A gente lemos: títulos da Morcega em seus 76 anos!
Em maio do ano passado (2014, se você já não lembra) o Batman, a morcega mais amada do mundo, completou dez anos andando de busão sem pagar.
Falando sério, é um personagem que você pode até não gostar, mas tem uma popularidade, um reconhecimento e uma importância ímpar na história dos quadrinhos de super-heróis. Criação do mestre do migué Bob Kane e de Bill Finger, o Bátema desabrochou para o mundo em maio de 1939, na revista Detective Comics.
Mas enfim, aproveitando que em breve ele fará mais um aniversário, faltando pouco para alcançar a Suzana Vieira, resolvi falar dos últimos cinco encadernados do Cavaleiro das Trevas que eu li. Quem sabe, lendo este review, ao final do post você descubra o segredo do sucesso do Morcego.
Batman: Xamã (de Dennis O’Neil, Edward Hannigan e John Beatty, 140 páginas, R$14,90. Originalmente publicada em novembro de 1989. Aqui, pela Panini, em janeiro/2014)
A introdução de Kevin Dooley tenta disfarçar, mas acaba entregando o ouro: Batman: Xamã, foi uma HQ feita na esteira do primeiro filme do Morcego dirigido por Tim Burton, e que deu início à segunda onda de “batmania” na gringa. Até aí tudo bem: acho que o dono da laranjeira deve levar algum nos louros do vendedor de suco, mas…
Em Xamã, vemos Bruce Wayne no início de carreira, naquele que é praticamente um de seus primeiros casos. Inclusive, Dennis O’Neil malandramente se apropria de algumas passagens de Batman Ano Um, de Miller e Mazzuchelli, para amarrar cronologicamente a história que quer contar. Nessa aventura, Bruce vai ao Alasca (ainda em sua fase de treinamento) e lá quase morre, sendo salvo por um antigo ritual esquimó. De volta a Gotham, uma das primeiras coisas que ele faz é trair a um juramento feito com o pajé da tribo, enquanto inicia sua batalha contra o crime – que à frente um assassino perigosíssimo vindo diretamente das lendas indígenas de Santa Prisca, no Caribe.
Cara, como Xamã é uma história xexelenta e ruim! A arte é péssima, as cores, mesmo pra época, são terríveis e o roteiro… Caralho, Denny… que coisa de doer! Que final sem vergonha! Pra resumir, O’Neil fez no Bátema um princípio daquela bobajada totêmica com a qual Straczynski encheria o Homem-Aranha dez anos depois.
Nota: 3. Pra fazer caridade. Só as capas pintadas pelo George Pratt salvam.
Batman: Noel (roteiro e arte de Lee Bermejo. 116 páginas, R$22,90. Originalmente publicada em novembro de 2011. Aqui, pela Panini, em fevereiro/2015)
Mostrando que não é só o MdM que não tem nenhum timming temporal, a Panini lança uma HQ de Natal em pleno Carnaval. Duro golpe.
Em Batman: Noel, o famoso desenhista (principalmente capista) Lee Bermejo faz seu desabrochar (ui!) como roteirista. No prefácio, o chinês de Tóquio Jim Lee(xo) comenta a dificuldade e a avaliação mais dura a que é submetido um desenhista que decide se aventurar nos roteiros, e isso é uma puta verdade. Assim como também é uma puta verdade que Bermejo se sai bem demais em sua estréia. Para o debut (ai!), o que ele apresenta é uma adaptação do famosíssimo “Um conto de Natal” de Charles Dickens à realidade do Morcego. Apesar de concordar um um certo pipoqueiro que adaptações de “Um conto de Natal” são mais batidas do que a piada do pavê, ao contrário desse mesmo cidadão, eu acho que Bermejo foi bem feliz na que fez. Os personagens não se encaixam perfeitamente no roteiro do conto de Dickens, e isso traz à tona o charme de ser o narrador quem é, tendo acesso ao (pouco) que tem de informação sobre os envolvidos. Do ponto de vista gráfico, caralho… Não só Bermejo merece elogios em cima de elogios – a página 61 é um exemplo do domínio que ele tem da narrativa, e fica mais sensacional ainda quando você vê os rascunhos dela – mas também merece elogios a Barbara Ciardo, responsável pelas cores. Ela detona quando o Morcego encontra com o “Fantasma do Natal Presente”.
