A Gente Vimos – Operação Big Hero
Resenha de filme do ano passado? Mas é claro que tem! Afinal, vocês não vieram aqui pra caçar.
Todo mundo tá careca de saber que a Marvel agora é melhor que uma impressora de dinheiro: qualquer coisa vende, qualquer coisa mesmo, e depois do supergrupo das pessoas verdes, guaxinins e árvores falantes, é hora de algo “completamente diferente” – um DESENHO. E ai, prestou?
Quando saíram os primeiros releases, duas coisas ecoaram na mente de um monte de nerdões por aí, sendo que a primeira disparado certamente foi – QUEM SÃO ESSES PUTOS?! Se você é igual a mim, que minto que gosto de quadrinhos pro Hell me deixar escrever minhas baboseiras pro site, ficou mais confuso do que quando sua mãe te pediu pra ir comprar cigarros durante aquela visita mais demorada do encanador do bairro (sendo que ela nunca fumou).
Nas HQs, o grupo foi uma iniciativa surgida do já distante ano de 1998 (pergunte aos seus pais, eles lembram) da Marvel de tentar conquistar a molecada – cada vez mais otakunizada – de volta pros Comics tentando “orientalizar” seus títulos. As histórias contavam as aventuras dum grupo de heróis nipônicos enfrentando inimigos no melhor estilo dos quadrinhos da época, mas assim como aconteceu no filme dos GuardiÃes, a versão atual difere em muito da clássica, então vou cagar (mais ainda) para ela. Vamos ao que interessa.
Depois de três parágrafos de introdução (longa, hein?), vem a segunda pergunta que todo mundo se fez quando viu o primeiro trailer da bagaça: “AH, ENTÃO É UM NOVO OS INCRÍVEIS?!” – sim e não, jovem nerdalhão. Embora claramente note-se semelhanças com o clássico Pixar, dá pra ver claros traços Disney autênticos na obra.
Está tudo lá: o personagem principal fácil-de-se-identificar (o jovem garoto inseguro que vence mais pela esperteza que pela força), o sidekick carismático (Baymax, pálido e gordo, como nossos leitores), a femme fatale, a patricinha, o negro, o alívio cômico, o vilão, etc. Mas se quem vai ver filme de super-herói esperando fugir de clichês está numa furada, quem vai ver um DESENHO de super-herói esperando um roteiro originalíssimo precisa considerar seriamente ir embora do América.
O longa tem muitos méritos, como por exemplo na animação. Embora tanto o já mencionado Incríveis quanto outras produções da Pixar sejam primores em quesitos técnicos, Big Hero Six brilha na expressão corporal dos personagens. Você compra a idéia de que são pessoas ali, não só bonecos imaginários. Hiro passa verdade como pré-adolescente inseguro em seus gestos e expressões, assim como os demais colegas. Tudo é muito fluído e natural, explorando bastante os recursos técnicos atuais, mostrando uma cidade (a pitoresca San Fransokyo) viva.
Outro ponto de destaque é quanto ao roteiro. Me fez lembrar, não sei onde foi que eu li, que os referenciais em histórias em quadrinhos de super-herói costumavam ser os caras fortes e poderosos, sem falhas, que combatem o crime com socos e chutes e que o primeiro herói que despontava pelo intelecto era o Senhor Fantástico – até então o cientista era ou o benfeitor misterioso ou o vilão megalomaníaco. O problema é que o Reed era chato pra burro e a noção foi aposentada com alguma sobrevida aqui e ali: por mais que nos vendam um Tony Stark savant ou um Ray Palmer PhD., a ciência sempre fica renegada a um segundo plano em detrimento da ação. O novo supergrupo da Marvel atesta contra isso, mostrando que sim – a ciência e a tecnologia podem ser aliadas do super-heroísmo sem que fique algo chato, maçante ou IMPOSSÍVEL (pois o filme conta com VÁRIOS consultores de universidades sérias, basta conferir nos créditos) – isso é BEM legal, se você me perguntar.
Nem tudo são flores, no entanto. O filme carece um pouco de motivação – não para sua trama – mas para o que acontece DEPOIS DELA. O pano de fundo é colocado de maneira magistral pelo roteiro, em quinze minutos já sabemos tudo o que precisamos saber e nada é explicado de forma demasiada nem em nenhum momento o texto chama o espectador de burro (e veja, isso é um filme para crianças), mas San Fransokyo soa um pouco “limpa” demais.
Não existe mal, crime, vilões e assim por diante, ficando o grupo muito mais próximo dos “rescue heroes” japoneses do que aos supergrupos dos Comics. Me pergunto desta maneira como aconteceria numa possível continuação. Pelo menos fizeram o favor de separá-la do universo regular dos cinemas, apontando para uma dissociação, tal qual sugerida não faz muito tempo pelo diretor do Guardiões.
No final o saldo é positivo. Se na minha primeira (e polêmica resenha) demonstrei preocupação com um Marvel Studios que nos venderia qualquer coisa embrulhada num papel colorido que compraríamos sem nem ao menos checar seu conteúdo, Operação Big Hero me fez ter confiança no esquema e esperar ansiosamente pelo seguinte. Acredito que esse seja o próximo passo da joint-venture Marvel/Disney, entregando personagens não tão conhecidos em nome de uma liberdade criativa que outros estúdios rivais tentam, mas não conseguem entregar.
Que venham as próximas adaptações, as próximas reinvenções! Qual será o próximo supergrupo? Será que veremos um longa dos Novos Guerreiros (como um easter egg durante o filme sugere)? Ou teremos a Tropa Alfa? O infinito é o limite.
Operação Big Hero
Nota: 8,98
ps.: tem sim cena pós-crédito, e vale a pena esperar. Bem, eu achei.