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Avenida Dropsie – A peça

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Saibam mais sobre o espetáculo que coloca diante de nós o mundo criado por Will Eisner.

A peça não é exatamente uma adaptação da HQ homônima (que conta a longa história da própria avenida e de seus habitantes), mas uma reunião de pequenas histórias curtas ambientadas no mundo das criações do Mestre Eisner, onde a Avenida Dropsie aparecia sempre como local da ação ou pelo menos como referência. Para tentar (e conseguir!) criar essa ambientação, o diretor e roteirista Felipe Hirsch apostou nos recursos técnicos, criando efeitos visuais que parecem transpor as graphic novels de Eisner para o palco.
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O primeiro e mais visível deles é o trabalho de cenografia de Daniela Thomas. O cenário, simples e dinâmico, retrata a fachada de um edifício (um dos ícones da obra do Mestre) e a calçada à sua frente, um conjunto que acaba representando toda a vizinhança e até mesmo toda a “grande cidade”. Mas o que realmente chama a atenção é o uso de uma tela transparente através do qual todo o espetáculo é visto.
No início a tela incomoda um pouco, transformando a quarta parede imaginária numa parede real e impedindo que o público perceba detalhes da expressão facial dos atores. Mas essa impressão é logo superada por todos os efeitos que a tela permite. Se por um lado se perde a expressão facial, fica acentuada a expressão corporal, uma das grandes marcas do trabalho de Eisner. Esse efeito é ampliado com a ajuda da iluminação de Beto Bruel e do figurino de Veronica Julian e Marichilene Artisevskis, recursos que acrescentam personalidade aos tipos eisenerianos. Essa combinação de cenário, iluminação, figurino e interpretação transforma um dançarino num conjunto de linhas dançantes e um mendigo num monte de trapos ambulante. A semelhança com os quadrinhos nesses momentos é quase fotográfica.
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A tela ainda é usada para dois efeitos fundamentais na peça: a projeção de vídeo e a chuva. Geralmente, o uso de vídeo em teatro é problemático, parecendo uma tentativa de cinema no palco. Em Avenida Dropsie, o vídeo ajuda a contar a história, apresentando títulos das mini-histórias, palavras escritas em cartas e “efeitos visuais” (na falta de termo melhor), que agem junto com os efeitos sonoros para criar a sensação de um trem em movimento, por exemplo. E os atores interagem com todas essas inserções, agindo com elas ou a partir delas.
A chuva foi introduzida pelo desejo do diretor de retratar o “Eisenshpritz” (“borrifos de Eisner”), aquela forma peculiar que o Mestre tinha de retratar a chuva torrencial e usá-la como moldura em muitas de suas páginas. O efeito visual da água na tela é incrível. As linhas verticais e grandes gotas iluminadas transformam a simples chuva na “chuva do Eisner”.
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Cada um desses detalhes deixa claro que a peça é uma homenagem a Will Eisner, mas a montagem não cai no erro de ser reverente ao extremo às obras originais. A peça é brasileira e em alguns momentos aparecem situações que não cabem nos cortiços da Avenida Dropsie e em nenhuma das etnias que lá habitam, situações que apresentam um humor e uma malícia tipicamente brasileiros. Fazer esses momentos não destoarem do resto da peça é mérito da Sutil Companhia de Teatro, com seus oito ótimos atores interpretando incontáveis tipos que poderíamos encontrar tanto nas ruas de Nova York quanto nas do Rio de Janeiro ou de qualquer outra “grande cidade”. Aos atores em cena junta-se gravação sonora do recém-falecido Gianfrancesco Guarnieri, filho de imigrantes como o próprio Eisner era, que faz a voz do autor norte-americano comentando suas obras.
Há também alguns pontos fracos, é claro. Além do estranhamento inicial da tela transparente, a longa duração da peça (1h50) pode incomodar algumas pessoas. Particularmente, senti falta dos grupos de crianças da vizinhança, sempre presentes nas obras de Eisner, uma ausência que pode ser explicada pelo físico dos atores (apenas uma das atrizes cabia no papel de criança, o que ocorre umas três vezes durante a peça). Mas isso é algo que pode incomodar somente o fã e não compromete o espetáculo de forma alguma.
No fim das contas, a interpretação e os recursos técnicos trabalham a favor da história maior formada por fragmentos de várias obras do Mestre (além de Avenida Dropsie temos citações a Nova Yorque: a Grande Cidade, Pequenos Milagres, Um Contrato com Deus, entre outros), uma história que fala de edifícios, vizinhanças, cidades e das pessoas que vivem e morrem nesses lugares; os acontecimentos isolados e coletivos na vida das pessoas na cidade grande, os pequenos milagres, tragédias, alegrias e tristezas de cada um e de todos nós.
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Avenida Dropsie está em cartaz no Teatro Nelson Rodrigues (Av. República do Chile, 230 – Centro, Rio de Janeiro) até o dia 27 de agosto; quintas e sextas às 20h, sábados às 21h e domingos às 19h. As entradas custam R$ 30,00 (inteira) e R$ 15,00 (meia).

Nerd Reverso

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