Em resumo? Batman: Noel é foda, e se você correr ainda dá tempo de ler na Páscoa.
Nota: 8,5
Batman ’66 (de Jeff Parker nos roteiros e Jonathan Case, Ty Templeton, Joe Quinones e Sandy Jarrell na arte. 132 páginas, R$22,90. Originalmente publicada em setembro de 2013. Aqui, pela Panini, em dezembro/2014)
Uhuhu! Hoje eu vou comer a Tia do Bátema!
Rapaz, se Batman: Xamã foi pensada para surfar na segunda onda de Batmania, Batman ’66 vem pra surfar, mesmo que com mais de 40 anos de atraso, a primeira onda batmaníaca, nada menos do que aquela encabeçada por Adam West, Burt Ward e claro, o palhaço, o bobo, o jóker, o bobo, o Coringa Cesar Romero. Mas é como diz o meu avô: antes tarde do que mais tarde.
Até porque, Batman ’66 é um gibi divertido demais. Tem aquele tom galhofa e bocó da série de Tv, que faz dele perfeito tanto para os velhacos quanto eu e você, quanto pra molecada, que certamente vai se divertir a valer com as ingenuidades e heroísmo exagerado das histórias. Na verdade, nem tem muito o que dizer: cada HQ que compõe o álbum é uma perfeita transcrição da série de Tv, com no máximo um pouco mais de recursos.
No que tange à arte, o trabalho de Jonathan Case é espetacular – e sim, as cores impressas fora de registro nas HQs dele são propositais. Por sua vez, Joe Quinones vem juntinho, desenhando (principalmente) um Coringa espetacular (com bigodinho e tudo!) naquele que é o roteiro mais elaborado do álbum. Se Ty Templeton, apesar de não conseguir passar humor no traço também não chega a comprometer, o ponto fraco da parada toda é, com certeza, Sandy Jarrell. Sua arte é ruim, pobre, e muitas vezes dificulta a compreensão das histórias. É uma pena que ele seja o responsável por duas tramas, enquanto Joe Quinones fica só em uma ou mesmo os Allred ficam limitados às capas sensacionais.
Nota: 8
Batman: Pequena Gotham (De Derek Fridolfs, nos roteiros e Dustin Nguyen nos roteiros e na arte. 132 páginas, R$22,90. Originalmente publicada em junho de 2013. Aqui, pela Panini, em fevereiro/2015)
Mais um álbum leve e despretensioso pra quem tá cansado de cronologias, crises, guerras e multiversos. Em Pequena Gotham, como o próprio nome indica, Fridolfs e Nguyen encolhem todos os moradores da cidade mais sombria do UDC para contar histórias ingênuas e sobretudo divertidas nos vários feriados do ano. Todo mundo é pequenininho, bonitinho e engraçadinho – por exemplo, Batman é uma celebridade local, amada por todos e sempre circulando fantasiado, levando consigo o quinto Menino-Prodígio, Damien, que não para de fazer trocadilhos a la Nerd Reverso.
Os vilões variam conforme as HQs, e é legal a abordagem bobinha de cada um deles. Por sua vez, é particularmente tocante a segunda história estrelada pelo Sr. Frio, um dos vilões mais “profundos” do álbum. Ainda que algumas histórias não sejam ligadas a feriados (como a liga dos velhinhos de Alfred), a pegada é mais ou menos essa em quase (ou mais) da metade do álbum. Completam o encadernado duas histórias de uma página, publicadas nas edições anuais de Detective Comics e Batman em 2009, provavelmente o pontapé inicial para a série.
