[A gente lemos] Apanhadão Feira de Acarí
Tem de tudo! É um mistééééério!
Como sempre, eu vou lendo as coisas, colocando ali na prateleira de “resenhas a fazer” e, de repente, tem uma caralhada de reviewzes pra fazer e eu numa preguiça desgraçada. De repente é um exercício de concisão, né? Enfim, vamo que vamo.
Almas Públicas, de Marcello Quintanilha
Recentemente nós fizemos no Clube de Leitura de Quadrinhos da Gibiteca de BHCity One, uma reunião sobre a obra do Quintanilha. Eu que só tinha lido seu Sábado dos meus amores, peguei Talco de Vidro (que eu quero fazer um review próprio) e Almas públicas para chegar mais chegado na discussão.
Pois bem, Almas públicas (que foi lançado em abril de 2011), segue a mesma estrutura de Sábado dos meus amores: uma sequência de narrativas curtas sobre temas cotidianos. Primeiro ponto, o álbum serve para reafirmar a maestria de Quintanilha em escrever diálogos – ele poderia dar aula sobre isso pra muito quadrinista brasileiro por aí. Suas pessoas falam como pessoas, têm maneirismos e cacoetes de linguagem naturais, longe das forçadas de barra dos enlatados dublados ou das novelas e filmes da Globo. E, se por um lado ele tem bom ouvido para colocar essas coisas no papel, também tem bons olhos para ver as histórias onde elas estão: Almas Públicas reúne sete histórias (Granadilha, Fealdade de Fabiano Gorila e Três minutos de linhas são republicações do álbum “Fealdade de Fabiano Gorila”, de 1999) sobre situações comuns, algumas bobas até (como a minha favorita, “De Pinho”, sobre um jogador de futebol de várzea que pega carona com uma equipe de reportagem), outras nem tanto (como “Granadilha – Os crimes do corpo”, sobre os efeitos da morte de um homem que fugia do “viado” do bairro).
Única coisa que me incomoda no álbum é que essa arte colorida e pintada (mesmo quando em tons de cinza, como em “Granadilha”, mas também em “Chão Bento” e “Fealdade de Fabiano Gorila”), não combina com os balões que ele usa, que dão a sensação de quebrar o “espírito de época” que a arte imprime à leitura. Ainda que mantenha o mesmo estilo de balão e fonte, eles não incomodam tanto em Talco de Vidro, por exemplo.
Almas Públicas, de Marcelo Quintanilha. 72 páginas, capa dura, Editora Conrad. Preço R$39,90 (de capa, eu paguei vintão).
Nota: 7,8
Magneto – Atos de Terror
Desde moleque, quando li Guerras Secretas pela primeira vez, que descobri que Magneto é meu vilão de quadrinhos favorito, seguido de pertinho pelo Doutor Destino. Por mais que o último álbum dessa “série” de vilões Marvel que eu comprei tenha sido uma bosta (a origem do Dr. Octopus), resolvi me arriscar e pegar este do Magneto e o estrelado pelo Destino (Os Livros do Destino, que pelo menos tem o Brubaker nos roteiros) pra ver de qualé.
E é ruim (o do Destino ainda tá na fila). Skottie Young, um desenhista do qual eu gosto pra caralho (é dele a arte da adaptação de O Mágico de Oz) mostra que o roteiro não é o seu campo. A trama começa com Magneto, supostamente regenerado e atuando junto aos X-men de Ciclope, massacrando humanos num evento anti-mutante. Ao ser chamado na xinxa pelos Vingadores, Magnus descobre que teoricamente o terrorista é ele mesmo, pelo menos no que tange ao DNA. O desenrolar imediato é óbvio, pelo menos para os leitores mais velhacos, que imediatamente se lembrarão de Joseph, o bondoso e falecido clone de Eric Magnus. Aqui ele está mau como fel, matando a geral e tal, tendo sido trazido de volta da morte por uma tal de Astra que eu não manjo quem é. Em linhas gerais, a história é toda muito bocó, muito previsível. O motivo para que Joseph, que era praticamente um franciscano de tanta bondade voltar boladão é péssima das péssimas, e a Irmandade de Mutantes Deformados é de um sub-aproveitamento medonho.
Na arte, Clay Mann (que desenha a imensa maioria da história) não passa de um genérico (e muito piorado) de Jim Cheung, que não é nem um pouco ajudado pelas cores pobres de David Curiel. Dando uma canja nas páginas 29 a 37 do álbum, Gabriel Hernandez Walta quase gera algum alento com sua arte mais dotada de personalidade. Mas é pouco pra salvar o álbum, muito pouco.
