A gente lemos: gibis a granel!
Pré-inter-pós FIQ, eu li e sigo lendo muita coisa.
Acontece que, pré-FIQ, eu ia montando uma pilhazinha das coisas que eu tinha lido e que poderiam ser resenhadas. Pois aí chegou o Festival, duas novas pilhas de material para ler se formaram, ao lado delas uma nova montanha de materiais para resenhar crescendo e… Achei melhor reunir o Poderoso, o Porco, o Lucas e o Ed. e fazer um mutirão de resenhas curtas de um parágrafo (mais ou menos, mais ou meeeeeenos)! Pronto, todo mundo fica feliz, cinco dedos no nariz, a pilha diminui e eu posso seguir minha vida!
Então, pra começar, vamos lá com dez títulos. Neste post, apenas os lançamentos por editoras, excluídos portanto “o grosso” (ui!) do material adquirido no FIQ, que são HQ’s independentes.
Luke Cage Noir
(Roteiro de Mike Benson e Adam Glass, arte de Shawn Martinbrough. Editora Panini, 124 páginas, capa dura, miolo colorido, R$ 22,90)
O quarto álbum da série Marvel Noir que eu leio (os anteriores foram os dois do Aranha e o primeiro dos X-men), e não é porque é o Cage não, personagem negro e tal, mas foi o melhor álbum da série que eu li. Não é nenhuma história memorável e inesquecível, mas é uma boa HQ e, entre as outras citadas, a que melhor transportou o personagem para a década de 1930 e poucos, período da trama. Cage é um ex-presidiário que volta pro Harlem com a pecha de ser invulnerável. Mas no tempo em que ele ficou fora, muita coisa mudou, sua mulher sumiu, o poder mudou de mãos. Ainda há lugar para um Luke Cage? E mais importante, ele é mesmo indestrutível? Benson e Glass entregam uma trama simples, amarradinha, bem aclimatada e que não ofende a inteligência do leitor. Noutro ponto, a arte de Martinbrough às vezes confunde mais do que clareia, mas tira nota 6 e passa de ano mesmo assim.
Nota: 6,5
Love Hina #6
(de Ken Akamatsu. Editora JBC, 200 páginas, preto e branco, R$14,90)
E a trama do reprovado Keitarô rumo à conquista continua: as notas estão melhorando, a Narusegawa está caindo na rede devagarzinho… O volume traz a volta de Mutsumi Otohime, e o autor começa a forçar um pouquinho a barra – tanto no sentido de criar “problemas” para a trama que a gente sabe que são furados (a garota da lembrança é a Naru ou a Otohime? É a Otohime, certeza! ¬¬) , quanto no lado fantástico da trama, com tartarugas que falam e coisa e tal. A parte mais legal ainda está por vir (quando começam a “testar a imortalidade” do Urashima), mas esse volume foi fraquinho.
Nota: 5
Surpreendentes X-Men #4 – Caixa Fantasma
(de Warren Ellis nos roteiros, e Simone Bianchi, Adi Granov, Clayton Crain, Kaare Andrews e Alan Davis na arte. Editora Panini, 188 páginas, capa cartonada, miolo colorido. R$23,90)
Sentar na cadeira que foi de Joss Whedon, sobretudo no que tange aos mutantes, não é tarefa fácil. Talvez por isso que, entre colocar um pé-de-macaco qualquer e Warren Ellis, a Casa das Ideias tenha escolhido… Warren Ellis! Na trama, a equipe composta por Ciclope, Emma Frost, Wolverine, Fera, Tempestade e Armadura (nome provisório) é chamada para investigar a morte de um mutante assassinado por outro. Ambos desconhecidos, ambos não catalogados pós-Dia M. Mas a vítima não era um mutante… Tampouco seu assassino! Ellis toca o esquema para mostrar quem são seus X-men, e qual o status operacional da equipe – eles agora são amados por aí, respondem aos Médicos Sem Fronteiras, digo, Mutantes Sem Fronteiras e viajam o mundo pra cima e pra baixo, inclusive matando se for preciso para proteger os mutantes remanescentes. O roteiro segue bom, com diálogos rápidos, naturais e bem pensados. Seu único demérito talvez seja algum descuido do Warren, que já muito cedo aponta, do nada e quase spoilerento, qual mutante será essencial ao desfecho da trama, mas nada que comprometa. Destaque para a coletânea de “Túneis do Tempo” no final do encadernado, e a HQ foda desenhada pelo controverso Kaare Andrews, minha favorita. Falando em arte, Simone Biachi é foda, mas aqui há problemas: seus layouts de página, por exemplo, não ficam bons em lombadas quadrada (algumas páginas-duplas ficam difíceis de entender o fluxo) e as cores de Rob Schwager não estão muito legais não, muitas vezes soando plásticas demais para um traço tão orgânico. Agora é esperar que a Panini republique o próximo arco (Xenogênese) nesse formato.
