A gente lemos: Combo Rangers – Somos heróis
Eu já era adolescente quando dei de cara com a primeira criação de Fábio Yabu, os Combo Rangers. No tempo em que a internet ainda era movida a carvão e o universo ainda não tinha cometido a vacilação de unir Bugman, Ultra e Change Francisco Coelho, as webcomics dos personagens faziam rir muito mais aos (já então) velhacos criados na base de Changeman, Flashman e outros Bláblábláman congêneres dos tempos da Manchete (ok, o nome fazia referência muito mais aos Power Rangers, mas o Império Deskarga me lembrava bem o Império Gôzma…).
De lá pra cá muita coisa aconteceu, aquela era somente a “fase bolinha” dos personagens, quase uma semente do tudo mais que ia acontecer. O estilo simplório, desenhado direto no flash mudou, digievoluiu. Virou episódio especial em animação (quanto tempo gastava pra carregar as coisas naquele tempo…), que virou edição impressa. Série exclusiva pela JBC (antes dos mangás!), teve o “passe comprado” pela Panini. Tão rápido quanto entrou na vida das pessoas, também saiu. (entraram as Princesas do Mar e um monte de “combofãs”… órfãos na história)
Pois foi que esse ano o Yabu anunciou que ia retomar os personagens através de um projeto estranhamente híbrido pelo Catarse. Digo estranhamente porque ia ser financiado (e foi) pela plataforma de arrecadação, mas com o selo da JBC, editado pela JBC, com prefácio do editor da JBC, o Cassius Medauar. Estranho? Sim. Nem eu sei se entendi.
Então que há umas semanas eu li minha edição de Combo Rangers – Somos Heróis, com o retorno de Fox, Kiko, Ken, Tati, Lisa e Poderoso Porco Combo.
E, bem, talvez entre a época que eu lia os personagens, na net ou nas HQ’s impressas, talvez entre aquela época e hoje tenha se passado muita coisa. Coisa demais pra que eu continuasse curtindo os personagens.
Ou simplesmente, depois de tanto tempo fora daquele mundo, o Yabu tenha perdido a mão. Porque Combo Rangers – Somos Heróis (CRSH) não funciona. Não se decide se é voltado para as crianças de hoje, ou se quer atingir os fãs antigos (que inclusive devem ter sido um grupo substancial no financiamento). Acho que não se decidindo, acaba por não atingir nenhum nem outro. Para as crianças, os personagens não são bem apresentados, não são tornados interessantes, e desfilam diálogos terrivelmente piegas – como se a pieguice fosse o idioma das crianças. Para os velhos fãs, a história não acontece: fica aquela sensação de “ok, quando vai voltar ao normal?” que não é concretizada. É um álbum muito grande para terminar no meio da trama!
(opa, nem falei da trama!)
Em CRSH, o planeta Terra está povoado de pessoas com super-poderes por aí. Isso não quer dizer que está cheio de super-heróis, as pessoas tem os poderes mas não o altruísmo para usá-los em prol do bem coletivo. É então que o Império Domao, comandado pelo terrível Satan Boss e seus generais, Deck e Gilucke surge no horizonte, pronto a tomar o planeta. Mas três antigos (e ultrapassados) heróis, Homem-Reflexo, Pacificador e Poderoso PorcoCombo têm um plano iniciado há tempos. Cinco crianças sem poderes, mas com tudo o mais para vencer. E eles vão.
Para retomar os Combo Rangers, Fábio Yabu repete o mesmo caminho que a velha editora Abril (repetindo a DC) fez quando foi retomar a publicação da Liga da Justiça no país. A trama de CRSH é, sem tirar nem pôr, aquela criada por Mark Waid e Fabian Nicieza em “Pesadelos de uma noite de verão” (aqui, publicada em Melhores do Mundo #1 e 2, de 1997): todo mundo tem poder, menos os super-heróis já conhecidos. E uma ameaça avança rapidamente. Assim como na trama de Waid e Nicieza, você lê esperando pra ver como tudo vai voltar aos eixos. Os gringos gastaram mais ou menos 60 páginas pra isso. Yabu, com 128 páginas, não resolve. Não começa. Não anda.
Bem, já citei a pieguice dos diálogos, mas acho que vale reiterar, porque ele é inclusive repetitivo na trama. Perdi as contas das pessoas que disseram que estava lutando ou que deveriam lutar pelo “sorriso das crianças” ou quantas vezes Deck chamou alguém de mentecapto (e eu esperando que aquilo fosse uma piada que seria explicada). Ok, antigamente os Combo Rangers já eram piegas, já repetiam as coisas, um tanto para manter a origem, o link com a inspiração original. Mas em CRSH, Fábio Yabu exagerou. E muito. De novo esse cara tá chamando os garotos de mentecaptos?
Pra fechar, tem o problema do preço: eu achava R$39,90 proibitivo para crianças, mas dei uma passeada na livraria e vi que não tá distante não. Entretanto, aí me lembrei que Combo Rangers – Somos heróis não é um livro auto contido, início-meio-fim… Aí acho que o preço pesa. E ajuda a abaixar ainda mais a nota do volume…
Combo Rangers – Somos heróis, de Fábio Yabu e Michel Borges. Editora JBC. 128 páginas, R$39,90.
Nota: 4/10