A gente lemos: O Maravilhoso Mágico de Oz
A história você já conhece: Dorothy, Homem de Lata, Espantalho, Leão Covarde, Totó… E uma estrada de tijolos amarelos. Será mesmo que não há lugar como o nosso lar?
Quando eu era moleque, O Mágico de Oz, o filme velhaco com a Judy Garland, era sinônimo de Natal – era um filme que sempre passava nas Sessões da Tarde antes do feriado, junto com a história de Rudolph, a rena do nariz vermelho. Muito da magia da trama (de Oz, não de Rudolph) se misturava à magia infantil da festividade, deixando uma lembrança nostálgica toda vez que penso nas aventuras de Dorothy e seus amigos pelo mundo perdido de Oz.
Para quem não sabe, O Maravilhoso Mágico de Oz, livro escrito em 1900 por L. Frank Baum, talvez tenha sido a primeira franquia infanto-juvenil gringa da História: o livro foi um sucesso tão grande que, até sua morte, Baum escreveu outras 13 sequências para a história original. Toma essa, Rowling!
Fato é, que um sucesso tão grande tornou-se fértil em adaptações: musicais para a Broadway, o filme da MGM, quadrinhos, quadrinhos, quadrinhos. É nesse grupo obviamente que se encaixa o trabalho de Eric Shanower e o controverso Skottie Young.
A proposta dos artistas e da Marvel era um tanto simples: passados mais de cem anos e um sem número de adaptações e releituras da trama de L. Frank Baum, fazer uma nova adaptação tão fiel quanto possível, de uma história cuja precisão já ficou distante no tempo. Dessa proposta surgiu a minissérie (em oito edições) The Wonderful Wizard of Oz, que a Panini publicou este ano num encadernado em capa dura.
Na trama, acompanhamos a já conhecida aventura de Dorothy Gale, menininha do Kansas que, por causa de seu cãozinho Totó, acaba indo parar com casa e tudo num distante, misterioso e mágico país. Lá, ela inicia uma jornada até a Cidade Esmeralda, onde vive o todo poderoso Mágico de Oz, o único capaz de lhe mandar de volta para casa. A acompanharão em sua jornada um Espantalho, ansioso por ganhar um cérebro, um Homem de Lata desejoso de um coração e um Leão, que sonha em ter coragem e poder tornar-se o rei dos animais.
Shanower e Young mantém muito bem o espírito de um conto infantil de fins do século XIX: há um clima ameno e diálogos didaticamente repetitivos, onde cada personagem diz com palavras similares, o que quer, está sentindo ou acabara de passar. Se descrito assim parece chato, posso garantir que não é: Baum, Shanower e Young estão contando uma história infantil, que apesar de não trazer uma lição de moral explícita, ainda assim vai trazendo pequenas exortações que precisam ser reiterados para serem bem compreendidos.
Como eu disse, o trabalho de Skottie Young é no mínimo controverso: há quem goste de sua arte, há quem a odeie. Admito que eu gosto bastante do seu desenho desavergonhadamente inspirado no grafiti, mas entendo quem não gosta. Aqui, acho que sua arte sofreu um pouco com a impressão e o papel escolhidos, que tornaram mais escuros e (ainda) mais confusos alguns quadros e passagens – nada que tire o gosto da leitura, de maneira nenhuma. No material extra que compõe o encadernado, Skottie dá uma leve explanada sobre o processo de criação dos personagens e o poder da forma deles sobre suas personalidades, muito mais do que um quinquilhão de acessórios faria. Coisa que um certo Liefeld talvez precisasse saber.
Enfim, o único ponto negativo de O Maravilhoso Mágico de Oz é o preço: são 212 páginas por 54 mangos. Não que seja um estupro, mas pera lá, Panini, Livros da Magia tem exatamente o mesmo número de páginas, a mesma capa dura e custa MENOS DA METADE! Será que não fazia mais sentido baratear o material desconhecido do que o já batido? Aí o sujeito se arriscava menos na hora de comprar…
Maravilhoso Mágico de Oz (The Wonderful Wizard of Oz), de L. Frank Baum, Eric Shanower e Skottie Young. Editora Panini (Marvel). 212 páginas, capa dura. R$ 54,00
Nota: 7,5