Não li, nem lerei[?] Apanhadão
Histórias em quadrinhos, romances, bulas de remédio… Um monte de coisa divertida (ou não) cheia de letrinhas e que eu não tive saco de ler até o fim!
Rapaz, é um fato. Eu leio muita coisa. É meu segundo hobby favorito, depois daquele de seda com porquinhos alados. Mas também é um fato de que, pra dar andamento numa fila de leitura que já alcança 2,30 metros aproximadamente, é fatal que eu tenha de abandonar algumas coisas nem tão legais assim. Então, nessa nova novidade, o Nem li, nem lerei [?], farei um apanhadão dessas coisas que eu peguei pra ler e larguei pra lá!
Arlequina #1, Uma estranha no ninho
O que é: Gibi solo da Arlequina Novos 52, reunindo os volumes de 0 a 8 da edição gringa. Por Jimmy Palmiotti, Amanda Conner e mais uma caralhada de gente.
Por que não rolou? Cara, não sei porque cargas d’água em algum momento eu achei que a deadpoolização da Arlequina N-52 podia render bons frutos. Aí encarei esse encadernado e… Nhé. Ok, o número zero, apesar da óbvia quebra da quarta parede, consegue ser divertido, principalmente em decorrência da alternância de desenhistas. Mas é só. Quando o gibi começa mesmo (na edição #1) dá aquela brochada com todo o exagero mongol metido a non sense. Dormi e larguei pra lá.
A fina flor da sedução, de José Louzeiro (coleção Primeira Página)
O que é: Livro de estreia da coleção Primeira Página, exclusiva de romances policiais, traz o calejado José Louzeiro (autor, entre outras coisas, do roteiro do filme O Homem da Capa Preta), narra a história de um jornalista velha guarda aposentado que se vê às voltas com uma morte misteriosa.
Por que não rolou? A trama é cheia de uns anglicanismos chatos nos nomes dos personagens, um pastiche de noir besta e raso que não prende nem empolga, parecendo que o Louzeiro fez só por fazer, pra garantir mais alguns tostões no orçamento do mês. Acho inclusive que quebrei a minha lei das 100 páginas e desisti bem antes disso – até porque, se tivesse lido as 100 páginas da lei, teria ido até o fim.
Revista História Viva – Edição especial Grandes Temas: Super-heróis contam a história do século XX
O que é: Exceto por uma coisa aqui e outra ali, uma versão tupiniquim da revista francesa Historia, numa edição especialmente dedicada às origens dos mais novos fenômenos do cinema, ou sejE, os quadrinhos de super-heróis.
Por que não rolou? A superficialidade mata, mate a superficialidade! A revista começa mal quando a primeira matéria, aquela que deveria introduzir as generalidades do assunto que vai ser tratado, desconsidera todo o desenvolvimento da linguagem dos quadrinhos fora dos Estados Unidos, sequer garantindo-lhes uma notinha de rodapé que fosse. Daí acrescenta-se a tradução truncada em alguns momentos e puf… Foi o suficiente para que eu começasse a saltar as matérias. O texto sobre os super-heróis do Islã é vergonhosa de tão irrefletida e o texto do Roberto Guedes sobre super-heróis brasileiros, que mais uma vez usa do tema para dar alguma relevância histórica ao seu insosso Meteoro e a alguns fanzines de super-heróis ABHQ, desconsiderando completamente outras iniciativas menos afeitas à panelinha (como o Necronauta ou mesmo o insistente Solar do Wellington Srbek). Tá na fila pra ir pro sebo.
Rastreadores da taça perdida, de Giorgio Cappelli
O que é: Gibi escrito e desenhado por Giogio, lançado ano passado um pouco no aproveitamento do espírito da Copa no Brasil. Conta a história de dois sujeitos, o galã Bovínio Del Toro e o CDF Giovanni Mantovani, que de repente descobrem que a taça do tri, a Jules Rimet, na verdade não foi derretida, mas escondida e partem em sua captura. É o suficiente para que eles se envolvam em altas confusões. Nosso chégas Enéas Ribeiro fez as cores.
Por que não rolou? Em poucas palavras, porque o gibi é chato. O papel é bom, a impressão é boa, mas a história é ruim demais. Tudo é meio infantilóide e forçado demais pra ser minimamente engraçado. Não testei com crianças para ver se elas podem se interessar, porque talvez o problema seja de público alvo. Mas não conheço crianças que curtem futebol e quadrinhos, costuma ser uma coisa ou outra. Ou seja: as que gostam de quadrinhos querem super-heróis e congêneres, e as que gostam de futebol, não tão muito a fim de ler um gibi sobre a taça do mundo que era nossa. Houston, temos um problema!
Roteiros e Criação de Personagens, de Primaggio Mantovi
O que é: Livro lançado pela editora Criativo, da série “Aprenda e Faça” sobre (d’oh!) roteiro e criação de personagens. Mantovi trabalhou na RGE e na Abril dos áureos anos, escrevendo e desenhando HQs das editoras.
Por que não rolou? Eu confesso: tenho sérios problemas com juízos de valor declarados e preguiçosos. Foi o que aconteceu aqui. A leitura já não ia das melhores, quando já no começo o Primaggio me solta uma crítica às releituras de velhas histórias (como Branca de Neve, João e Maria, Noé, Van Helsing e outros) como sendo “sensacionalistas” e arremata com o velho argumento pelézístico de “Pensem nas criancinhas”, soltando uma citação genérica para tanto, e pior, “creditada” a um autor anônimo (“É lamentável, mas as crianças de hoje que assistirem a essas ‘releituras’, quando adultas as repassarão para os seus filhos.”)! Ah, tenha a santa paciência!
Pornopopéia, de Reinaldo Moraes
O que é: Romance (tá escrito na capa) sobre um cineasta marginal que espera fazer sucesso com filmes cult, mas cujo dinheiro vem mesmo de vídeos promocionais baratos e uma passada pela indústria pornográfica da Boca do Lixo. Tudo para ser um sucesso, né?
Por que não rolou? Não rolou mesmo. Segui à risca a lei das 100 páginas, mas o objetivo não declarado (mas explícito) de fazer uma versão modernosa de “Grande Sertão Veredas” (a narrativa que vai-não-vai-volta, os neologismos dixcoladox), dá no saco de qualquer ex-cristão. E olha que a promessa de putaria costuma ser forte suficiente para pra eu me embarcar em furadas mais longas, mas 475 páginas disso aí é muito.
As aventuras de Nhô-Quim & Zé Caipora – Os primeiros quadrinhos brasileiros 1869-1883, organizado por Athos Eichler Cardoso
O que é: Publicação do Senado Federal reunindo o trabalho de pesquisa, organização e adequação dos pioneiríssimos quadrinhos de Angelo Agostini nos tempos do Brasil Império.
Por que não rolou? Cara, esse é um dos abandonos mais tristes de todos. Athos Cardoso fez um puta trabalho de pesquisa, organização e restauração dos primeiros quadrinhos do Brasil, pioneiros também no palco global. Ele gasta um bom tempo explicando, na introdução, todo o trabalho que teve, sobretudo na restauração das pranchas, de modo que ficassem legíveis e publicáveis. Tudo isso para… a Editora do Senado meter uma lombada quadrada cheia de cola que simplesmente impede a leitura dos quadros! Parabéns, capivaras! Vocês se superaram!
É isso aí, macacada. Até o próximo (ou não) “Nem li, nem lerei [?]”!