizmente durou poucos capítulos.
Mallandrox: Como é o reconhecimento dos fãs para um dublador? Alguma vez algum fã seu já reconheceu a sua voz na rua ou algum outro lugar parecido? E como é ter que escutar toda hora “imita o Batimá aí!”?
MS: Nas lojas, no táxi, no telefone, no balcão de uma lanchonete, num restaurante, sempre tem alguém que reconhece minha voz. Mas raramente me pedem pra “imitar” o Batman. Quando isso acontece eu digo que preciso de um microfone pra realizar a “imitação”.
Change: Em uma entrevista com Manolo Rey que fizemos aqui no MdM , ele falou que alguns estúdios canibalizam o mercado cobrando preços ridículos e fazendo dublagens péssimas (no novo desenho das tartarugas ninja, todas elas têm sotaque paulista e vozes parecidíssimas). A história se repete com a Turma do Pânico dublando o filme de um clássico como Asterix. Como você vê esse cenário?
MS: Hoje sou um profissinal muito descrente da nossa força. Nos obrigam a fazer coisas que no passado jamais faríamos. A turma do Pânico não passaria nem na porta dos estúdios de dublagem há 15 ou 20 anos atrás porque a mobilização da categoria seria muito forte. Eles não teriam chance de realizar o trabalho.
Outra ingerência no nosso trabalho que me deixa bastante humilhado e frustrado, embora eu, Márcio Seixas, me recuse a fazer esse trabalho antí-ético e mórbido, é a dublagem de não-atores nos documentários sobre as tragédias que são exibidos no Discovery Channel, National Geographic, History Channel e outros canais.
Como é possível meus colegas aceitarem dublar a mãe de uma vítima do terrorismo no ataque de 11 de setembro falando para a câmera sobre os últimos momentos que passou com a filha antes dela embarcar no avião que se chocou contra as torres, e dublar, chorar em português, na boca dessa mãe que fala da dor da perda de sua filha?
Como é possível aceitar esse tipo de trabalho? Como é possível aceitar que nos imponham esse absurdo? É possível sim, meus colegas paulistas aceitam e dublam, pra minha grande tristeza. Outro absurdo que aceitamos passivamente, colonialmente, humildemente, para minha vergonha, é o locutor de chamadas do NATIONAL GEOGRAPHIC terminar a gravação do texto dizendo “…NAT GEO!”
Nét gíôu é a puta que pariu!!!
Mallandrox: Como é para você os erros de continuidade que acontecem sempre na dublagem brasileira? Você leva numa boa ou fica chateado pelo Batman ter sido dublado pelo Ricardo Juarez em O Mistério da Mulher-Morcego, por exemplo?
MS: De forma nenhuma. Há tantas versões de Batman que nenhum de nós pode dizer EU SOU O BATMAN.
Não, o que podemos dizer é “EU SOU O BATMAN DO DESENHO TAL ou O BATMAN DO FILME TAL.”
Bugman: Quais os cursos e cuidados que você recomenda a quem quer se tornar um dublador? Qualquer um pode se tornar com o devido preparo ou é preciso começar desde cedo?
MS: O que eu recomendo a quem quer entrar pra dublagem é uma perfeita leitura em voz alta, e que essa leitura seja fluente mesmo, sem tropeços. E bons conhecimentos de inglês.
Mallandrox: Já que você dublou o Batman, responda… Quem é o melhor Batman? Adam West, Micheal Keaton, ou Christian Bale?
MS: Nenhum dos três. Christian Bale como Batman foi patético de tão ruim. O melhor Batman pra mim, seria o Billy Zane. Ele é a cara do Bruce Wayne.