A gente vimos: Sense8
O ano era 1999. Saia no cinema a maior obra dos Wachowski e uma das mais revolucionárias – pelo menos esteticamente – obras da ficção do cinema: Matrix. Me lembro como se fosse hoje quando, após ver o filme no cinema, me escondi no banheiro do cinema para poder entrar de novo na sala e ver aquela maravilha de filme, que me encantava os olhos com o roteiro muito bacana (apesar de mais tarde ver muita coisa chupada dos Invisíveis, do Morrison) e das câmeras 360 e efeitos especiais revolucionários.
Depois disso, todos os filmes assinados pelos Wachowski carregavam seus nomes bem grande no título, seguido de “dos mesmos criadores de Matrix”.
E, a partir daí, praticamente todos esses filmes nos decepcionaram.
Matrix 2
Matrix 3
Speed Racer
Jupiter Ascending
E o filme que mais me decepcionou em uma sala de cinema: V de Vingança.
PS: tem o Cloud Atlas que já vi muitos elogios, mas ainda não vi.
Depois de Jupiter Ascending, havia desistido de vez dos Watchowski. Porém, quando vi Sense8 nos destaques da Netflix, resolvi dar uma nova chance aos Watchowski por dois motivos:
1) A série é da Netflix, o que teoricamente daria a eles toda a liberdade que pudessem – e o Netflix só faz série foda (tirando aquela maldita série do Felipe Neto)
2) Os Watchowski se juntariam ao roteirista J. Michael Straczynski, criador de Babylon 5 e de uma das fases mais bacanas do Homem-Aranha nas HQs.
Resumindo muito rapidamente, Sense8 conta a história de oito pessoas espalhadas pelo mundo, que possuem uma espécie de elo psíquico entre eles. Esse elo começa a se desenvolver primeiro de forma subconsciente – dividindo emoções fortes – e depois ele vai se aperfeiçoando a tal nível que eles conseguem ter conversas mentais e até “emprestar” habilidades uns para os outros.
No começo da série, descubrimos também que há uma organização misteriosa que corre atrás de pessoas como eles, lobotomizando um a um. Agora, o que é essa ligação, qual é o porquê deles a possuírem e quem é essa organização msiteriosa são questões que são desenvolvidas ao longo da série.
Estamos olhando aqui para um novo Breaking Bad, House of Cards ou Game of Thrones?
Não, não estamos.
Mas estamos olhando aqui do melhor trabalho dos Watchowski em MUITOS anos.
Um dos grandes trunfos aqui é que eles criam oiti histórias completamente diferentes. Em uma mesma série temos um filme de kung-fu, um filme de máfia, uma trama policial estilo “tira americano”, um novelão mexicano (literalmente) e por aí vai. Tudo entrelaçado, algumas vezes de forma superficial, é verdade, mas na maioria das vezes de forma bem satisfatória – o que é muito impressionante para os Watchowski, gravar tantas cenas diferentes, em tantas locações diferentes, com os personagens se relacionando entre si e sem largar a assinatura característica deles, com as slow motions, as raves e até questões super sensíveis, como a da personagem Nomi. Nomi é um personagem que mudou de sexo na juventude e agora é mulher – ela recebe um carinho especial na série, com uma trama muito bacana e muito palpável – acredito eu que pela própria experiência da Lana Watchowski.
Aliás, a sexualidade é tratada de forma muito natural na série. Não estou falando somente das cenas de sexo (que há muitas), mas também dos relacionamentos. O relacionamento entre Nomi e Amanita é muito natural. Aliás, pela primeira vez vejo os romances homossexuais e heterossexuais serem tratados da mesma forma: há tanta beleza naforma que Lito olha para Hernando quanto na forma em que Wolfgang olha para Kala.
E falando nesses romances, vemos aqui o ponto forte da série: os personagens. Não só eles são bem escritos, como o time de atores que os interpreta é MUITO bom. Poderia falar parágrafos e parágrafos sobre como eles me agradaram e como há muita química entre todos eles, como o relacionamento entre todos funciona muito bem. Mas, pra demonstrar isso, deixo aqui a melhor cena da série, quando todos estão enfrentando um péssimo momento da vida deles e, durante uma música tocada pela personagem Riley em seu iPod (Four non Blondes – What’s Up, aquele clássico dos anos 90), eles conseguem se conectar todos ao mesmo tempo.
https://youtu.be/iXM6-qg2RA8
E é nessa belíssima cena que Sense8 pega você. É nesse quarto episódio que você enfim se apaixona pela série.
Que cena belíssima, e que naturalidade que não só a direção passa, mas também os atores mostram na cena. Veja a apaixonante troca de olhares entre Wolfgang e Kala, como é bem feita e acontece de forma natural.
Enfim, Sense8 definitivamente foi uma série que valeu ver até o fim. Apesar do começo um pouco confuso e devagar, vale ver até o final – ora, estamos aqui falando de uma outra maneira de contar uma história – a maneira da Netflix. Não pensamos mais em uma série que vai ser semanal e durará meses. Estamos falando aqui de um grande episódio de 11 horas, que é feito pra ver em dias seguidos.
Nota 8,5