A Gente Vimos: Crise nas Infinitas Terras partes 4 e 5 (final) – com spoilers
Pra você que não viu e quer saber o que rolou antes, mas não quer ler minha resenha das partes anteriores, um resumo até aqui: os heróis foram reunidos para lidar com a nuvem de antimatéria, a Terra-38 (da Supergirl) foi destruída, Arqueiro Verde morreu, teve várias participações especiais, entre elas o Clark Kent da série Smallville e Lúcifer da série homônima, todo multiverso acabou sendo destruído e sobraram apenas os protagonistas que foram enviados para o ponto de fuga no último segundo – junto com Lex Luthor, que sacaneou geral usando o Livro do Destino. Ah, e nesse meio tempo, Jim Corrigan passou a pica de ser o Espectro para Oliver Queen.
As 2 últimas partes de Crise precisavam ficar à altura das primeiras (e, de preferência, superar as expectativas). Considerando o hype criado em cima do Crossover, parecia impossível encerrar de forma satisfatória. E de fato foi. Além dos típicos problemas de roteirismo do arrowverso, o final sofreu com a aparente diminuição do escopo e uma batalha final que fez vergonha até para os outros crossovers do Arrowverso.
Primeiro, as coisas ruins:
No final da parte 3, Jim Corrigan (que nunca tinha aparecido no Arrowverso até então) surge do nada no purgatório falando que ele é o Espectro e que é hora do Oliver ser o próximo hospedeiro. Critiquei essa participação jogada no Twitter e muita gente insistiu que eles poderiam ter feito isso porque o próximo episódio desenvolveria melhor essa questão. Mas isso não aconteceu. O espaço dado para a transformação do Oliver em Espectro (que não só acontece fora da tela como não há nenhuma grande alteração visual que empolgue) é tão ridículo quanto o visual de Espectro do Oliver. Mesmo eu não sendo dos chatos que reclama dos uniformes padrão CW, esse é especialmente ruim.
O plot não faz sentido. Sim, é verdade que estamos falando de um conceito absurdo como infinitos universos sendo destruídos e as 3 primeiras partes também não foram um primor de brilhantismo narrativo, mas essas 2 partes finais são nada a ver mesmo pro nível do CW. Na parte 4, os heróis restantes são recrutados pelo Oliver e se dividem em 2 equipes: uma deve impedir um jovem Monitor de seguir adiante com seus experimentos e acabar parando no universo de antimatéria, o que foi a causa do surgimento do Antimonitor; a outra deve ir até a aurora do tempo no universo de antimatéria, e o Antimonitor já está lá. Ou seja, um pedaço da equipe foi até o jovem monitor para impedir ele de fazer algo que, na prática, não foi ele quem fez, já que o Antimonitor já estava lá quando os outros heróis chegaram. Eles até dão uma explicação de que sempre vai ter um Monitor em alguma terra fazendo essa mesma merda, então o Antimonitor é inevitável (isso me lembra alguma coisa), mas sei lá. Parece simplesmente desperdício de tempo e de plot.
A luta do Espectro e do Antimonitor é claro que não tem o mesmo glamour da hq, mas pelo menos é uma luta. Os outros heróis ficam olhando e… basicamente isso. Eles estão destinados a estarem ali, mas não pra lutar, só pra ficar olhando o espectro virar luz e reiniciar o universo.
A parte 5, que é a final, se foca em mostrar o novo universo, agora chamado de Terra-Prime (que basicamente é a combinação dos universos do Flash, Supergirl e Raio Negro). Boa parte do episódio lembra bastante o final da Crise original, com os heróis aprendendo que quem estava na aurora do tempo são os únicos que lembram do que aconteceu e que o mundo agora está um pouco diferente. Obviamente o Antimonitor não foi destruído, e os heróis acabam tendo que enfrenta-lo pela última vez.
Há vários problemas com essa batalha final, e isso comparando apenas com os próprios crossovers anteriores do CW. Enquanto superseres poderosos como Raio Negro e Nevasca ficam lá no Star Labs jogando raiozinho nos demônios das Sombras, tem gente como o CÃO RAIVOSO e o Diggle DANDO TIRO no Antimonitor. Além disso, o número de heróis que enfrentam o vilão no final é bem aquém do esperado. Sério mesmo que não deu pra reunir mais gente? Só pra ter uma ideia, a luta final de Crise na Terra-X teve muito mais heróis, foi muito melhor executada (com os heróis sem poderes tendo tarefas adequadas as suas habilidades e os com poderes tendo outras tarefas) e com certeza foi muito mais empolgante do que a batalha final de Crise. O certo é que quem esperava algo minimamente parecido com o final de Vingadores Ultimato, com dezenas de heróis e participações especiais contra o Antimonitor, sairá decepcionadasso. Pelo menos o Antimonitor apareceu gigante, ainda que por alguns segundos.
