A gente vimos: Agents of SHIELD, 2ª temporada (mid season) [SPOILERS]
Num dos podcasts MDM recentes, o Nerd Reverso comentou sobre o novo “formato” que as séries americanas têm empurrado para os espectadores, de dividir a temporada em duas e ter meio que dois season finales: um no meio e outro no fim da temporada.
Provavelmente este formato vem como uma resposta natural à mudança na forma como os espectadores assistem séries hoje – as séries tradicionais de TV aberta, com 22 episódios por temporada, competem hoje com as séries com temporadas mais curtas da TV a cabo e com o formato “assisto quando eu quiser e tudo de uma vez, se eu quiser” de modelos como Netflix – esperando que o programa entregue sempre mais e mais rápido.
Esta competição foi algo que a emissora deve ter percebido que fez diferença. Embora Agents of SHIELD, na primeira temporada, tivesse pouca audiência depois do seu piloto, a audiência aumentava consideravelmente quando outros números (como o de pessoas que gravam a série para assistir em outro horário, por exemplo) eram levados em consideração, o que provavelmente foi o responsável pela mudança no formato. Agora, Agents of SHIELD vai dividir espaço com Agente Carter, série de curta duração que divide essa temporada em dois. Ou seja, Agente Carter estreia em Janeiro, segue por 8 semanas diretas, e depois Agents of SHIELD retorna quase sem hiatos.
No caso de AOS, este formato se mostrou altamente benéfico para uma série que começou tropeçando bastante, encontrou seu caminho apenas a partir do fim da primeira temporada e que ainda luta para mostrar aos telespectadores que, sim, a série é digna de fazer parte do Universo Cinematográfico da Marvel.
A segunda temporada começa onde a primeira temporada da série, que engrenou mesmo perto do final, nos deixou: Com a descoberta de que o pai da Skye está vivo, Ward preso por trair a equipe, Fitz com sequelas ainda desconhecidas do ocorrido no season finale, a continuidade da caça à Hidra em meio à promessa de reconstrução da SHIELD praticamente do zero, agora sob a nova direção do Agente Coulson.
A nova temporada começou querendo mostrar que havia aprendido com os erros passados – e se tem uma coisa que dá para falar sobre a Marvel Studios é que eles ouvem as críticas – e que esta era uma nova fase para o programa, o que logo se mostrou verdade. Durante estes primeiros 10 episódios, tivemos tudo quanto é “mistério” da série resolvido sem muita delonga (o pai da Skye, o que ela é, de onde veio, o que aconteceu com Fitz, o que são os irmãos Koenig) numa sequência de episódios com um ritmo muito bom desde o começo. Definitivamente, neste quesito, a série aprendeu com os erros.
Outra coisa que a série melhorou muito foi no formato: ao invés dos “casos da semana”, o programa passou a contar com uma narrativa mais linear e direta, com poucos desvios – uma característica possível nesta temporada pelo substancial aumento de personagens fixos, o que permitiu diversos episódios com duas tramas correndo em paralelo e eventualmente se interligando.
Os personagens também melhoraram bastante, pelo menos num geral. Enquanto na temporada passada os personagens se esforçavam para convencer o público do quanto eram fodas, agora gente como Skye tem mais o que fazer ao invés de ficar digitando em telas fictícias. A temporada também deu mais para personagens como May, Simmons e Ward fazerem, além de incluir novos e interessantes personagens, como Bobbie Morse e o Homem Absorvente (ahuahauhauhaahuuah).
Apesar do programa continuar o mote do embate SHIELD versus Hidra (que nesta encarnação da série encontra em Daniel Whitehall seu principal antagonista), a história usou muito bem esta característica para manter o ritmo e ao mesmo tempo incluir ou criar novas ameaças, como o “Doutor”, pai da Skye, Raina e Ward, que do estereótipo de agente genérico passou a um mezzo vilão mezzo anti-herói bem mais interessante.
Mas se, por um lado a série deu um salto na qualidade das histórias, por outro manteve ainda alguns vícios e defeitos que eu via desde o início da temporada. O mais grave deles é quanto ao desperdício de alguns personagens, em especial, nesta temporada, dos agentes Mack e Tripplet. Trip para mim foi o caso mais grave, por que foi introduzido temporada passada tendo como bagagem uma ligação foda com o MCU (era neto de Gabe Jones, do Comando Selvagem), e desde então foi não só subaproveitado (o fato dele ser negro certamente que não tem nada a ver, né?) como não teve sua personalidade desenvolvida o bastante para se tornar interessante, enquanto outros personagens que caíram de paraquedas na série (caucasianos, claro) ganharam muito mais destaque. Mack (que também é negro) pareceu um personagem muito interessante desde o início, mas frequentemente foi deixado sem ter o que fazer por causa da quantidade de personagens que essa temporada tinha, e no fim se fodeu, ele e o Trip (embora eu creio que Mack continue entre os vivos, o que não se pode dizer o mesmo de Trip).
Se os personagens negros não tiveram um bom aproveitamento, com as mulheres, felizmente, o assunto foi bem diferente. Não só personagens como Skye, Raina e May conseguiram se destacar como a versão da série para Bobbie Morse/Harpia, interpretada por Adrianne Palicki foi uma enorme aquisição para a dinâmica da série.
Mas é claro que o melhor da série foi fazer algo que todo mundo esperava, mas não imaginava que a série faria tão cedo: pavimentar caminho para o vindouro filme dos Inumanos (que só sai daqui uns 4 anos). O mid-season finale encerrou esta primeira leva de episódios nos entregando a verdadeira identidade de Skye – ela é na verdade Daisy Johnson, que nos quadrinhos é conhecida como Quake, o que faz o “Doutor”, seu pai, ser automaticamente o personagem Mister Hyde – apesar de, na versão da série, Daisy ter tem raízes inumanas. Somos também apresentados aos cristais e névoas terrígenas e a uma cidade (que na real, não aparece, apenas em hologramas), que provavelmente já foi um dia Attilan (lembrando que nos quadrinhos os personagens mudaram de endereço diversas vezes), e ao fato de que existem outros “inumanos” por aí. Embora o termo “inumano” não tenha sido usado de forma explícita, as referências são bem óbvias.
Então, vale a pena assistir esta primeira metade da nova temporada? Com certeza.
É necessário ter assistido a temporada anterior? Não necessariamente. Basta ter assistido Capitão América: O Soldado Invernal, saber que a SHIELD agora é considerada um grupo terrorista, que a Hidra ainda está por aí e que Nick Fury entregou as “chaves” da SHIELD para Coulson reestruturar a agência. O resto é facilmente compreendida no decorrer dos episódios.
Nota: 8,327