Lançadas as 25 capas alternativas da Empire (por algum motivo isso lembrou o mercado de quadrinhos dos anos 90), comecei a pensar a respeito do legado dos X-men no cinema e do que o Bryan Singer construiu. E, embora injustiçado hoje em dia pelos nerds por causa de Superman – O Retorno, Bryan Singer esteve na vanguarda desse novo fôlego nos filmes de super-herói – e por que não dizer, da indústria do cinema, que se beneficiou e ainda se beneficia muito desses filmes.
Acho que X-Men: Dias de um Futuro Esquecido deveria – e mereceria – ser, por honra ao mérito, o melhor filme de super-heróis até aqui. Mas provavelmente não vai ser. Eis minha rápida reflexão a respeito, analisando a história dos personagens no cinema.
Por que deveria ser:
1 – X-men foi pioneiro. Pelo menos na nova safra de filmes de heróis. Sim, sim, Blade veio antes e provavelmente ajudou a pavimentar o caminho, mas vamos combinar que Blade nunca foi um personagem relevante. Fazer um filme dos X-men que deu certo (especialmente depois do horrível piloto para a série da Geração X, em 96) fez os estúdios voltarem a ver os super-heróis com bons olhos e fizeram muitos deles terem coragem de tocar projetos que há muito estavam engavetados (como o filme do Homem-Aranha).
2 – O primeiro filme baseado em super-heróis que não é um “filme de super-herói”. Antes de X-men, filmes de super-herói não eram filmes “de verdade”. Até que Bryan Singer, ao invés de fazer um filme de Super-herói, fez um sci-fi baseado na história dos X-men. E deu muito certo. Finalmente começaram a ver que super-heróis podem ser fonte para filmes “de verdade”. Provavelmente, sem X-men, não teria existido Cavaleiro das Trevas.
2 – Os filmes dos X-men são relevantes. Diferentes dos filmes da Marvel, que não tem pretensão nenhuma além de entreter, os filmes dos X-men (independente da qualidade) tratam de temas realmente importantes em nossa sociedade e são um reflexo das discussões cada vez mais acirradas a respeito de diversidade, liberdades individuais e direito das minorias, apenas para citar alguns. É verdade que X-Men traz este tipo de discussão em sua essência, mas seria muito fácil cair para discussões superficiais (Como Man of Steel, que tenta ser profundo, mas é só um filme da Marvel pessimista), ou ser demasiado panfletário.
3 – X-men 2 é um dos melhores filmes de super-herói dessa nova safra. Nesta continuação, Singer mostra que consegue trabalhar com um elenco grande e com uma história complexa, e traz um filme bastante pertinente socialmente, até para os dias de hoje. Muita gente deprecia X-men 2 injustamente depois que Singer dirigiu Superman – o Retorno, mas X2 tem uma história sólida, instigante e realista – além de ser inspirada numa das melhores HQs dos X-men, embora Singer sabiamente tenha trocado a crítica ao protestantismo fanático americano pela crítica a métodos duvidosos do governo.
4 – Dias de um Futuro esquecido é o primeiro filme de super-herói sobre viagem no tempo. Pelo menos até onde eu me lembro. E, para o universo dos X-Men, a pergunta: “o que você mudaria se pudesse voltar no tempo” ganha relevância maior quando associada ao contexto dos personagens. As possibilidades para se fazer uma história tão relevante quanto X-men 2 são enormes.
5 – X-men: DOFP pode resolver problemas de continuidade da franquia. Usar viagem no tempo permitiria usar isso como desculpa para consertar os muitos erros de continuidade que acontecem entre os filmes dos X-men, o filme do Wolverine, e X-men First Class.
Mas por que não vai ser:
1 – Superlotação de personagens. Bryan Singer é um bom diretor de grupos, mas colocar uma porrada de personagens sempre traz problemas, e X-men 3 demonstrou isso. O principal deles é dar tempo para todos os personagens. Se a grande maioria são apenas coadjuvantes, tudo bem. Mas em DOFP temos vários grandes atores, muitos ganhadores de Oscar, que eram personagens relevantes nos filmes anteriores e que não vão ter tempo de dar o seu melhor, já que o filme teria que dar pelo menos alguma relevância para todo o elenco dos filmes originais, e manter o elenco de First Class à frente, para seguir adiante com as continuações, além de apresentar novos mutantes que poderiam aparecer nas sequências.
2 – Wolverine e seus amigos. Se tem uma crítica forte que dá para se fazer dos filmes do Singer é que ele ama o Wolverine. Tanto que o Wolverine se torno o protagonista de praticamente todos os filmes (e até First Class, em que ele só faz uma ponta, ele tem que “roubar a cena”). Como esse filme provavelmente vai ser mais um com o Wolverine de protagonista, e somando isso a quantidade elevada de personagens, e sabemos que haverá muitos personagens mal aproveitados na trama.
3 – Tempo. Um filme com esse nível de complexidade, dentro de aproximadamente duas horas, é loucura. É verdade que empolga pensar nas possibilidades de uma versão live action, mas a possibilidade de dar merda é grande.
4 – Liberdades criativas. Como o Dias de um Futuro Esquecido do cinema será uma extensão da cronologia própria dos X-men nas telas e não uma adaptação fiel da história original, algumas liberdades criativas foram tomadas que podem sacanear o filme profundamente. A principal delas é trocar a Kitty Pride pelo Wolverine, por ele ser, na visão da Fox, o protagonista dos X-men. Outra é colocar personagens como Mercúrio, que será usado em Vingadores 2, mas que não serão o mesmo personagem – o que provavelmente vai confundir a audiência de não leitores de quadrinhos. E por aí vai. É óbvio que não daria pra fazer uma adaptação literal, mas certas mudanças são bastante desnecessárias do ponto de vista narrativo.
5 – É um filme da Fox. E isso, infelizmente, diz muito.