Outra coisa que vale mencionar é a ausência de alguns personagens que foram importantes na preparação de Crise. A Laurel da Terra 2, que teve um arco bem interessante em Arrow até então, não apareceu em nenhum momento da Crise. Flash Reverso, que esteve associado à Crise desde o primeiro episódio de Flash (e que inclusive falou para o Flash no fim da temporada anterior “Te vejo na próxima Crise”) nem sequer deu as caras. Nada de Jay Garrick. Nada de Harry Wells e Jesse Quick, que aparentemente morreram na destruição da Terra-2, mas todo mundo fingiu que nada aconteceu. E Mia, a filha do Oliver, que esteve bastante presente nas 3 primeiras partes também não. É compreensível que ela não faça parte da batalha final, já que se passa no presente e, com o universo resetado, ela provavelmente nunca veio para o passado. Mas o roteiro comeu bola em não mostrar o destino final de uma personagem que teve tamanha importância até aqui.
Pra finalizar as partes ruins, ainda temos provavelmente a participação mais inesperada e impactante: Ezra Miller, com o uniforme do Flash dos filmes, encontrando o Flash da série. Não que o encontro em si seja algo ruim – na verdade a cena é bem legal. Mas não faz sentido nenhum e não tem serventia nenhuma para o andamento da história. É só fanservice por ser fanservice. Não é como Lúcifer, por exemplo, cuja aparição serviu para ajudar os heróis a irem até o purgatório resgatar a alma do Oliver. Ele só aparece, e nem deveria aparecer, já que nessa altura do campeonato já não existia mais nenhum universo, e deu. Eu sei que há explicações possíveis (o fato dele estar na força de aceleração por coincidência no momento em que o universo dele é destruído), mas o fato de não ter sido dado uma explicação específica na história, ainda que especulativa, faz com que fique apenas uma curiosidade pela relevância do encontro.
Agora, as coisas boas
Bom, Crise nas Infinitas Terras teve um monte de problemas, mas é basicamente o caso de “é o que tem pra hoje” e “tá ruim, mas tá bom”. Crise foi um feito impressionante e acredito que esse crossover tenha sido algo sem precedentes na TV. A quantidade de participações especiais, seja de séries e filmes antigos, séries ainda em andamento e séries de outros canais/veículos já garante isso. E, se isso não for suficiente, o encontro com o Flash do cinema certamente consolida Crise como o maior evento televisivo (de ficção) já feito. Insisto no argumento que algo assim nunca poderá ser feito no cinema, não sem alterações profundas na essência da HQ original.
A maior parte das coisas legais desse final está nas consequências decorrentes de reiniciar o multiverso. Entre outras coisas, descobrimos que a filha de Diggle e Lyla, Sarah, está de volta, que Superman e Lois agora têm 2 filhos (cuja idade não foi revelada, mas eu chuto que não sejam bebês) e que Lex Luthor é diretor do DEO e é considerado um benfeitor por todos (só Supergirl lembra que ele é um vilão). Aparentemente, todas as 6 séries (incluindo Raio Negro) vão lidar a partir de agora com as mudanças decorrentes da Crise, o que é interessante. Não é exatamente a mudança radical das hqs, mas é suficiente para que se possa dizer que não é o caso de tudo ter voltado ao normal.
Outra coisa interessante é que, ao final, com a narração do Oliver, vemos o ressurgimento do multiverso e temos um vislumbre do formato das novas terras: Terra-2 agora é a Terra da vindoura série da Stargirl e da Sociedade da Justiça; Terra-12 é a do filme do Lanterna Verde (sim, o filme ainda existe – ou pode ser simplesmente uma insinuação à nova série, que ainda não tem nada filmado) e a Terra-19 é a da série cancelada do Monstro do Pântano e a Terra-96 segue sendo o mash-up dos filmes do Superman do Reeves/Superman – O retorno/Superman do Reino do Amanhã, mas com o fundo do logo amarelo, e não preto (o que pode indicar que nesse reset os eventos que levaram a morte de todo mundo no Planeta Diário nunca ocorreram). O mais curioso é que Crise estabeleceu que a série dos Titãs e a série da Patrulha do Destino acontecem em Terras diferentes (respectivamente, Terras 9 e 21), o que é uma surpresa, considerando que Patrulha apareceu na série dos Titãs antes de ter sua própria série. Não que eu esteja reclamando, acho ótimo que a excelente série da Patrulha do Destino não faça parte do mesmo universo que aquela aberração que é a série dos Titãs.
E finalmente, depois de 6 crossovers, o Arrowverso finalmente decidiu nos dar a Liga da Justiça. Ou melhor, os Superamigos. Tem a sala de justiça e até um gancho que insinua a introdução do Gleek (junto com o tema musical do desenho). Eles não chegam a nomear a equipe, mas pelos finalmente eles perceberam que esse universo precisa de uma superequipe oficial (Legends não conta).
Por fim, Crise acabou terminando de forma um pouco decepcionante, mas as 3 primeiras partes, mesmo não sendo ótimas, conseguem contrabalancear legal e o saldo ainda é ligeiramente positivo. Confesso que fiquei curioso para saber o que vai rolar especialmente em Supergirl e Raio Negro, então se o objetivo de Crise era renovar o interesse do público nas séries, acho que foi bem-sucedida, apesar de tudo.
Nota: 7,1 (o suficiente pra passar de ano)