Eu tenho notado uma tendência bem comum nas resenhas das Graphic MSP (inclusive nas feitas aqui no MDM, rrratinho-oooooo) de determinar a qualidade de cada uma comparando-as com as outras, o que eu considero bastante injusto.
Primeiro por que, desde o começo, a intenção de cada Graphic MSP era bem diferente uma da outra: Em Astronauta – Magnetar, a ideia era reinventar o Astronauta para um formato “não cartunizado”, ou seja, mostrar que um personagem da Maurício de Sousa poderia ser trabalhado de forma “séria”. Já Laços é um resgate da infância daqueles que tiveram a Turma da Mônica como a principal leitura quando crianças; aliás, ouso dizer que Laços nem era tanto para os fãs duradouros da Turma, e sim para trazer de volta aqueles que acabaram, por um motivo ou por outro, deixando de lado estes personagens que tanto amavam quando pequenos (como rever um parente ou amgo querido que não se via há muito tempo).
Segundo por que, embora o objetivo geral das Graphic MSP fossem buscar novos públicos, cada Graphic MSP foi direcionada para um público em particular: Magnetar era para quem não têm tanta ligação afetiva Turma da Mônica; Laços foi justamente o oposto. São públicos diferentes, e bem específicos.
E isso nos traz à Chico Bento – Pavor Espaciar, que talvez seja o mais “geral” de todos. Geral por que aposta no humor para fazer uma história que funcione com qualquer tipo de público e diversos níveis culturais. É claro que quem é antenado nos temas que a história trata vai poder aproveitar melhor, mas um leitor ocasional não vai ter problema em se engajar na aventura.* É, de todas as Graphic MSP, a que mais pode ser lida “casualmente”; o que não é, nem de longe, um demérito.
Em Pavor Espaciar, Chico Bento e Zé-Lelé precisam ficar um em casa sozinhos por um pequeno período de tempo sem se meter em confusão. É claro que, para os primos, torresmo e giserda isso não seria uma opção, e mesmo quando não procuram, a confusão vem até eles; neste caso, na forma de alienígenas que os abduzem.
Apesar da premissa simples, a história funciona por permitir ao Gustavo Duarte fazer o que ele sabe fazer melhor, que é contar histórias de forma bastante visual. E isso em vários sentidos: desde a própria narrativa, em que cada quadro é compreensível por si só sem depender de texto, quanto nos easter eggs espalhados pela história, relacionados à casuística ufológica e aviões e embarcações desaparecidas. Quem é antenado nestes temas, fique de olho que tem coisas bacanas.
A HQ não é totalmente sem texto, diferente de outros trabalhos do autor: ela tem alguns diálogos, mas o melhor de tudo é que ela não descaracteriza o trabalho, ao contrário: é usada apenas o necessário para fazer a história andar. Aliás, os textos são inclusive um dos pontos altos da história, pois Gustavo retrata um caipirês tão bem escrito que dá para ouvir as vozes dos personagens na cabeça. Ponto para o autor.
A arte, como de costume, é bem dinâmica e a narrativa gráfica é bem competente. É possível perceber a passagem de tempo através da história apenas pela arte, o que é muito bom, considerando que esse timming é um problema comum em muitas hqs (nacionais ou não).
Acho que a principal crítica negativa que posso fazer a história é o fato da leitura ser muito rápida: Como é uma história com poucos quadros por página e poucos diálogos, ela parece demorar muito menos para ler do que as outras (embora Magnetar também tenha parecido curta para mim, mas por um motivo diferente). Não que isso seja necessariamente ruim, apenas dá aquela sensação de “ué, já acabou?”. O roteiro também é bem simples e sem complicações, o que é de se esperar em histórias nas quais a a referência visual precisa falar por si mesma, e talvez por isso a história perca um pouco do seu brilho quando lida outras vezes. Mas a arte e os easter eggs certamente valem mais de uma olhada.
Por fim, Pavor Espaciar é uma história muito divertida – SE você não perder tempo comparando com outras Graphic MSP. Possui diversos easter eggs, como as anteriores (principalmente referencias à hipótese dos Deuses Astronautas), mas segue um ritmo e uma intenção completamente diferente, adaptada é claro ao estilo do autor. A parte boa disso é que a história pode ser facilmente sugerida para qualquer tipo de público, do seu sobrinho pequeno à sua avó, independente se elas são leitoras de quadrinhos regularmente ou não.
Nota: 8
*Sim, eu sei que, no fim das contas, todas as Graphic MSP podem ser lidas por qualquer leitor, mas o tipo de engajamento que cada uma das narrativas exige é diferente.