Com uma pegada infantil sem ser infantilóide, a iniciativa da DC de brincar com seus personagens de modo a atingir as crianças é muito, mas MUITO superior, em todos os aspectos, à última iniciativa similar da concorrência que eu li, o chatíssimo “Franklin Richards – Filho de um gênio”: Pequena Gotham é divertida, leve e capaz de te arrancar uns sorrisos sinceros. Material de primeira que a molecada vai se amarrar.
Ah, e vale um adendo ao trabalho do Nguyen na arte. Já macaco velho na DC (ele fazia o gibi do Batman do Futuro e já tem um tempo, tem sido capista bem constante nos gibis da Morceguita), com esse seu traço super-deformed, ele tem tudo pra ser o “Skootie Young” da Distinta Concorrência. Coisa que eu apoio demais da conta!
Nota: 8
Batman: A Corte das Corujas (De Scott Snyder e Greg Capullo. 180 páginas, R$27,90. Originalmente publicada em novembro de 2011. Aqui, pela Panini, em junho/2012, o encadernado é de dezembro/2014).
Houve um dia em que a DC decidiu soltar o verbo a plenos pulmões e dizer: “Sabe o que eu quero, Mário Alberto? Eu quero foder!”. Nesse dia surgiram os Novos 52.Um rebuceteio geral, uma retomada de todos os personagens da editora, começando do zero, desorganizando de vez tudo o que tinha sido organizado na Crise original (e cagado depois em Zero Hora, Crises Infinita e Final, enfim). Se algumas iniciativas caíram nas graças do público (como Aquaman, Mulher-Maravilha) outras não foram assim tão bem sucedidas (como Frankenstein, por exemplo). O certo é que, em geral, os leitores mais velhacos ficaram putos da cara de verem a sua tão amada cronologia sendo chutada pras picas, enquanto que os leitores pós-bazzinga viram nisso a chance de ocuparem espaço. Bizarramente conseguindo manter toda (ou quase) a sua bagagem cronológica, o Batman era um dos personagens menos propenso a gerar controvérsias. Ou não, muito pelo contrário.
A Corte das Corujas foi o primeiro arco do personagem em sua revista principal após o reboot. Trazendo o recém afamado Scott Snyder nos roteiros (ele vinha de elogios muitos em Vampiro Americano) e o ressurgido do abismo imageniano Greg Capullo, “A Corte…” tornou-se xodó da bazzingada massa véio, mas não seduziu muito os leitores velhacos. Isso porque a trama mexeu profundamente na história da Família Wayne, afetando o cânone do Cruzado Embucetado, digo, Embuçado, de maneira severa. Esse volume marca a descoberta de uma guilda perversa, a Corte das Corujas do título, que aparentemente vem rondando e controlando Gotham há séculos, disfarçada de lenda urbana.
Vista como mais uma HQ do Batman de sempre, “A Corte…” consegue ser uma boa história: envolvente, bem conduzida e interessante. Vista como “A” entrada do Morcego nesse novo mundo, bem… fica faltando gás nessa Fanta. O grande problema, em ambos os casos, são as interligações rocambolescas entre passado e e presente de tudo, dando uma pegada muito grande de novela mexicana à trama.
Agora, dois detalhes: eu já dei essa mancada antes, mas eu continuo achando que valia uma notinha do editor informando que o giro das páginas faz parte da história. Sei lá, só por precaução, pra evitar que blogueiros mimimizentos façam posts choramingando borracha. Outro, dê uma olhada na galeria de capas do final do volume. Se a capa do Ethan Van Sciver não te convencer que ele é o Rob Liefeld de amanhã, nada mais o fará.
Nota: 6,5
Ah, como promessa é dívida, e eu sei que você deu todos esses pagedowns só pra chegar até aqui, fique então com o mundialmente famoso segredo do Morcego!