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A gente lemos – Surfista Prateado: Parábola

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Porra… que CAGAÇO desse Galactus!

Porra, complicadíssimo falar de Moebius. Pelo menos é mole falar (mal) do Stan Lee!

Eu lembro que quando Jean Giraud – o Moebius – faleceu, o mundo nerd veio abaixo em homenagens pro cara. Merecidas, claro, mas dentre um monte do que se falou dava pra ver que pouca coisa era HONESTA: em sua maioria era mais ou menos naquela “regra do artista morto”, que depois que perece vira um GÊNIO, irretocável, mimimi. Não digo que a babação seja desmerecida, mas que foi artificial, afinal daquele monte de carpideira ali poucos conheciam mesmo o trabalho do cara.

Acabei preferindo a via honesta. Digo logo, nunca fui grande conhecedor, pelo contrário – tirando o pouco que chegava aqui pela Heavy Metal nacional (que eu lia escondido na casa do meu tio, porque tinha peitinho e não era leitura pra criança) eu li pouco do cara. No máximo um Incal português que eu peguei emprestado na Gibiteca do Ultra, mas que nunca terminei por falta de vergonha na cara. Mas sempre curti o traço doidão do francês, porque era um troço diferente do que a gente vinha acostumado. Mas confesso que nunca ENTENDI muito bem o trabalho, sobretudo autoral do cara. Sou burro mesmo, confesso.

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Mente não, que tu também não entendeu o desenho.

Daí depois do falecimento do cabra CHOVEU de lançamento da obra dele por aqui, inclusive umas coisas BEM CARAS, que antes do artista bater as botas eram quinze reais em muito sebo por ai (já trabalhei em um, sei como os donos podem ser burros quando o negócio sai do eixo DC-Marvel), mas um lançamento se destacou justamente pelo seu caráter acessível, seja quanto ao preço ou quanto ao material em si – “Parábola”, que ele produziu para a Marvel em conjunto com o homem, o mito, Stan Lee. Como tava barato, comprei.

Logo de cara vem o acabamento FODA que a Panini colocou na parada, que aliás tem sido o padrão na editora (palmas para ela): capa dura, papel especial, material extra… não devendo em nada àqueles outros lançamentos mais caros. E por ser uma história envolvendo o Surfista Prateado contra um dos vilões mais icônicos da editora – o GALATICUS GALACTUS. Fiquei bem ansioso pelo que encontraria. Será que ia ser aquelas doideiras tipo da Heavy Metal? É, bem, não.

Infelizmente o argumento de Lee fode com a porra toda. Moebius era um cara genial mesmo porque dá pra notar que ele consegue transmitir muito mais com o traço do que o velho Stan com seus balões auto-redundantes. É foda porque as vezes você fica desejando que o quadrinho tivesse bem menos texto, ou até que fosse MUDO (como muitos trabalhos do artista). As vezes o diálogo consegue EMPOBRECER a arte, a ponto de eu ficar imaginando se não existe uma outra trama subscrita na arte independente do argumento. A história fica muito encavalada, atropelada, parecendo que pegaram um argumento para uma minissérie em seis edições e condensaram em duas. E também não é lá meio original (novidade), porque soa muito com algumas coisas da DC, envolvendo o Galactus deles – Darkseid – vindo para o nosso planeta com um plano de dominação baseado na religião… li pouco pela Abril, não lembro mais. Os DCnautas nos comentários relembrem ai que porra era essa.

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“E hoje, o incrível GALACTINI, mágico infantil, fazendo seu famoso truque com SURFISTAS!”

É como um revés do “Marvel Way”, que se caracteriza pela entrega de um handout num primeiro momento do roteirista para o artista, que se encarrega da montagem das cenas para só depois o preenchimento dos balões por aquele primeiro. Parece que em Parábola, Lee entregou um argumento para Moebius que o desenvolveu de maneira genial a ponto que quando entrou para escrever os balões o velhinho não conseguiu acompanhar o ritmo, escrevendo aquele velho blábláblá sessentista do qual nunca conseguiu fugir. Eu entendo que isso tem lá o seu charme, mas não quando se convida um artista do nível desses.

Como escreveu o próprio Giraud, o título ficou no meio do caminho entre um quadrinho de super-heróis e um quadrinho europeu e se parasse ai, eu ficaria – sem sacanagem – me sentindo enganado, ficando com um título irrelevante nas mãos. Valeria mais ter procurado um Incal no sebo do meu ex-patrão. Ai que o material BRILHOU de verdade – NOS EXTRAS. Ao final da história, a edição possui 14 páginas escritas pelo artista comentando TODA A OBRA. Argumento, personagens, composição de cena, uso de cores, rotina de trabalho… tudo num profissionalismo e numa clareza invejável pra muita gente, mostrando que de doidão Moebius tinha só sua arte. O cara era um artista completo e digo que se me oferecessem SÓ esse material pelo mesmo preço, talvez eu pagasse até mais caro para lê-lo.

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É foda ver que até o que o cara DESCARTOU era bom pra caralho!

Por fim valeu a compra, vai virar um item bacana pra se por na estante. Mas deixou o desejo – agora infelizmente inconsolável – de imaginar como seria uma história desse naipe com um Moebius sem as rédeas da Casa das Idéias. Quem sabe no final a conclusão não seja exatamente essa, de que são estilos incompatíveis e que, afinal, foi melhor assim.

 

Surfista Prateado – Parábola

Roteiro de Stan Lee, arte e cores de Moebius
92 páginas, cores, capa dura, R$ 21,90, Panini.

Nota: 8

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