X-men: Dias de Um Futuro Esquecido chega num momento bem diferente daquele no qual o primeiro X-men foi lançado. Naquela época, ninguém achava que um filme de super-heróis poderia ser levado a sério. Tanto que X-men teve uma série de problemas de produção e por pouco não ficou no limbo dos filmes de quadrinhos que nunca saíram do papel ou morreram na praia, como a Mulher-Maravilha do Joss Whedon, o Superman do Brett Ratner, o Batman X Superman do Wolfgang Petersen e o Homem Aranha do James Cameron.
Depois de X-men, as pessoas começarem a olhar os filmes de super-herói com outros olhos. O filme abriu caminho para outras produções do tipo, e parecia que finalmente era possível fazer filmes de super-herói que não parecessem a série do Batman dos anos 60.
Outros filmes foram aos poucos inserindo mais elementos “quadrinísticos” no cinema: Homem-Aranha mostrou que era possível fazer uma aventura com carga dramática usando um herói com roupa colante e um vilão saído dos Power Rangers. O Cavaleiro das Trevas mostrou que filmes baseados em quadrinhos podiam oferecer algo mais. Watchmen mostrou que quadrinhos mais subversivos podiam ser adaptados, vimos super-heróis em períodos históricos e a Marvel Studios provou que era possível juntar diversos personagens de filmes isolados numa única produção.
O principal desafio de Dias de Um Futuro esquecido como filme era mostrar que a franquia X-men ainda pode ser relevante depois de tanta coisa que já se fez com os super-heróis no cinema. O resultado? Bem…É complicado.
Mesmo que o filme fosse extremamente ruim, Dias de um futuro esquecido já começa com o pé direito em dois pontos: ao adaptar uma das histórias mais clássicas dos personagens, e (para os fãs dos filmes) trazendo, não só o elenco da trilogia original como a cronologia da trilogia original, numa tentativa de transformar o universo criado em First Class no universo cinematográfico X que vale.
A trama é até bem simples: Num futuro onde os sentinelas têm a habilidade de se adaptar a qualquer poder mutante, e caçam também humanos com o gene x recessivo (que dariam origem a filhos mutantes, tecnicamente), os mutantes estão em extinção. Uma última resistência formada por remanescentes dos X-men, junto com Magneto e novos recrutas, guardam o último refúgio mutante enquanto Kitty Pride envia a consciência do Wolverine de volta para 1973 para impedir Raven de matar o Trask (em vingança pelas experiências horríveis que ele fez com mutantes, especialmente mutantes amigos dela, como Azazel e Angel) e se tornar a Mística “de verdade”, o que acarretará no uso do sangue dela para desenvolver os sentinelas do futuro.
Para isso, Wolverine vai precisar unir Xavier e Magneto no passado, época em que não podiam estar mais separados: O primeiro virou um bêbado viciado numa fórmula que Hank inventou para fazê-lo andar (mas que afeta o DNA dele, e portanto isso o faz ficar sem poderes), aliás a mesma fórmula que permite ao Hank manter uma aparência humana de vez em quando. O segundo, está preso num local ultrassecreto após ter sido implicado no assassinato de JFK (É para isso que eles precisam do Mercúrio: para ajuda-los a invadir a prisão e libertar o Magneto).
Para quem é fã da trilogia original, como eu (claro que eu incluo X-men 3 apenas para efeitos de cronologia), o filme é um encerramento digno que corrige alguns pontos da cronologia (Tecnicamente, X-men 3 e Wolverine Origins não aconteceram, mas não ficam claros todos os elementos reescritos no tempo). Para quem é fã de First Class, é uma ótima continuação dos personagens. Mas, para quem é fã dos X-men nos quadrinhos… Éeeeeeeeeeeeeeee Mais ou menos, mais ou menos…
O filme não tem NADA a ver com os quadrinhos (sei que é estranho dizer isso nessa altura do campeonato, mas é sempre bom ressaltar). Mal e porcamente os personagens novos inseridos têm a ver com suas contrapartes da nona arte. O filme é, no entanto, fortemente calcado nos eventos de First Class, e em eventos-chave da trilogia original, e acho que não funcionará muito para quem não assistiu aos filmes anteriores dos X-men (já os filmes solo do Wolverine são sumariamente ignorados).
