Primeiro de tudo, vou agradecer aos chégas do Terra Zero por terem compilado todas as informações sobre esse assunto.
Agora vamos lá.
Esses dias, a DC demitiu Shelly Bond, vice-presidente e editora executiva do selo Vertigo. O que seria o selo Vertigo? Bem, ele representa uma linha editorial dentro da própria DC voltada ao público adulto que já publicou algumas das melhores revistas da editora, como Hellblazer, Preacher, Monstro do Pântano, Livros da Magia, Orquídea Negra, Homem-Animal, 100 Balas, Sandman e Fábulas. Ou seja, coisa pra caralho.
Shelly Bond assumiu o cargo em 2013 no lugar de Karen Berger, e foi responsável pela expansão midiática de diversos quadrinhos do selo, como a série do Constantine, Lúcifer, iZombie, Preacher e Escalpo.
E ela também parece a Velma.
Segundo a DC, ela foi demitida por uma reestruturação da linha (embora os números baixos das vendas da Vertigo com certeza contribuíram), sendo substituída por Jamie S. Rich, ex-editor da Dark Horse. Até aí, uma decisão controversa, mas compreensível em termos de vendagem.
Só que o buraco é bem mais abaixo.
Haviam acusações rolando por aí que alguns editores da DC tem comportamentos bastante preocupantes, e com a demissão de Bond, eles voltaram à tona com muita força. Particularmente Eddie Berganza, editor da linha do Superman.
Um assediador sexual.
Segundo relatos de 2012, na WonderCon, Berganza assediou uma funcionária da DC enquanto o namorado dela estava no banheiro, testemunhado pelas outras pessoas que ESTAVAM NO LOBBY DO HOTEL.
Como esse imbecil não se deu nem ao trabalho de esconder as merdas que faz, muita gente pediu por sua cabeça, indo diretamente à DC. Só que a editora não o fez, mesmo com funcionárias se demitindo por causa da presença de Berganza. Dizem que a própria Warner o submeteu a sessões de terapia, e as acusações pareceram ter parado.
(Tem rumores de que ele tinha realmente material comprometedor de seus superiores para suborná-los, mas por mais cinematográfico que isso pareça, vamos tratá-lo com um pé atrás).
E não procurem “fotos comprometedoras” no Google para ilustrar seu post.
Agora, vamos analisar isso tudo com muita calma. Primeiro, olhando de um ponto de vista completamente editorial, sem olhar para as pessoas, a atitude da DC está condizente. Um editor faz seus títulos venderem, o outro não. Um fica, outro sai.
Só que sabemos que temos que olhar para o contexto geral. Shelly Bond pode não ter feito as revistas da Vertigo (que, lembrando, NUNCA foram sucesso de vendagem em nenhum lugar do mundo) terem resultados bons o suficiente, mas ela fez um puta trabalho de expandir as marcas para a TV. E ela foi demitida. E Berganza, mesmo constantemente acusado de coisas seríssimas, foi segurado.
Isso quer dizer o quê? Bem, quer dizer o que você acha que seja. Vou usar o modo Maximus provisoriamente aqui e ficar em cima do muro e lembrar que, quando estamos lidando com contextos amplos e que não temos todas as informações internas, as coisas ficam muito subjetivas. Será que Bond foi demitida mais facilmente por ser mulher? Será que Barganza é tão antigo na DC que eles não quiseram demiti-lo? Será que há uma constante conversa interna sobre esse assunto? Será que ele tem fotos do Didio vestido de Wolverine? Será que todo esse assunto é mais uma mostra de como tratamos pessoas diferentes pelos gêneros?
Eu não sei. Digo, eu sei o que sei, que é louvável o posicionamento da DC em oferecer ajuda profissional a alguém que claramente tem atitudes desequilibradas e erradas. Só que, numa situação tão delicada quanto essa, você tem que pensar em monte de coisas, especialmente e principalmente com as mulheres que se sentem inseguras ao trabalhar com ele. Além disso, toda ação sua será julgada e com várias doses de razão. Por que você não demitiu esse cara na primeira oportunidade mas demitiu outra pessoa X?
Agora, outra discussão muito mais importante nasce disso. Dizem que Berganza é o topo do iceberg. Tem assediadores na Marvel também (cof cof Chris Sims), e sabe-se-lá se tem mais na DC. Por mais que isso esteja, em primeira instância, desconexo da situação da Bond, pode ser que o caso como um todo traga à tona o restante dos assediadores da indústria. É um meio ainda majoritariamente masculino, e não sabemos quantas mulheres sofrem diariamente por casos parecidos. Não estou dizendo que os assediadores não mereçam tratamento para deixarem de fazer isso. Agora, caralho. A prioridade é quem sofre e pode sofrer o assédio. Informe essas pessoas e as proteja antes de tomar qualquer atitude de reintegração.
E sobre aquele velho contador…