Desde os anos 80 eu vejo uma cacetada de séries na televisão. A maioria de comedia, meu gênero preferido.
Vendo documentários sobre elas e pesquisando pela internet, vi que muitas das minhas cenas preferidas dessas séries foram improvisadas. Isso mesmo. Elas não existiam no roteiro e pelo resultado da genialidade do ator e/ou das circunstâncias do destino, a improvisação acabou deixando tudo melhor e/ou mais engraçado.
Vou elencar aqui as 6,5 melhores que eu já vi nas séries:
6) O beijo gay em The Office
Steve Carell faz parte daquela turma de comediantes que usam muito do improviso em seus filmes – lembram do Virgem de 40 Anos? Aquilo ali era improviso puro!
Pois ben, ele levava muito desse improviso pro seriado The Office, o qual fez parte por muitos anos interpretando Michael Scott.
No episódio “Gay Witch Hunt”, Oscar (que é gay) pede desculpas para Michael por tê-lo chamado de “baixinho”. Nessa cena, os dois iriam se aproximar muito, mas não se beijariam. Depois de muitos takes, Carell decide que vai beijá-lo – você pode ver na cena acima como o ator que interpreta Oscar fica completamente constrangido e sem saber o que Carell vai fazer, já que ele não o deixa virar o rosto. A cena é desconcertante e o take ficou sensacional.
O diretor desse episódio disse uma vez que, quando Steve Carell realmente beijou o outro ator na cena, os atores começaram a rir descontroladamente – a sorte é que a câmera estava fechada nos dois, e que assim ele pode usar essa cena na edição final.
Veja a reação da Pam – que foi genuína – e em como os outros integrantes da série começam a rir… E o final com o Dwight tentando também beijar o Oscar fica sensacional!
5) Chris Pratt e Amy Poehler em Parks and Recreations
Já falei dessa cena aqui no MdM… Ela é genial.
EM uma das cenas, Chris Pratt entraria na casa de Amy Poehler pelado – só que, para as filmagens, ele usaria uma sunga cor de pele e, na edição, eles colocariam aquele borrado para disfarçar. Amy fingiria surpresa e fim de cena.
Porém, depois de uns quatro takes, Pratt decide ir realmente pelado para a cena. A reação de Amy é impagável e foi essa cena que foi pra edição final. Veja o resultado hilário acima.
4) Todos os diálogos do Zelador em Scrubs
Em um desses extras de DVDs do Scrubs, Zach Braff, protagonista da série, disse que Neil Flynn, o zelador, era um mestre da improvisação – e que não era a tôa que ele roubava a cena em todos os episódios (o que lhe rendeu o papel principal em The Middle).
Segundo Zach, ele criava quase todas as suas falas. Veja aí o que ele disse:
Neil é hilário. Ele criava praticamente todas as suas falas. Ele recebia o script, lia, entrava em cena e falava algo completamente diferente – e aí saía de cena como se fosse a coisa mais normal do mundo.
Veja toda a genialidade de Neil Flynn no vídeo acima.
https://www.youtube.com/watch?v=Jnc4Gi7JhvE
3) Os ataques do Seu Madruga
Roberto Bolanos disse uma vez que a pessoa mais engraçada que ele já viu na vida foi Ramón Valdés, o intérprete do Seu Madruga. Apesar de ter sido galã de cinema em seus áureos tempos, Ramón caiu como uma luva no seriado do CHaves e fazia não só a gente cair na gargalhada, mas também os seus companheiros de cena.
Bolanos também disse que eles gravavam vários episódios do Chaves em um único dia… E que tudo tinha que ser em um take só. Vejam a cena acima, onde Ramón Valdés começa a improvisar um ataque de nervos do Seu Madruga…
O próprio Bolanos esconde a cara para não aparecer rindo e o Quico finge que tá chorando, mas na verdade taopu o rosto na parede para poder rir descontroladamente do Seu Madruga.
2) Muitas cenas do Didi em Os Trapalhões
Caras, muitos de vocês só conhecem o Didi na lamentável fase pós anos 2000, na Turma do Didi. Mas eu e os redatores desse fétido blog crescemos com o Didi na melhor época dos Trapalhões.
Didi pegava um roteiro de meia página e transformava em um engraçadíssimo quadro de 10 minutos só na base da improvisação. Sacaneava todo mundo: seus companheiros de palco (o Dedé era o que mais tinha trabalho em controlar os risos), os figurantes (principalmente os que não podiam falar), a plateia, os cenários (lembram quando ele comia as frutas de isopor?), etc.
A improvisação do Didi deixava tudo mais sensacional.
Faço um desafio a você: veja o vídeo acima e tente não rir das piadas de improviso do Didi. Veja o Dedé e o Zacarias mijando de rir e o Mussum literalmente perdendo o ar com a piada do abacaxi.
1) O episódio do estacionamento em Seinfield
Nos anos 90, Seinfeld era uma das maiores audiências da TV norte-americana. O seriado, que falava sobre o nada, colocava Jerry, George, Kramer e Elaine em situações completamente comuns, mas com um roteiro sensacional e piadas realmente engraçadas.
