GibiCon 2014 ou O acampamento de verão da turma do barulho dos quadrinhos!
Já se vão uns anos desde que eu voei pela primeira vez para Curitiba, a fim de cobrir um evento de quadrinhos novo que surgia na cidade, uma tal de GibiCon. Acho que foi a primeira vez que eu estive como “representante” do MdM (grandes merdas!) em algum lugar. Era ainda um evento pequeno, procurando sua identidade num mundo que, com força mesmo, só tinha o FIQ. Além do mais que tradicional evento mineiro, a GibiCon, com sua apropriação do centro de Curitiba, com atividades acontecendo em diferentes espaços, tinha claras (e declaradas) inspirações em eventos internacionais, como o Festival de Lucca.
Na edição deste ano (que, na cronologia dos eventos de quadrinhos, é a número 2, porque a primeira foi a #0), essa pegada mudou um pouco: sabendo do potencial de ocupação de espaços do evento, saiu de cena o Memorial de Curitiba (e os espaços próximos, como o SESC Paço da Liberdade) para a entrada do Museu Municipal de Arte, o MuMA. Se por um lado o evento ganhou uma “cara” (com tudo concentrado num único prédio, fica mais fácil reconhecer o evento, indicar e referenciar), também perdeu em circulação: não houve quem não reclamasse do aperto que passou circulando pelos standes, na dificuldade de realizar uma das coisas mais divertidas desses eventos que é o encontro – era impossível conversar com alguém dentro do espaço do evento por mais de dois minutos sem tomar encontrões ou ficar se movendo de um lado para o outro a cada pedido de “com licença”.
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Se isso faz parecer que o evento foi ruim, meu filho, pois digo-te não, mortal! A GibiCon 2014 entrou para os anais (ui) como um dos eventos mais divertidos que já fui. Talvez por, diferente do FIQ, ser fora da minha vizinhança mas também recheado de amigos e chégas, o evento curitibano é quase como um acampamento de verão: você encontra as pessoas para conversar, beber, trocar quadrinhos, beber mais um pouco, rir muito, falar mal de quem não foi, beber, falar bem de quem não foi, beber, falar mal de quem foi na cara de quem foi, conhecer gente (e quadrinhos) novos, beber, avacalhar o futebol de quem sabe jogar, beber… Diante de tanto “beber”, não se admirem com as fotos bizarras envolvendo este que vos escreve (ui! Que evoluído!) e a pista de dança. Simplesmente não se admirem.
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Enfim, em Curitiba não existe a responsabilidade mineira de agradar a visita, porque, ORAS! eu sou a visita! E eu vou te falar uma coisa: é nessas situações que se vê como tem gente séria e bacana (tadinhos…) que realmente gosta do MdM: não raras vezes ouvíamos um “Nossa, você que é o Nerd Reverso/Poderoso Porco? Imagina eles mais bonitos…” ou coisa que o valha. Ser convidado a sentar à mesa pra tomar um goró com David Lloyd (o novo chégas do Nerd Reverso) é coisa que não tem preço. Ou um leitor te parar e presentear com canecas personalizadas (não, ele não deu pra mim), simplesmente porque gosta do site (e, claro) quer divulgar seu próprio blog (apesar de ser um leitor do MdM típico, e divulgar o site através de um boton sem nada escrito. Né, Tíssy Alex?). Ou um certo manequim de um certo site nerd aí vir dizer: “Sim, eu trabalho pra eles mas também gosto muito do site de vocês. Tem problema?” E eu que sei? Ratinhoooooo!
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Com essa pegada mais pessoal, a GibiCon definitivamente se firma como um dos grandes eventos do país e, ainda que não tenha o tamanho do FIQ, ganha identidade justamente com isso, como um evento mais “íntimo”: o contato pessoal ainda é mais possível, e é tudo mais conciso – foram poucos os artistas com standes que não participaram de mesas redondas. Um exemplo é que até o Jorge Rodrigues, da Comix, teve espaço para falar um pouco aos frequentadores, no painel sobre Eventos de Quadrinhos.
Mas algumas outras coisas precisam ser destacadas no acampamento de verão, digo, GibiCon deste ano. Por isso, enumero:
1) Um cidadão que passou quase despercebido na multidão de artistas e leitores merecia mais destaque. Tô falando de Eduardo Vetillo. O nome pode não dizer muito para muita gente, mas ele era simplesmente um dos desenhistas do clássico gibi dos Trapalhões dos anos 1970/80, além das HQs do Chaves e do Chapolim nos anos 90. Figura iluminada, humilde como poucos, com quem eu pude rapidamente trocar uma ideia no bar e me confidenciou: “Eu nunca estive num evento tão grande assim!” PORRA! Alô Fabrizio! Alô Afonso! Essa geração não vai viver pra sempre! Bora dar visibilidade, digo, memória pra esse tipo de monstro quase esquecido!
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2) Falando em Vetillo, ele foi o co-campeão do primeiro Duelo HQ, paradinha que tem tudo pra ser a modalidade esportiva número #1 da nerdagem quadrinística! Com direito a torcida e tudo, o Duelo HQ pôs feras do traço (como Salvador Sanz, Klebs Jr., o próprio Vetillo e outros) para se enfrentarem em desafios de desenho: o autor da imagem mais criativa sobre um tema escolhido pela platéia avançava até a próxima fase, indo até chegar na grande final. O campeonato terminou empatado entre André Caliman e Vetillo – empate por pontos, porque na batalha final o Caliman ignorou a envergadura do oponente e fez uma partidaça com o tema “como fazer amigos e conquistas pessoas” (ou algo assim. O tema grande é culpa do Guilherme Kroll #prontofalei). Falando sério, o Duelo HQ foi algo tão divertido que lá mesmo nós já começamos o lobby pra trazer o esporte pro FIQ, criando uma chave mineira, cujo vencedor enfrentará o campeão da chave curitibana. Por sua vez, e isso foi ideia de ninguém menos que o iniciante Eduardo Risso, o vencedor brasileiro enfrentará o campeão argentino, criando a South America League of Campeóns do Duelo HQ!
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3) Mais uma vez, grande parte da graça estava nos independentes. É sempre muito mais divertido quando você pode bater papo com o autor do quadrinho ali na boa, sem grandes badalações ou afetações. Sempre vai ser a parte mais legal dos eventos pra mim. Juro.
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4) Quero pedir desculpas ao Klebs Jr., ao Felipe Cagno e ao Renato Guedes pelo meu futebol. Também a todo mundo que estava na festa de abertura da Joker’s e me viu dançar. Mal aí. Prometo que não faço mais.
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5) Infelizmente não pude assistir ao painel d’O Gralha, mas não custa: EU JÁ SABIA! E pensar que tem muito “pesquisador” do quadrinho nacional, desses que adoram ver plágio em tudo, que engoliu a pataquada do Capitão Gralha, o super-herói paranaense dos anos 1940! Ah, pelo amor de deus!
É isso. No mais, agradecer aos amigos que revi, que fiz, com quem bebi. Parabenizar a organização do evento, em nome do nosso chégas Fabrizio Andriani (ou “Fabrício Adriane”, segundo a afiliada local da Globo), organizador do evento.
Que venha a GibiCon 2016!