A Gente Vimos: Castlevania
Alguns, sei lá, meses atrás, eu diria que Castlevania nunca mais voltaria aos olhos do público. A dona de seus direitos virou uma empresa especializada em jogos de azar japoneses cuja maior contribuição recente no mundo dos videogames foi manter a franquia PES viva.
E um jogo do Bomberman pro Switch. O que é sempre bom. Bomberman é sempre bom.
Agora, vindo do mais puro nada, surgiu uma série de Castlevania no Netflix. Escrita por Warren Elis. Mas que caralhos, você se pergunta.
E até que não é tão ruim.
A história começa com uma mulher adentrando o castelo de Drácula, dizendo que ela é uma mulher que acredita na ciência e queria aprender com o Mestre Imortal dos Vampiros. É um plano que não vejo como daria errado, e, surpreendentemente, não dá. Quer dizer, ela acaba queimada na fogueira por acusações de bruxaria, mas pelo menos ganha a confiança do vampiro. O suficiente para ele dar à cidade que a condenou o tempo conveniente de um ano para se preparar para a completa destruição provocada pelas hordas do capeta.
A partir daí, a animação parece seguir os passos de Castlevania 3: Dracula’s curse do Nintendinho. Temos Trevor Belmont, descendente da exilada família dos Belmont, se aliando à feiticeira Sypha Belnades para proteger a cidade do ataque (bem fuleiro) de Drácula, e acabam encontrando o filho do vampiro, Alucard. E… bem, essa é toda a história. Acaba aí.
E olha que eu nem me esforcei para contar toda a história. Esses quatro episódios de Castlevania são uma introdução, e nem dá tempo dos personagens se afastarem dos clichês em que foram inicialmente inseridos. Trevor é o Herói Relutante, Sypha é A Mulher, e Alucard… bem, Alucard apareceu por 10 minutos, mal deu tempo de se consolidar como O Cara Misterioso. Não que sejam personagens ruins, longe disso. Sypha sempre rouba a cena quando aparece (exceto quando não querem que ela apareça) e Trevor é um beberrão divertido, mas é só isso.
A animação tem momentos de mais destaque, conseguindo oferecer cenas de ação maneiras (e um uso criativo das armas de Castlevania) e ditar o tom da série. Tem momentos em que os personagens ficam paradões com os olhos esbugalhados, mas nada que chegue a incomodar. Além disso, ficam esquecidos quando as cenas mais dinâmicas chegam.
Os diálogos, contudo… bem, como já disse o Mais de Oito Mil no Twitter, eles parecem muito uma novela. Você pode inserir essa série em qualquer ponto histórico, não há nenhuma era da humanidade em que eles pareçam naturais. A maior parte das vezes eles são até divertidos, mas quando as cenas mais impactantes tem frases que poderiam encaixar melhor em Beijo do Vampiro, você percebe que foi mais por cagada do que por mérito.
Ah, e sobre Warren Elis? Temos violência e o clichê da Igreja como a malvada. Pronto, essa parece ter sido a contribuição total dele na série.
Não que Castlevania seja ruim. É só que os 4 episódios de 20 minutos cada fazem ela parecer mais um piloto do que uma série de verdade. Eu recomendo bastante que você assista, até porque o tempo perdido não vai fazer nenhuma falta na sua vida, mas só espere ser apresentado aos personagens e à trama. De resto, vamos esperar a segunda temporada, que pelo menos já foi anunciada. Mas dá pra incluir pelo menos o dobro de episódios aí.
Nota: 7,0