A Gente Vimos: Capitão América – Guerra Civil
Em 2008, a Marvel lançou o primeiro filme do Homem de Ferro, começando uma sequência de treze filmes que culminou até agora em Guerra Civil, o início de sua Fase 3.
E devo dizer que, além de ser o melhor filme dela, é o que mais soube aproveitar o universo em que estava inserido.
O filme começa com uma missão dos Vingadores (com exceção do Visão e do Máquina de Combate) na Nigéria, em busca do Ossos Cruzados. Depois de algumas interações, porradarias e explosões de vilões pelo Falcão (não pense que não vi), o vilão tenta se explodir, mas a Feiticeira Escarlate o leva para longe. O problema é que esse longe era uma embaixada wakandana, o que causa vários mortes. É o estopim para a opinião pública se virar contra os Vingadores (especialmente a Feiticeira) e a criação dos Tratados de Sokovia.
E é aqui que os filmes antigos da Marvel começam a ser usados, especialmente Era de Ultron. O acidente em Sokovia matou uma caralhada de gente enquanto os Vingadores “chutavam bundas”, e há uma divisão entre os super-heróis sobre aceitar que um comitê da ONU comande-os ou não. Esse cisma entre os personagens é acentuado com a explosão de uma conferência das Nações Unidas, supostamente causada pelo Soldado Invernal. Cabe ao Capitão América e o Falcão, auxiliados por Sharon Carter, tentarem resgatar o cabra antes das forças especiais e o Pantera Negra, cujo pai morreu na explosão, e é aí que o filme estoura.
Entenda, o verdadeiro foco do filme são os personagens. Os irmãos Russo aproveitaram os filmes anteriores para montar os arcos deles, aprofundando nos que apareceram pouco (Visão e Feiticeira, por exemplo) e deixando subentendido em outros (Gavião Arqueiro). Cada um deles tem seu momento, suas cenas de ação e um real de propósito de estarem ali. Por mais que uns apareçam mais que outros, não fica a sensação de que nenhum deles esteja ali de passagem (o.k, tirando o Martin Freeman. Esse apenas visitou os sets).
Aliás, sobre os personagens, precisamos de parágrafos extras para o Pantera e o Aranha. T’Challa está extremamente fiel à sua versão nos quadrinhos, inclusive tendo um próprio arco dentro do filme. É quase um filme de origem enfiado em Guerra Civil, com uma redenção no fim e tudo. Por mais que pouquíssimo de Wakanda tenha aparecido, os dados já estão lançados para o filme solo do personagem, com direito à suas famosas guarda-costas e o sotaque que Chadwick Boseman criou.
E o Aranha? Puta que pariu, foi a versão mais espetacular até agora do Teioso nos cinemas. Era tão fácil. Tão fácil. Sai o adolescente skatista e que escuta Coldplay, entra um garoto nerdão, nervoso e que fica montando computadores na hora vaga. Ele aparece bem mais do que eu esperava, com direito a azarações do Homem de Ferro em cima da Tia May e piadinhas aos baldes nas cenas de ação. Era só entregar pra Marvel, no fim das contas.
Infelizmente, o vilão mais uma vez sai mediano. Zemo não é um Luthor como estavam dizendo, mas ele é apenas um zé-ruela manipulador que faz seu papel sem muito destaque. Pelo menos não foi morto como quase todos os outros vilões da Marvel, mas ele não é o Barão Zemo. É meio difícil dar enfoque ao vilão quando o mote do filme é sobre heróis se porrando, mas não precisava ter desperdiçado um personagem assim. De novo.
Agora, o filme não é um Vingadores 2,5. É um filme do Capitão América, acreditem. Ele é o fio condutor da história, ele possui o cerne moral do filme, ele beija a mocinha, abandona o escudo, lidera os personagens, apanha pra caralho e ainda dirige o Fusca. Não que Chris Evans esteja fenomenal em seu papel (aliás, ninguém está), mas ele já está no automático. Todos os atores sabem como devem agir, o que melhora as interações entre eles.
Um exemplo disso é o próprio Homem de Ferro, que embora tenha tido uma ceninha bem modorrenta para explicar sua motivação (ei, eu tenho um trauma com a morte dos meus pais, desculpa nunca ter dado importância pra isso nos meus três filmes), melhora muito com o passar do filme. Como Evans não é ator suficiente para dar explosões e outros chiliques, cabe a Downey Jr fazer esse papel. Os dois se complementam muito bem, mas o Capitão leva a história e o Homem de Ferro cuida de grande parte do drama. O que incomodou foi a cartinha do Capitas no fim tirando grande parte do drama final. Era desnecessário.
Agora, para encerrar, vamos falar dos irmãos Russo, os maiores achados da Marvel até agora. Eles, mais até que o Whedon, sabem montar as peças do quebra-cabeça do MCU e usar o que for necessário para criar coesão. Eles conseguem até mesmo corrigir erros de Vingadores 2, explicando o arco do Homem de Ferro depois de seu terceiro filme. Se havia alguma dúvida para Guerra Infinita e sua miriade de personagens, eles souberam muito bem usar o que tinham a disposição em Guerra Civil.
Não apenas isso, mas eles são excelentes diretores de ação e comédia. A coreografia das cinco grandes cenas de ação do filme são excelentes, e tem piadas no filme que estão entre as melhores dos filmes da Marvel. Embora a edição pareça ter esquecido de algumas cenas intermediárias, eles conseguiram fazer um filme rápido, dinâmico e com momentos de desenvolvimento de personagem que não fazem transparecer as duas horas que você passa no cinema.
(E obrigado pelo reitor de Community no filme).
Capitão América: Guerra Civil acaba se tornando o ápice de tudo que a Marvel fez até agora. A fórmula dos filmes é explorada ao máximo aqui, apoiando na interação entre os personagens e o senso de continuidade do universo cinematográfico para entregar uma obra ágil, divertida e empolgante. É a Marvel usando tudo que aprendeu e suas melhores armas, e saíram disso duas horas e meia que te fazem ficar extremamente animado para o que vem por aí.
Nota: 9.0