A Gente Vimos: Big Mouth
Big Mouth foi uma dessas coisas que logo pelo trailer eu sabia que queria ver. Sabe, quando te empolga já na premissa? Pois é. Dez episódios depois, será que o desenho da Netflix sobreviveu ao pequeno, porém poderoso, hype que eu criei (para mim mesmo)?
Para quem não sabe, Big Mouth é uma animação produzida pelo serviço de streaming favorito do mundo que estreou na última sexta-feira e prometia falar sobre a puberdade sem papas na língua nem meia-hora. A ideia pode já parecer clichê a essa altura do campeonato, mas a franqueza das piadas do trailer e a presença de Andrew Goldberg, roteirista de alguns episódios de Family Guy, me chamou a atenção e me fez conferir a parada.
Além de Goldberg, mais três nomes assinam a criação do desenho: Jennifer Flackett e Mark Levin – que escreveram Wimdledon (e cometeram o Jornada ao Centro da Terra de 2008) e Nick Kroll, um famoso aquele-cara-daquele-filme de comédia que além de escrever também dubla o personagem principal… Nick.
É. É um Nick escrevendo a história de outro Nick enquanto dubla o mesmo Nick. Criativo né?
Então, já com a expectativa balanceada por isso tudo, comecei o primeiro episódio sem a menor intenção de maratonar o negócio. E eu, que nunca pensei que ia ser otário, fui otário não pensava que ia maratonar, maratonei. Afinal, com episódios de só 30 minutos é bem fácil assistir vários numa sentada só (ui) sem perceber.
O roteiro ajuda bastante: Big Mouth é cheio daquelas observaçõezinhas sobre a adolescência que você já viu por aí em vários filmes do Judd Apatow por aí, mas por se tratar duma obra animada acaba se utilizando de recursos divertidos que tornam a narrativa algo totalmente diferente – como por exemplo a presença do Monstro da Puberdade, que é uma mistura de shinigami de Death Note com a voz do Jake de Hora de Aventura que personifica a cabeça confusa de um adolescente frente ao turbilhão hormonal típico da idade.
Além dele, vários outros personagens que estão lá só podem existir por ser uma obra animada como as Vieiras (dubladas pelo John Hamm, de Madmen e Kimmy Schmidt), a própria versão feminina do Monstro da Puberdade, um travesseiro-de-punheta falante de um dos personagens e a xoxota (também falante) de outra personagem.
É, é isso aí que eu falei mesmo.
E é ai que, para muitos eu imagino (e para a galera do MBL) o trem descarrilha. Big Mouth não tem medo de pegar pesado e fazer a piada mesmo que isso signifique perder o amigo – ou o espectador, afinal, por ser dum serviço de streaming, quem está assistindo já pagou, né? (ou está naquela sacanagem de ficar trocando email fazendo contas novas para assistir um mês de cortesia de cada vez. Deus tá vendo, viu?) Inclusive, algumas piadas são feitas sobre isso e mesmo que isso não soe tanto original para uma produção da Netflix, soa engaçado.
O importante é que a série sobrevive ao escândalo, ou seja, diferente por exemplo de algumas temporadas inteiras do já citado Family Guy, Big Mouth soa forçado MESMO em pouquíssimas ocasiões. No resto diverte bastante, inclusive me fazendo lembrar de vários momentos da minha adolescência…
… ao mesmo tempo em que em outros pontos me faziam me perguntar “pqp, será que tem gente que faz isso MESMO?”
No final, acho que o saldo é positivo e eu recomendaria para todos os públicos (mesmo. Inclusive assisti com a patroa e pelas risadas dela, muita coisa também se encaixou para o outro gênero) e em tempos de extrema babaquice e falso puritanismo que a sociedade brasileira vive, quem sabe ver um desenho sobre punheta, menstruação e sexo não dê uma relaxada nessa galera que reclama muito na internet e esquece que também tem um piru e uma boceta dentro da calça.
Big Mouth
Netflix10 episódios de 30 minutos
Nota: 8 caralinhos voadores