Cacete, outro desenho com bichos? Pelo menos a Pixar varia os personagens…
Pois é, mais uma vez a DreamWorks aposta em protagonistas animais. Os Sem-Floresta (Over the Hedge) é uma adaptação da tirinha de jornal de mesmo nome (em inglês, claro) criada por Michael Fry e T. Lewis em 1995 (clique aqui aqui para ler uma das tiras em inglês). Nela, os animais observam os estranhos hábitos dos humanos enquanto roubam a comida deles. O filme mostra os acontecimentos anteriores ao início da tirinha, ou seja, como os personagens se conheceram.
RJ é um guaxinim guloso que vive carregando uma bolsa de golfe cheia de truques, um lance meio Mary Poppins. Depois de um roubo de comida mal-sucedido, RJ precisa arranjar um carrinho cheio de comida para o urso Vincent em uma semana ou ele mesmo vira a refeição. Ele encontra a mão-de-obra necessária para a tarefa num grupo de animais catadores que acorda da hibernação surpreso com uma gigantesca cerca viva (a tal cerca do título original em inglês) que os separa de um típico subúrbio norte-americano, construído durante o inverno onde ficava parte da floresta (daí o título em português). O grupo dos catadores, formado por um pai sarigüê e sua filha, um esquilo hiperativo, uma gambá e uma família de porcos-espinhos, logo se encanta pelas maravilhosas comidas humanas trazidas por RJ, mas o cauteloso líder do grupo, a tartaruga Verne, sente ciúmes do recém-chegado e começa a desconfiar do guaxinim.
Tecnicamente falando, o filme mostra a evolução da tecnologia de animação da DreamWorks, principalmente na textura de pele e pêlos dos animais, com todo aquele papo de “cada fio se movendo de forma independente” e tudo mais. Só que bons efeitos não fazem um bom filme, e a história do filme é bem fraquinha. Acontece aqui o mesmo que em Madagascar: a personalidade de cada animal acaba sendo mais importante que a trama geral e o filme tenta se sustentar apenas nas piadas com os personagens.
Aí sobra pros dubladores garantirem o filme e Os Sem-Floresta tem um elenco e tanto: Bruce Willis (RJ), Steve Carell (o esquilo Hammy), William Shatner (o sarigüê Ozzie), Nick Nolte (o urso Vincent), Thomas Haden Church (o exterminador Dwayne) e Eugene Levy (o porco-espinho Lou). Infelizmente, não posso dizer nada sobre a dublagem original, pois vi o filme dublado. Nas cópias dubladas, deram destaque à participação de Preta Gil (a filha do ministro) como a gambá Estela. Mas a personagem é bastante secundária, então podemos dizer que a interpretação de Preta Gil não fede nem cheira (sacaram? Gambá… fede… hã? hã?).
Apesar de alguns bons momentos, como a seqüência em que RJ explica aos outros animais como a sociedade norte-americana (e, por conseqüência, a nossa) tem uma relação estranha com a comida, e a cena (digna de um filme do Flash) que revela o que acontece quando um esquilo hiperveloz toma um genérico de Red Bull, o filme não empolga no conjunto. Apesar de algumas referências pop, Os Sem-Floresta é (literalmente) uma fábula sobre as necessidades da família/comunidade serem mais importantes que o desejo ou a necessidade de um só. A mensagem é tão óbvia que soa como um velho filme da Disney, sendo que a própria Disney já provou que é possível mostrar essas velhas mensagens numa embalagem mais atual e torná-las mais eficientes, como no excelente e subestimado Lilo & Stitch.
E, como sou o pão-duro do MdM, coloco a velha pergunta: vale o ingresso do cinema? Se você for um cara fissurado pelos efeitos mais recentes da animação atual, até vale, porque o filme é tecnicamente impecável. Caso contrário, espere uns quatro anos até ser anunciado na Globo como “uma bicharada muito louca aprontando as maiores confusões” e dê umas boas risadas de graça.
Nota: 6