Depois de algumas temporadas, Larry David, roteirista da série, fez um episódio que se passava em tempo real em uam fila de um restaurante japonês. Aquilo jamais havia sido tentado na TV mundial e o roteiro parecia simplório demais. Eles conseguiram a aprovação do estúdio, o episódio foi feito e fez um puta sucesso.
Nas próprias palavras de Larry David: “depois que fizemos o episódio da fila em tempo real do restaurante japonês dar certo, a gente podia fazer tudo o que queríamos!”.
Foi aíque Larry criou e episódio do estacionamento. Onde Seinfeld e seus amigos vão a um shopping center e passam o episódio inteiro tentando achar o carro perdido dentro do estacionamento.
Nos bastidores da série, todos eles falam que gravar esse episódio foi completamente exaustivo: ele se passava em um só cenário, tiveram que construir um andar de estacionamento nos estúdios, estava abafado, quente, as cenas precisavam de muitos retakes e todos eles não aguentavam mais.
Pra completar, parte do plot do episódio era ver Kramer andando de um lado para o outro com uma caixa de ar condicionado. O diretor havia providenciado uma caixa vazia para que ele andasse pelo cenário e não se cansasse – porém, para dar mais realismo, Michael Richards (o intérprete do Kramer) pediu para que colocassem um ar condicionado de verdade dentro da caixa.
Com isso, o episódio já é engraçado pelas improvisações de Michael tentando carregar aquea caixa pesadíssima – em uma das cenas, quando ele vai colocar a caixa no porta-malas do carro, ele está tão cansado e desgastado, que acaba se machucando em cena (o que deixa tudo mais engraçado)…
Enfim, depois de um dia exaustivo de filmagens, finalmente eles chegavam na cena final, onde, segundo o script, eles entrariam no carro, ligavam ele e saiam pela esquerda. Fade out, fim do episódio. Veja a última página do roteiro:
Porém, quando eles entram dentro do carro, o carro simplesmente não liga. Michael tenta ligar o carro a todo custo, mas ele não funciona.
Enquanto o próprio Michael fica estarrecido com o acontecimento (com a cara de “putaquemepariu, só faltava essa”), você pode ver George, Jerry e Elaine rindo descontroladamente dentro do carro.
Todos eles sabiam que ali estava o fechamento perfeito do programa.
Veja aí a cena:
Sensacional!
0,5) Fresh Prince of Bel Air – “Como é que ele não me quer?”
Essa cena é foda demais, mas coloco na posição 0,5 por ainda hoje não se saber o quanto dela é um hoax ou não.
A cena acima de Fresh Prince of Bel Air é uma das cenas mais emocionantes que eu já vi em uma série de TV. No episódio, Will finalmente encontra o seu pai, que o abandonara quando ele tinha cinco anos de idade. Depois de passar um tempo com ele, o pai promete que vai levar o filho em uma viagem, mas ele acaba abandonando o filhpo novamente.
APós dispensar o pai, Will conversa emotivamente e seu tio Phil sobre a relação com o pai, sobre como conseguiu sobreviver esse tempo todo sem ele, e que não precisa dele para nada. Após o inflamado discurso, Will para por algum tempo e desabafa um sofrido “Como é que ele não me quer?” e cai nos prantos.
James Avery, o intérprete do Tio Phil, prontamente abraça Will, que está aos prantos. O abraço foi tão forte e emotivo que até derrubou o boné, e o episódio termina mesmo por ali.
A cena marcou muito a época e a atuação de Will foi tão convincente – e a plateia ficou tão silenciosa – que muitos se perguntavam se aquela cena havia sido ensaiada ou não.
É muito comum vermos na internet coisas do tipo:
Aquele momento em que você descobre que essa cena não estava no script. No roteiro, o personagem do Will Smith iria simplesmente jogar tudo no chão e sair de cena, mas o pai do ator na vida real realmente o abandonou quando ele era criança – e ele simplesmente desabou ao final da cena. O abraço do tio Phil não estava ensaiado – foi um abraço de um ator para o outro, não de um personagem para o outro.
Porém, em uma entrevista, Will falou uma vez sobre seu pai. Ele não o abandonou quando era pequeno – ele era duro e exigente e mantinha Will na linha. Apesar disso, Will Smith sempre disse que ele foi uma figura firme e positiva na sua vida.
Mas isso ainda não diz se a cena foi ou não improvisada.
No Reddit, um usuário disse que estava na plateia na gravação desse programa. Veja o que ele falou:
Eu estava na plateia nesse dia. Todo mundo do programa – atores e produção – estavam quietos o dia todo – ninguém ria nem mesmo nas cenas engraçadas.
Antes dessa cena, Will Smith simplesmente desapareceu.
Então ele aparece, faz a cena em um take só, e desaparece de novo. Você pode notar que o chapéu dele cai durante a cena. Normalmente, o diretor iria refazer a cena, mas nada poderia substituir aquele momento.
Todo mundo na hora – plateia e membros da equipe – choraram muito. Mesmo depois que o diretor disse “CORTA”.
Eu tinha dez anos de idade. Eu nunca, nunca esquecerei como foi.
Will Smith nunca foi um bom ator. Mas essa cena é de uma sinceridade tão grande que tem alguma coisa aí. Não se sabe qual era o script original e não se sabe se ela realmente foi improvisada, mas ela é uma das cenas mais emocionantes que já vi em uma série de TV.