Nota: 7
Livros da Magia
(Roteiros de Neil Gaiman, arte de John Bolton, Scott Hampton, Charles Vess, Paul Johnson. Editora Panini, 212 páginas, capa dura, miolo colorido, R$ 24,90)
Quando J.K. Rowling lançou seu Harry Potter, as citações de que havia uma “inspiração” forte no menino bruxo de Neil Gaiman eram óbvias e pesadas. Tão óbvias e pesadas que o próprio Gaiman veio a público dizer que não era cópia, que na verdade ambos haviam bebido do mesmo caldeirão de referências junguianas (marca registrada) e tal. Aham, tá serto ele (nada a ver que Harry Potter e Tim Hunter sejam posses da mesma corporação, né?).
Se a presença do “jovem-bruxo-messiânico-overpower” (com coruja de companhia) não passa de um arquétipo junguiano, o mérito de Gaiman então em Livros da Magia é reunir em duzentas e poucas páginas, todo o lado mágico do UDC pós-Crise. Todo mundo está lá, nem que seja visto de soslaio ou apenas numa citação. Com isso ele amarra com (muita) competência toda a magia do velho UDC, sintetizando-a para quem viesse depois. Pena que, mais depois o que veio foram os Novos 52…
Nota: 8,5
O fantasma de Anya
(de Vera Brosgol. Editora Jangada, 224 páginas, capa cartonada, preto e branco, R$ 24,90)
Grande surpresa essa HQ, comprei outro dia porque não tinha nada pra comprar na banca – aí vi, gostei do desenho, do preço e me surpreendi. Anya é filha de imigrantes russos tentando viver o sonho americano como uma americana. Até que, num incidente, ela dá de cara com um fantasminha camarada à busca de amizade… eterna! A história é boa, o “terror” gera alguma angústia, e ainda discute, sem pieguices, a questão do estrangeiro. Nisso acaba lembrando um pouco “O Chinês Americano”, de Gene Luen Yang, mas acaba seguindo seu próprio caminho. A arte de Vera Brosgol é ótima, firmemente calcada na animação. A edição nacional, se merece vivas pela coragem de publicar uma HQ desconhecida a um preço bacana (ainda que ganhadora do Harvey E do Eisner), também merece um puxão de orelha pelo descuido: há páginas com a impressão borrada e tons fora do registro. Nem sempre preço é tudo.
Nota: 7,5
(de Estevão Ribeiro e Mário César nos roteiros, e Vitor Cafaggi e Paula Markiewicz; Paulo Crumbim e Cris Eiko; Caio Yo e Jânio Garcia; Raphael Salimena; Leo Finocchi; Mário César e; Emerson Lopes nas artes. Editora Desiderata, 88 páginas, capa cartonada, miolo colorido. R$ 39,90)
Quando o nosso parça (já que “chégas” tá recalcando a audiência) Estevão Ribeiro lançou, em 2010, o experimental “Pequenos Heróis”, foi um desbunde (ui!). A fodíssima sacada de adaptar os conceitos dos personagens da maior editora de super-seres do mundo ao universo infantil foi uma sacada de mestre e a execução, carregada de artistas ainda pouco ou mesmo desconhecidos, encheu os olhos. Três anos depois e vendas na gringa à parte, Estevão reunião outro time de artistas (com muitos retornando) para contar histórias com os personagens daquela outra editorazinha lá, a Marvel. Entretanto, diferente de seu irmão mais velho, Futuros Heróis passa longe de ser tão empolgante ou inventivo – pelo contrário, exceto por duas menções honrosas (“UUAAAAHHHH”, com o Salimena, e “Garoto com Garras”, com o Emerson Lopes), todas as outras histórias parecem meras variações de um mesmo plot (o assédio praticado por personagens ao estilo dos vilões) repetido incessantemente. Nesse ponto, mesmo as menções honrosas pecam, porque lembram bastante, respectivamente, “Meu querido passarinho” (com o Pelúcio) e “O Garoto das Trevas” (com o mesmo Emerson Lopes) de Pequenos Heróis. O álbum vale muito pelas artes (destaco o Salimena e a dupla Crumbim/Eiko, que detonam), mas o Estevãozão podia ter feito mais nas letras – ele dá conta, vide o álbum anterior.