As cenas de ação são, realmente, sensacionais. Provavelmente as melhores cenas de ação de qualquer filme relacionado à franquia X-men. As cenas de grupo usam muito bem os poderes combinados, especialmente no futuro, ao enfrentar os sentinelas, e eles não economizam nos efeitos especiais. As mortes são brutais (brutais mesmo, uma hora os sentinelas simplesmente puxam o Colossus pelas pernas e braços e DIVIDEM ELE AO MEIO), e realmente há a sensação de que tudo o mais pode ir para o saco. A cena do Mercúrio é realmente muito foda e, de fato, faz sentido no filme.
As atuações estão muito boas, apesar de que, num filme cheio de atores oscarizados, isso é o mínimo que se espera. O legal mesmo é ver atores como Patrick Stewart e Ian Mckellen de volta (infelizmente, a cena da vampira foi mesmo cortada e a Anna Paquin aparece apenas uns 10 segundos no filme).
Não espere, no entanto, que o filme resolva TODAS as incoerências cronológicas entre os filmes. Tem coisas que eles simplesmente ignoram, como a relação entre a Mística e o Xavier, inexistente na trilogia original, mas aqui usada como parte do plot (eles não explicam como o Xavier do futuro está de volta em seu corpo, nem como o Wolverine conseguiu de volta suas garras metálicas no futuro, e principalmente, esqueça qualquer explicação sobre como diabos a Kitty Pride passou a ter o poder de mandar a consciência de alguém no tempo – isso só para citar os mais óbvios).
Claramente, Dias de Um Futuro Esquecido serve como um encerramento para a trilogia original e uma sequência de First Class, tanto que eles não se preocupam nem um pouco em explicar como os personagens da trilogia foram de X-men 3 (ou da cena pós-créditos de Wolverine- Imortal, se preferir) para o futuro visto no filme. Mas, em compensação, se esforçam para fazer os personagens de First Class terem uma evolução coerente, e a lacuna de 10 anos entre o primeiro filme e este é desenvolvida, inclusive explicando o que aconteceu com os mutantes que não aparecem (tipo Angel, Azazel, Banshee, etc).
No final do filme, há correções cronológicas. Uma nova linha do tempo é criada, e nela, já descobrimos que X-men 3 não aconteceu, ou aconteceu apenas parcialmente (Ciclope e Jean nunca morreram, por exemplo). Mas a verdadeira “mensagem” é dizer que os filmes com os personagens a partir de agora, NÃO SEGUIRÃO a mesma linha cronológica da trilogia original.
No fim das contas, Dias de Um Futuro Esquecido é a “Crise nas Infinitas Terras” dos X-men da Fox, e essa é a melhor maneira de ver o filme. Mais como um “mea culpa” que põe alguns pingos nos Is e abre caminho para novos filmes sem tantas amarras cronológicas do que uma história definitiva.
Há um bom tempo atrás, eu escrevi sobre por que achava que X-men: Dias de um Futuro Esquecido merecia ser o melhor filme de Super-Heróis até agora, mas não seria. E realmente não foi. Se você é fã dos X-men dos quadrinhos, vá ao cinema lembrando que este é O Dias de Um Futuro Esquecido para os personagens do cinema, não dos quadrinhos. Mais importante: Que é o Dias de Um Futuro Esquecido da FOX. Com isso em mente, você poderá aproveitar o filme sem autoengano e curtindo os pontos positivos que o filme tem.
Agora, se você é fã dos X-men dos cinemas (seja da trilogia original ou da versão First Class) e caga para os quadrinhos, então vá assistir sem medo, pois o filme entrega tudo o que se espera deste tipo de filme (embora não sem alguns bons furos) e ainda serve como um bom encerramento para a trilogia original.
Nota: 7,13
P.S.: A cena pós créditos. Vale a pena, é muito massa (véio?). E tem o Apocalipse.
P.S2.: Algumas respostas rápidas sobre coisas que não comentei.
– A Feiticeira Escarlate não aparece (mas existe no universo do filme);
– Há uma alusão ao Mercúrio ser filho do Magneto em uma cena;
– Wolverine tem garras de osso nos anos 70;
– A viagem no tempo é simples e sem muita explicação detalhada;
– Mística continua ótima (entenda como quiser) e lutando como na trilogia original (estilo de luta “pernas pra que te quero”, como eu chamo).
– JFK era mutante.