“Electricomics”: Alan Moore e o (possível) futuro dos quadrinhos.
Não é de hoje que o véio barbudo sai por aí dando pitacos na indústria de quadrinhos, isso não é novidade nenhuma, mas parece que agora ele vai levantar a velha bunda e contribuir com alguma coisa, pra variar.
Num pronunciamento nesta manhã, Alan Moore em parceiria com uma série de outros autores, PESQUISADORES (?!) e INVESTIDORES (?!!) ingleses anunciou o desenvolvimento de um app dedicado a publicação de quadrinhos para dispositivos móveis, o “Electricomics“. Até aqui morreu néves porque já temos no mercado diversos aplicativos (como o excelente Comixology) dedicados às HQs para celulares e tablets, mas o diferencial está no foco da empreitada: permitir, num ambiente totalmente aberto, que autores de quadrinhos desenvolvam E PUBLIQUEM suas obras de maneira TOTALMENTE INDEPENDENTE. Tipo num “Catarse de grátis”.
à direita, Leah Moore, quadrinista. À esquerda, a ENCARNAÇÃO DO DESGOSTO.
Segundo o próprio Moore, o foco do aplicativo é promover a pesquisa e desenvolvimento das novas mídias em dispositivos móveis para elaborar novos usos dessas tecnologias em prol da arte sequencial. Nas palavras dele:
“Mais do que simplesmente transferir a narrativa dos quadrinhos da página para a tela, nós queremos criar histórias especificamente planejadas para testar essa narrativa nos limites das novas tecnologias. Assim estamos designando times de ponta de autores da indústria e permitindo que estes deem sua contribuição no intuito de criar uma nova capacidade de contar histórias em quadrinhos.
E isto será disponibilizado gratuitamente para todo o excitante talento emergente que sem dúvida está por ai, apenas esperando uma oportunidade de acesso ao kit de desenvolvimento que os permitirá criar os quadrinhos do futuro.”
O citado “kit de desenvolvimento” será testado inicialmente pela publicação de quatro quadrinhos originais, num total de 32 páginas, disponibilizados pelo aplicativo. Os títulos são:
Big Nemo, situado em 1930 no qual Alan Moore revira o lixo revisita o Little Nemo, de Winsor McCay
Cabaret Amygdala, um “horror moderno”, do escritor Peter Hogan ( de Terra Obscura).
Red Horse, que será um drama de guerra situado na 1ª Guerra Mundial, com roteiros de Garth Ennis (Preacher, The Boys) e arte de Peter Snejbjerg (World War X)
e Sway, uma trama envolvendo viagens no tempo e ficção científica da filha do homem, Leah Moore em conjunto com John Reppion (Sherlock Holmes – The Liverpool Demon, 2000 AD, dentre outras colaborações com a própria).
É bom lembrar que todo o projeto está classificado como “experimental” e que tem como objetivo a “exploração das possibilidades da mídia dos quadrinhos, sem as amarras da indústria”, driblando assim obstáculos a publicação de novos títulos, sejam eles financeiros ou editoriais. E que o projeto, além de contar com subsídios de fundações privadas destinadas à arte, também receberá apoio de instituições de ensino com todo e qualquer desenvolvimento positivo da experiência sendo destinado inteiramente ao meio acadêmico, não ficando propriedade de qualquer empresa.
Será esta a “revolução não televisionada” tão profetizada para as HQs desde o advento da tecnologia móvel, lá no início da década? Ou será este projeto só um eco dos inúmeros selos e editoras “autorais” que surgiram por ai desde as primeiras crises envolvendo autores e direitos lá nos anos 80? Só o tempo dirá.
Mais importante: conseguirá o ilustre quadrinista FELIPE GOMES enfim publicar A GRANDE SAGA de forma totalmente vanguardista neste revolucionário aplicativo???