Magneto – Atos de Terror, de Skottie Young, Clay Mann e Gabriel Hernandez Walta. 100 páginas, capa dura, editora Panini. R$ 17,90.
Nota: 2 (só por conta da capa fodona – e enganadora)
O cão que guarda as estrelas
Já digo de cara: eu não sou o Algures. Isso quer dizer que não sou um grande amante dos animais, muito menos de historinhas de animais. Geralmente são uns troços sentimentalmente piegas, coisa de gerar diabetes só de encostar.
Pois bem. De autoria de Takashi Muramaki, O cão que guarda as estrelas traz uma, quase duas, histórias sentimentais sim sobre pessoas e cachorros. Mas, por mais difícil que pareça, ainda consegue passar algumas léguas de distância da pieguice barata. A trama começa com policiais encontrando um carro abandonado num campo. Dentro dele, um cadáver masculino, falecido há um ano mais ou menos. Aos pés desse homem, os restos de um cão, morto três meses antes. A história então retrocede, para nos contar quem foram aqueles dois, e como uma série de abandonos de um homem doente acabou o aproximando de seu cachorro. O tema da solidão e da busca de um lugar pelo homem que está morrendo abandonado é tocante e muito bem construída – mesmo sendo contada sob o ponto de vista do cachorro. Num segundo momento, passamos a acompanhar a trajetória do assistente social responsável por cuidar do funeral daquele cadáver tentando desvendar a história, ao mesmo tempo em que rememora sua própria vida.
O desenrolar das “duas” histórias é bastante tocante e têm, como mote central, a solidão-das-pessoas-nestas-capitais, diria Belchior. Se você tá na pegada de se deixar emocionar, é uma leitura recomendadíssima.
O cão que guarda as estrelas, de Takashi Muramaki. Formato fumetti, capa cartonada, 130 páginas. Editora JBC, R$23,90.
Nota: 8,5
Aquaman – As profundezas
Depois de tanto aguentar o Tripa dizendo que o Aquaman é foda, que a passagem do Geoff Johns pelo título foi sensacional e blábláblá, aproveitei a publicação deste encadernado reunindo os seis primeiros números da fase Novos 52 do homem da camiseta laranja para ver a vibe do troço.
Ainda que Johns e Ivan Reis não estejam dispostos (e não façam) uma HQ de origem, estes primeiros números quase funcionam como tal, ainda que partam do pressuposto de que todo mundo conhece (ou pensa conhecer) o rei dos mares da DC. O primeiro número é praticamente inteiro dedicado ao estabelecimento do personagem ante a representação de ridículo que todos (leitores e demais personagens) têm à respeito dele. Veja bem, nada disso tem qualquer relevância nas tramas que se desenrolam a seguir, mas é essencial para dizer: “Hei! Vocês realmente acham que sabem alguma coisa sobre o Aquaman? Pois então esqueçam!”. Depois seguem aventuras ordinárias do personagem, sem nada de mais (ou de menos). São histórias “ok”, nada mais do que isso. O caráter de estrangeiro do personagem, sua inadaptação aos lugares (que é ainda mais evidenciada em Mera), enfim, nada disso é novo ou notável. É legal, e só. Passa longe, por exemplo, da qualidade com que Mark Waid abordou isso em LJ: Ano Um, mas vale a leitura.
Sobre a arte do Ivan, muito pouco há que ser dito sem chover no molhado. É foda e ponto.
Ah, um adendo: é interessante que o encadernado tenha o mesmo título de um outro, da editora concorrente, estrelado pelo Rei dos Mares de lá (Namor: As profundezas). Pena que, se formos embarcar na comparação, o álbum da Marvel limpa o chão com a sua contraparte da DC…
Aquaman: as profundezas, de Geoff Johns, Ivan Reis, Joe Prado e Eber Ferreira. 148 páginas, capa dura, editora Panini. R$25,90.
Nota: 6,5
Flash – Seguindo em frente
Mais um encadernadinho Novos 52. Depois de curtir os primeiros números do Bátema, achar bacaninhas os primeiros do Aquaman, decidi dar uma moral às 8 primeiras edições do corredor escarlate. Se arrependimento matasse, eu seria o morto mais rápido do mundo.
