A gente fomos: Comic Con RS 2015
Desde o começo, a ComicCon RS buscou ser uma referência em eventos de quadrinhos, não só no sul, mas através do país. Mesmo contando com outros eventos (em particular o FIQ e, mais recentemente, o advento da Gibicon), o evento gaúcho sempre tentou ter uma identidade que a diferenciasse dos outros eventos.
É claro que, num geral, um evento de quadrinhos tem elementos já esperados: painéis sobre assuntos nerds diversos, estandes de autores, editoras, livrarias e outros produtos, área de artistas, independentes ou não e sessão de autógrafos com convidados. Mas cada evento se destaca (ou deveria se destacar) por ter uma “assinatura” particular: o FIQ e Gibicon, por exemplo, são basicamente focados em quadrinhos, deixando de lado (mesmo que não completamente) grande parte outras áreas nerds; mas ambos possuem suas características específicas. E assim são os diversos eventos espalhados pelo país – hoje em muito maior número do que no passado. E com a Comic Con RS não é diferente.
Mas encontrar sua “cara”, em meio a tantos outros eventos de quadrinhos, muitos dos quais extremamente bem sucedidos talvez tenha sido o maior desafio para a ComicCon RS durante as 5 edições do evento. Felizmente, podemos notar um crescimento natural e um amadurecimento que coloca a CCRS no mapa dos eventos que merecem ser conferidos.
Este ano, a CCRS mudou-se para a Ulbratech, o parque tecnológico da Ulbra, em Canoas – outra cidade, mas ainda parte da grande Porto Alegre. A mudança foi muito bem-vinda, pois além do local ser mais organizado e mais fácil de localizar, também deu uma cara mais de “convenção” para o evento. E nada melhor do que localizar um evento nerd num ambiente tradicionalmente geek. Isso sem contar outros elementos como segurança e praticidade – aconteceu uma grande tempestade no sábado que teria prejudicado muito a continuidade do evento se ele tivesse acontecido no local onde foram as edições passadas. E, finalmente, tinha wi-fi!
Este ano houve também evoluções nos convidados, com a presença de Peter Milligan, o primeiro convidado internacional do evento fora da América Latina. E ouvi rumores de que outras surpresas bacanas parecem estar preparadas neste sentido para a próxima edição.
Para os artistas independentes (não confunda com “amadores”, o que não era o caso da grande maioria ali), havia um Artists Alley generoso, bem à vista do público e próximo de um dos palcos, o que garantiu uma excelente visibilidade para os autores. Com relação aos painéis, a CCRS seguiu o que tem buscado fazer desde a primeira edição, que é mesclar temas mais populares com assuntos de relevância social – e, não raro, espinhosos para alguns círculos – como representatividade de minorias, política nas HQs, entre outros, o que sempre foi um diferencial marcante do evento.
A organização também ganhou uma significativa melhora, especialmente no que se refere ao acesso da imprensa e na agilidade com o estabelecimento do Artist Alley. Já os estandes sofreram um pouquinho nesse quesito, mas são coisas que provavelmente serão melhoradas nas próximas edições.
O ponto alto, no entanto, foi sem dúvida o momento dedicado às homenagens. A partir da criação da Medalha Renato Canini (em homenagem ao saudoso autor que revitalizou o Zé Carioca, falecido em 2013), foram homenageadas pessoas ligados ao meio, como Ivan Costa (sócio da Chiaroscuro Studios e um dos organizadores da CCXP) e Thedy Corrêa (vocalista da banda Nenhum de Nós e que, talvez nem todo mundo saiba, sempre contribuiu com a divulgação e valorização dos quadrinhos). E teve direito até a momentos emocionantes, como na homenagem surpresa ao pai de organizador do evento, Émerson Vasconselos (que sempre esteve muito presente na CCRS) e, por fim, a homenagem principal do evento, a Sidney Gusman, que, entre depoimentos de familiares, amigos, e do próprio Maurício (que compareceu em vídeo), fez o que parecia ser impossível: fazer o Sidão ficar sem palavras.
Em termos de pontos negativos, tem algumas pequenas coisas que, para mim, impedem aproveitar completamente o evento. Havia dois palcos, um no segundo andar, e outro no mesmo andar onde todo o resto acontecia – ou seja, bem próximo do Artists Alley e dos estandes. Assim como nas edições anteriores, no palco próximo aos estandes, a menos que você estivesse na primeira fileira, era extremamente difícil de acompanhar os painéis – seja porque o som se confundia a barulheira do resto do evento, ou porque a movimentação e conversas paralelas por ali dificultavam a concentração.
Outro ponto negativo, mas que é uma característica comum a diversos eventos, é ter os dois palcos com painéis diferentes simultaneamente, pois em boa parte das vezes, eu queria conferir dois assuntos que estavam acontecendo ao mesmo tempo em palcos diferentes. Mas eu sei que, conforme estes eventos vão ficando maiores, para poder acomodar um número de atrações e de público cada vez maiores, tal organização acaba sendo necessária.
Com uma estrutura muito mais adequada a este tipo de evento e um crescimento em diversos níveis, a ComicCon RS chega em sua quinta edição de casa nova, melhorando elementos problemáticos, mantendo elementos já bem-sucedidos e consolidando-se de vez como um dos grandes eventos nacionais de quadrinhos em que vale a pena comparecer.
Ponto positivo extra: A exposição do museu de história natural da Ulbra (que contava com fósseis, descrição esculturas de dinossauros, etc) acontecendo em paralelo, que só fez agregar ao evento. Espero honestamente que a CCRS considere continuar mantendo e talvez até expandindo uma intersecção mais planejada entre nerdices e aspectos científicos e tecnológicos da Universidade. Tem meu total apoio.