Nota: 5
(de Vitor Cafaggi. Editora Panini, 100 páginas, capa cartonada, miolo em tons de cinza, R$14,90)
Se o STJD não fizer nada quanto a isso, o Valente do Vitor Cafaggi subiu de vez de categoria, passando de “independente auto-publicado” para “gibi de editora gigante”. Para essa estréia pela Panini, Vitor deixa de lado um pouco os rocamboles amorosos de Valente para se concentrar mais na nova fase de vida do personagem, entrando pra faculdade. Amigos, bebedeiras (dos outros), ônibus e oportunidades perdidas dão a tônica deste novo volume, que dessa vez tem porcos – só por isso já é o melhor de todos! Mentira, Valente por Opção é o mais morno dos três volumes, mas de uma “mornidão” necessária: “… por Opção” é um volume de passagem, de transição, mas passa longe de ser ruim. Segue deixando o gostinho de quero mais em busca do próximo. Devagarzinho, mineiramente, Vitor está construindo um personagem e uma voz quadrinística: Valente já não parece mais um Punny Parker “caninado”: ele é o que é, Valente. Por opção.
(no próximo o porquinho precisa virar um personagem com falas, Vitor! #vaiquecola)
Nota: 7
Yuri – Quarta-feira de Cinzas
(de Daniel Og. Editora Conrad, 272 páginas, capa cartonada, miolo preto e branco. R$36,00)
Namorei esse gibi por meses na sessão de quadrinhos de uma livraria aqui de BHCity. Pós-FIQ, com o bolso ainda frouxo pelo Festival, acabei comprando-o. Yuri – Quarta-feira de Cinzas conta a história de um estranho zumbi surgido no meio do Carnaval do Rio de Janeiro, o Yuri do título. Yuri é um publicitário que, de saco cheio da vida, decide abotoar ele próprio o paletó de madeira de si mesmo, na sua pessoa. Como ele não morreu, mas virou manchete, digo, zumbi, ele quer morrer de vez – mas é carnaval, porra! É o Rio de Janeiro, caralho! É mais ou menos isso que Andrei, um ladrão de carros diria, ao ajudá-lo a morrer definitivamente, sem direito a júri pleno. Yuri – Quarta-feira de Cinzas se desenrola numa sucessão de absurdos non sense, com o paradoxo entre Yuri, o morto depressivo, e o hilário Andrei, que quer usar do novo amigo para viver mais (e melhor). O tom e a bizarria me lembraram muito de A morte e a morte de Quincas Berro D’Água, do Jorjão. A arte do Dog é foda, traz uma atualizada bacana num estilo a lá Flávio Colin. Lançada em 2011, ler essa HQ foi uma gratíssima surpresa!
Nota: 9
20th Century Boys #7
(de Naoki Urasawa. Editora Panini, 216 páginas, capa cartonada, miolo preto e branco. R$10,90)
Enfim começamos a saber o que diabos aconteceu no Réveillon de Sangue! Kenji e seus amigos, a mal falada “Facção Kenji”. Com efeitos mais devastadores do que o ataque do Raja Casablanca do Marrocos, tudo foi perdido porque o grupo aparentemente não tinha a menor chance. A narrativa do Réveillon de Sangue engrandece, em muito, o lado humano dos personagens envolvidos, mas eu receio que as reminiscências da infância dos garotos acabem inflando demais a trama, justificando tudo do presente em acontecimentos do passado. Espero que não.
Nota: 7
Planetary #1
(de Warren Ellis e John Cassaday. Editora Panini, 164 páginas, capa cartonada, miolo colorido. R$21,90)
A melhor notícia de republicação neste ano (mentira, teve o Reino do Amanhã também) enfim se concretizou em álbum na mão. Enfim, Planetary é uma série ducaralho e dispensa apresentações. Se você não conhece, aproveita a ocasião e se inteira da série, que é de uma qualidade pra lá de Marraquexe. Mas, se eu não sou do grupo que reclama desses encadernados “baixa renda” da Panini (capa cartonada e preço pela casa dos 25 mangos) – do contrário, acho-os ótimos, dou um puxão de orelha no Denardin e no Daniel Lopes: pô, negada, não rolam aqueles textos bacanas sobre os eventos e referências da trama não? Pô, isso é uma material super legal, que engrandece a edição e agrega muito ao camarote. São status! Pode-se até argumentar que a versão original não tem notas nem nada mas, eita! é a cultura dos gringos, né? Pra nós valiam umas notinhas, tipo aquelas de Ex Machina (ainda que eu prefiro textos corridos como no tempo da falecida PiXel). Só pela edição crua e seca, sem nem uma cuspidinha, é que a HQ não leva o único dez da noite. Quem sabe na próxima edição?
Nota: 9,5
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*A imagem de chamada desse post foi chupetada lá do blog/portfólio do Stiven Valério. Vale a vista.