Igual (mas diferente) do primeiro arco do Aquacara, Francis Manapul e Brian Buccellato (que dividem os roteiros e juntos não chegam a formar um roteirista) a ideia aqui não é fazer uma HQ de origem, mas sim apresentar o novo status quo do personagem pós-reformulação. Barry Allen é outra vez o Flash, e sua namoradinha agora é Patty Spivot, outra perita criminal, mas Íris West ainda é um espírito que ronda o personagem. Entretanto, mesmo tendo menos “tempo de tela”, Íris é uma personagem mais interessante do que Spivot porque… nós já a conhecemos. Não conhecemos nada sobre a Patty e os autores tampouco são capazes de nos fazerem conhecer. Na verdade, eles não nos fazem conhecer ninguém: todos os personagens são rasos e as relações entre eles, superficialíssimas. É até estranho a velocidade (perdão do trocadilho) com que Barry Allen/Flash conhece e passa a confiar cegamente no Dr. Elias e suas teorias. Ou o quão providencial seja que o vilão é justamente o amigo mais antigo de Barry. A impressão que dá é que tudo é passageiro, que Patty Spivot logo logo morrerá para que Íris volte a ocupar a centralidade do coração do Corredor Escarlate, ou que o Dr. Elias a qualquer momento vai se revelar o verdadeiro vilão da história. Se o problema fosse só esse a coisa já seria ruim, mas a história fica toda muito pior: pontos se sucedem na trama também sem peso, que pula de um evento para o outro sem muita ligação entre eles ou desenvolvimento. Tudo é muito, muito superficial. A impressão que dá é que Manapul/Buccellato fizeram uma lista de eventos que queriam mostrar e simplesmente foram para a prancheta desenhá-los (Buccellato é o arte-finalista). Um exemplo claríssimo dessa superficialidade é o lance do cérebro superveloz do Flash. Compare por exemplo com Flash – O tempo voa, de John Rozum e nosso falecido chégas Seth Fisher. Chega a ser humilhante.
Tem ponto positivo? Tem: a arte de Manapul é excelente. Toda a pobreza do roteiro encontra algum “calço” na arte que é maravilhosa. Há layouts de páginas incríveis, e splash pages de abertura (a la Will Eisner em The Spirit, inclusive com o título da HQ mesclado ao cenário) impressionantes. Mas é pouco. Histórias em quadrinhos não são só a parte gráfica. O roteiro conta. E muito.
(P.S.: Qual o problema da DC com seus personagens de gelo nos Novos 52? Cagaram o Sr. Frio, agora o Capitão Frio – que desenvolveu poderes DENTRO da cadeia, aparentemente… É fobia?)
Flash – Seguindo em frente, de Francis Manapul e Brian Buccellato. 196 páginas, capa dura, editora Panini. R$29,90
Nota: 5
Coffin Hill – Crimes e Bruxaria: Floresta da noite
É difícil comprar um material no escuro. Aí eu tava no fluxo, avistei esse gibi no grau, sabe o que eu fiz? Levei tinta, tinta, tinta! Vendido lacrado, o gibi tem uma capa foda do Dave Johnson (de 100 Balas) e o selinho da Vertigo. Indicações suficientes para o investimento, né? Quase sempre. Mas às vezes você pode se foder. E pode se foder bonito.
Coffin Hill narra a história de Eve Coffin, uma policial novata e já de cara bem sucedida, mas que também se ferra e precisa voltar pra sua cidade natal com uma mão na frente e outra atrás, a Coffin Hill do título. Porém… Eve é descendente de uma família de bruxos/bruxas, e Coffin Hill é uma cidade definitivamente amaldiçoada. Voltar para lá quer dizer voltar para um passado tenebroso que ela tentou abandonar, para esqueletos que ela deveria manter na gaveta.
Bem, vamos lá: Eve Coffin é, no fim, uma John Constantine genérica e bocózenta. Envolvida mais do que gostaria com bruxaria e que acaba sempre fodendo as pessoas ao seu redor. A trama da história é um clichê em cima de outro, sobre pessoas desaparecendo na floresta mal assombrada da cidade, e só Eve pode resolver essa parada. Chaaaaato, com uma arte pobre (cara, que pobreza digital dessas cores e efeitinhos porcos!), e que serve pra enterrar uma iniciativa que poderia ser bem legal. A capa e alguns lances que aparecem soltos na história (como a parada inexplicável dos corvos) dão a impressão de que, se bem executado, poderia ter dado certo. Não foi logo não deu. Ia ser legal se a personagem sobrevivesse a ponto de ganhar outros roteiristas, mas eu duvido. Aqui em casa não sobreviverá.
Coffin Hill – Crimes e Bruxaria: Floresta da noite, de Caitlin Kittredge (roteiros), Inaki Miranda (arte). 172 páginas, capa cartonada, Panini. R$22,90.
Nota: 2 (adivinha? Pelas capas!)
Fim. Pronto, podem começar a reclamar do tamanho do post nos comentários e dizer coisas nada a ver com nada.