A Gente Vimos: Bojack Horseman, Terceira Temporada
Bojack Horseman é uma série estranha. Eu não tenho como argumentar sobre sua qualidade, mas também não costumo indicá-la. Isso porque ela é, acima de tudo, uma série honesta. Ela não vai te deixar sonhar sobre um mundo melhor ou algo do tipo, ela vai te chutar nas bolas e mostrar o mundo frio e cruel que temos através de um cavalo depressivo.
Sorte (ou azar) que a terceira temporada não faz isso com tanta intensidade.
Spoilers, obviamente.
Para quem não sabe, Bojack é um ator que só tinha um grande papel na carreira: o astro de uma série de comédia dos anos 90. Contudo, a terceira temporada começa com ele tendo estrelado o filme de sua vida, Secretariat. Isso normalmente colocaria qualquer pessoa feliz, exceto Bojack, que tem um novo objetivo: ganhar o Oscar.
A terceira temporada tem uma ideia que se assemelha bastante ao último episódio da primeira, onde Bojack tinha acabado de “escrever” uma auto-biografia e voltado aos holofotes. Essas conquistas, contudo, não são o suficiente para satisfazê-lo, que sempre tenta procurar uma outra coisa como se ela fosse a resposta da sua felicidade. A diferença é que a terceira temporada tem mais tempo de trabalhar todo esse processo de auto-destruição.
O problema é que ela mais parece uma temporada de ligação com as outras do que uma que ganha por mérito próprio. Temos temas que acompanhamos desde a primeira temporada sendo concluídos ao mesmo tempo que ganhamos outros, mas vários deles parecem jogados. Não há muito tempo para trabalharmos com as conclusões de certas histórias pois já começamos outras imediatamente depois, e isso dá um clima passageiro à série onde pouca coisa se destaca.
Um representante dessa temporada é o episódio do aborto. Não que seja um episódio ruim, mas ele poderia muito mais. Não há debate, não há desenvolvimento de personagens, nada. Exceto uma constatação de tratar o aborto como algo natural, o que tem seu peso, obviamente, mas é um tema forte que pareceu ter sido simplesmente jogado. A Princess Carolyne, por exemplo, tem uma cena que ela parece julgar a Diane por abortar porque ela sempre quis ter filhos e uma família, mas imediatamente isso é descartado. Alguns personagens até parecem totalmente fora do normal, como o Mister Peanutbutter, simplesmente aceitando o que está acontecendo.
Contudo, em nenhum momento podemos dizer que foi uma temporada ruim. A qualidade da animação está bem melhor, e tem episódios que se destacam, como o que acontece debaixo d’água, praticamente sem diálogo. Também é bastante importante ver a atitude auto-destrutiva de Bojack finalmente o afastando de seus amigos, levando-o ao ponto mais baixo que esteve, mesmo sem fazer nenhuma atrocidade como o final da segunda temporada.
Os discursos honestos também continuam lá. Particularmente, achei que dois se destacaram: O primeiro sendo Bojack explicando que o amor ideal muitas vezes não existe, e você tem que ter comodismo para aceitar quem simplesmente gosta de você. Isso é algo que pouquíssimas vezes vi, a defesa do comodismo. Além disso, tivemos Todd finalmente jogando na cara de Bojack que ele não pode mais usar a vida de merda que teve para justificar o que faz.
O problema é que, enquanto Bojack teve um excelente arco, os outros personagens pareceram jogados. O próprio Todd parece à parte na série, e, enquanto a Princess Carolyne tem momentos importantes, ela simplesmente volta ao status quo como se nada tivesse acontecido. Peanutbutter também teve bons momentos para crescer, mas o arco do irmão dele foi o mesmo que nada.
Contudo, como eu disse, foi uma temporada de ligação. Ela terminou de um jeito diferente, tal qual Game of Thrones, simplesmente posicionando os personagens para seus próximos arcos. Isso dá chance aos roteiristas para usarem cada momento que pensamos em descartar nessa temporada para no final afirmar que foi tudo um plano e todos eles estavam construindo algo. A repórter do primeiro episódio é um caso claro disso, porque ela simplesmente sumiu e ninguém falou dela de novo.
Apesar disso, até lá não podemos fazer essas afirmações e a terceira temporada permanece meio jogada. Novamente, não que ela seja ruim, mas ela não é tão impactante quanto as outras. Ainda assim, ela te deixa completamente pilhado para a próxima, porque Bojack parece ter encontrado um lugar dos sonhos, ele parece ter uma filha, Peanutbutters vai se candidatar a governador e Diane provavelmente se encontrará entre o marido e seu senso de verdade.
Só espero que dêem algo pro Todd fazer com a amiga qualquer coisa dele.
Nota: 7,5