A gente lemos Special Edition: Independentes!
Então, macacada! Comic Con Experience chegando, muito material de chégas pra adquirir… Logo, é prudente fazer dar uma agilizada na pilha de reviews de HQs independentes, né? Considerando que ainda tem coisa ainda do FIQ do ano passado, é inclusive melhor dar mais do que uma agilizada!
O esquema, vocês sabem como é: um parágrafo ou dois, coisa rápida, plano de aceleração do crescimento sem propina. Demoril?
Os mais antenados hão de se lembrar que eu “citei” essa HQ num dos últimos “A gente lemos” em vídeo (que também andam atrasados. Essa é minha vida, esse é meu clube). Em formato pocket e impressa como uma sanfona, Talvez seja mentira do Shiko (Graphic MSP Piteco: Ingá), retoma o espírito dos velhos catecismos de Carlos Zéfiro para contar os dois lados de uma historinha bem safada. A arte do Shiko é foda, todo mundo que leu Ingá sabe, e aqui ela casa perfeitamente com a putaria cafajeste do tempo do Zéfiro. É um material não tão fácil de achar, mas achando-o, cofreie imediatamente!
Nenhum dia sem um traço, de Ernani Cousandier
Ernani é cartunista, com trabalhos publicados em jornais da Serra Gaúcha, e reúne neste “Nenhum dia sem um traço” alguns de seus trabalhos dos últimos quatro anos. “Valter”, com histórias mudas de um fotógrafo de jornal; “Tchê & Tchó”, com dois gaúchos velhacos com seu CTG improvisado dentro de um apartamento; a HQ “No Vale das antas”, uma sátira histórica e, por fim, as aventuras de “Menegatto”, um ladrão trambiqueiro, meio James Bond meio Gino Meneghetti. Ernani faz um humor ingênuo, mas ainda assim capaz de divertir. O traço remete ao cartum mais clássico, dinâmico e devotado ao estilo linha clara. A edição, em formato grande, é caprichada. Acaba sendo um material que vai agradar mais aos leitores iniciantes ou mais jovens, pela leveza do humor. Mesmo assim vale a pena, sobretudo pela segurança do traço do Ernani – foi um material que eu, sinceramente, gostei de ler.
Last RPG Fantasy, do estúdio Lobo Limão
Primeiro material impresso lançado pelo power trio curitibano do Lobo Limão (de Maki), Last RPG Fantasy é um livro-HQ-jogo, daqueles antigos que a gente usava pra se divertir fora do banheiro nos tempos pré-internet. Na trama, os irmãos Ventura (Vitor, Verônica e Vinícius) que partem num mundo de fantasia medieval, para reunir os três cristais mágicos e salvar, não só a Princesa, mas todo o mundo da invasão de terríveis monstros. Divertida, leve, Last RPG Fantasy atinge em cheio um público-leitor meio esquecido pelo mundo editorial dos quadrinhos, que é aquela moçadinha na faixa do fim da infância e princípio da adolescência. Os velhacos também devem gostar, sobretudo pelo fator nostalgia. Se for ler, vá esperando por algo na linha das revistas-jogo que a Ed. Abril lançava com os Trapalhões (como Didiana Jones) do que os livros da Penguin Books lançados por aqui pela Marques Saraiva nos anos 1990.
Mais uma HQ que eu citei num vídeo aí, acho até que no mesmo que citei o Catecismo do Shiko. Enfim, o Mario Cau é chégas das antigas, cujo trabalho eu acompanho de perto, sempre vale a pena dar uma conferida. Em Morphine, um desdobramento da sua série Pieces, cinco amigos vão parar, por diferentes motivos, na inauguração da nova boate, Morphine. Diferente dos trabalhos anteriores do Mario, esse não me desceu bem não. A teatralidade habitual aos personagens dele não caiu bem ao ambiente de uma boate, deixando os diálogos pesados, pernósticos. O mesmo acontece com alguns recursos gráficos, como o capítulo do delírio, que ficam perfeitos em Terapia, mas em Morphine dão a impressão de aprofundarem demais uma passagem de menor importância.
Samanta Flôor, dos Toscomics (Marca de Fantasia), com seu estilo gráfico característico, lança mão de 36 páginas para contar duas bizarras histórias de um inesperado “terror-fofo”. Na primeira, uma garotinha apronta poucas e boas ao encontrar, no sótão de casa, uma câmera amaldiçoada. Na outra, um caricaturista de rua passa a obter fama e sucesso depois que ganha a inusitada habilidade de ver caveiras no lugar do rosto das pessoas! Tudo isso sem um único “som” na história, além do “click” da câmera fotográfica. Inclusive, não há qualquer palavra capaz de descrever Click melhor do que “bizarro” – quem for acostumado, como eu, com o trabalho sobre o cotidiano que a Samanta produz, vai acabar se surpreendendo com este álbum, ao mesmo tempo em que vai ter certeza que ele tem tudo a ver com a produção dela. Leitura rápida, despretensiosa e divertida, Click é um álbum redondinho, que arranca, graças à expressividade dos personagens e o bizarro das situações em que se envolvem, uns bons sorrisos do leitor. Material recomendadíssimo!
Ascensão e queda de Big Mini, de Artur Fugita
Big Mini. O primeiro e maior astro pornô anão da história. Um gênio em seu campo, Big Mini acabou esquecido pela história. Quem foi ele? Como passou do anonimato ao estrelato e depois ao desaparecimento completo? É isso que Artur Fujita se propõe a contar nessa pequena biografia não autorizada, que tem por resultado mais uma HQ de sacanagem neste A gente lemos. Ascensão & Queda é uma HQ bacana, divertidíssima, com um traço dinâmico e firme. A pegada é muito mais de humor do que de putaria, mostrando como Big Mini construiu sua carreira até o sucesso absoluto. Há uma narração rimada, quase cordel, que acompanha a coisa toda. Confesso que o final meio piegas incomodou um pouquinho, mas nada que tire o brilho dessa grande (sem trocadilhos) HQ. Vale bem a lida!
É isso aí, macacada!