A gente lemos: The Private Eye #1, de Brian K. Vaughan
Quando um escritor de competência tarimbada e calejado da indústria lança um projeto autoral de maneira TOTALMENTE independente, você precisa no mínimo dar uma conferida. Ou, estando esperto, dedicar uma horinha ou duas para repensar a indústria dos comics gringos…
Eu não sei porque o lançamento de The Private Eye me passou despercebido. Porra, é o Brian K. Vaughan! Simplesmente o cara por trás dos roteiros de séries badaladas (e merecidamente) como Y, o último homem e Ex Machina!
Enfim, fato é que o cara aliou-se ao desenhista Marcos Martin e lançou The Private Eye, uma HQ digital em que você escolhe o quanto quer pagar pra ler. E EM PORTUGUÊS! Isso mesmo: sem editora, sem atravessadores, e no seu idioma. Coisa linda de deus, é ou não?
Claro que tudo isso não vale de nada se a história for uma merda, certo? Por isso eu, recém adepto do mundo da importação ultrística resolvi dar um confere e contar pucês.
Não podia deixar de ser, o primeiro número de TPE é um volume de apresentação: Brian e Marcos nos apresentam ao futuro distópico em que a história se desenvolverá. Sim, a trama se passa num futuro relativamente próximo, com carros flutuantes, vícios e noções de moda meio bizarras. No mundo de TPE, a Nuvem, esse nosso consciente virtual coletivo deu pau e todos os dados de todo mundo ficaram disponíveis para quem quisesse ver (WikiLeaks, é você?), causando uma pane geral na organização social. Todas as formas tecnológicas de comunicação foram pro saco preto, tornando o mundo praticamente analógico outra vez. Nesse painel, a informação é poder, e a imprensa virou polícia – eles são de fato o “Quarto Poder”.
É aí que entra P.I., o protagonista. Se a imprensa é a polícia, um paparazzi equivale a um… detetive particular. Particular e ilegal. Seu trabalho é vender informação, simples assim. P.I. ainda vive com o avô, um velhinho todo tatuado, aparentemente sofrendo do mal de Alzheimer, com saudades do mundo digital. Some isso a roupas e cabeças bizarras e záz! Você está no mundo de The Private Eye.
O que Vaughan faz é, sob o pretexto de um futuro nascido de um problema, fazer uma emulação das velhas tramas noir de detetive – o nome da série certamente não é gratuito. Como toda trama noir, P.I. acaba envolvido por uma bela moça num buraco muito mais fundo do que ele pensava – e a história segue daí. O grande lance é que a diferença, a questão da informação e tudo mais fazem com que TPE tenha um inesperado cheiro de novidade absoluta.
No campo da arte, Marcos Martin é competentíssimo. Dono de uma arte estilizada e cheia de personalidade, ele conduz muito bem a trama. A HQ é toda desenhada para ser melhor aproveitada em widescreen, perfeita para tablets e smartphones. pra quem não conhece o cabra, ele está dividindo os lápises com o Paolo Rivera na série do Demolidor pelo Mark Waid que a Panini está publicando.
Lá em cima eu falava do preço: TPE é disponibilizada no esquema do “Quer pagar quanto” mesmo. Você acessa o site da Painel Syndicate, escolhe o número que quer comprar, digita o valor, paga e pronto. Tá lá o seu gibi salvo no PC, no formato (.cbr, .cbz e . pdf) e idioma (números 1 e 2 disponíveis em Inglês, Espanhol, Catalão, Português e Francês. O Volume 3 ainda não tem as versões em português e francês) que você escolheu. Pra ser justo, eu tenho pago o preço de capa de um gibi de linha (U$ 2,99), que, com as taxas do PayPal e o câmbio, fica em torno de sete dilmas. Pra mim, um preço razoável. Não é baratinho assim, dado, mas vale também pelo incentivo à iniciativa.
Pra fechar, a versão em Língua Portuguesa da HQ é produzida pelo Érico Assis e Fabiano Denardin e funciona redondinha, sem tropeços ou atropelos.
Que mundo é esse, meu filho? Um gibi filé custando o que você quiser pagar? Isso é coi de loko!
The Private Eye #1, de Brian K. Vaughan e Marcos Martin. Produção independente, 32 páginas. Disponível em http://panelsyndicate.com/, preço a escolha.
Nota: 9