Recentemente a Marvel relançou seu serviço de HQs digitais prometendo títulos exclusivos naquele formato de scroll pra celular, muito utilizado nos mangás digitais.
Peguei uma dessas histórias digitais do Capitão América unicamente pra ver como uma editora padrão de comics se adaptaria ao novo formato e… Fui esquecendo toda essa parte tecnica e fui me envolvendo demais com a história contada por Jay Edidin (roteiros) e Nico leon (arte).
Na história, um grupo de supremacistas brancos dos Estados Unidos, liderados por um ex-senador de direita chamado William Travis, quer retomar a “moral e os bons costumes” da antiga América, através de ideais fascistas.
O grupo, auto intitulado Sons of Hancock, dominou o Salão da Independência dos Estados Unidos, fez reféns e exigiu a presença do Capitão América.
O grupo, formado pela extrema direita da internet sob a liderança de Travis, está fortemente armado, inflamado com seu lider supremacista e tudo pode se transformar em um banho de sangue em um piscar de olhos, caso algo não seja feito rapidamente.
Bom, já por essa premissa e as imagens dos Sons of Hancock já deu pra ver que o roteirista Jay Edidin está basicamente recontando a invasão ao capitólio dos EUA sob o domínio do Trump e seus seguidores.
As imagens dos Sons of Hancock, trajados em fantasias espalhafatosas em azul, vermelho e branco, o uso de uma bandeira que remete à bandeira confederada, o político de extrema direita nacionalista que perdeu a eleição, a invasão de um local público dos EUA… Tá tudo aí!
E como o Capitão América se porta em relação a tudo isso?
O gibi começa com uma passagem muito interessante, onde Steve Rogers e Sharon Carter estão em um bar tirando um dia de folga. Como Steve Rogers é uma figura pública, todos o reconhecem e acenam pra ele.
Mais ao fundo, há um grupo de amigos bebendo e falando piadas racistas.
Steve Rogers rapidamente lembra que “se eu vejo alguém falando essas coisas na minha presença e eu não faço nada, é como se eu endossasse o que eles estão falando”
E quando o governo dos EUA pede para que o Capitão América vá e converse com os supremacistas brancos (os militares estão cheio de cuidados para não os chamar de terroristas porque são estadunidenses), Steve Rogers os chama pelo seu real nome: “nazistas criados em solo americano”.
Na segunda edição o Capitão América vai e entra no Salão da Independência e, para sua surpresa, ele é BEM recebido pelos supremacistas brancos! Segundo Travis, eles e Steve Rogers têm sim coisas em comum.
A série, óbviamente, já começou a gerar a revolta da galera reaça que se sentiu extremamente ofendida com essa nova série (algo me diz que a carapuça serviu), sob o pretexto de que a “Marvel esquerdista está colocando política nos meus quadrinhos”.
A Marvel sempre fez isso: refletiu os acontecimentos da época em seus gibis. E principalmente com o Capitão América. Na fase do Sam Wilson o Capitão América lutava abertamente por justiça social (o que causou a revolta nos telejornais da FOX News)…
Ele já rompeu com o governo dos EUA por diversas vezes e o fez questionar seu papel como símbolo estadunidense – as mais famosas durante a fase O Homem Sem Pátria do Mark Waid, quando virou somente O Capitão e, é claro, durante todo o rolo com o Bazuca na Queda de Murdock:
Ora, o Capitão nasceu dando um soco na cara do Hitler! Ele veste a bandeira estadunidense! Ele tem que ser pensado no contexto político.
No atual momento de crescimento da extrema direita e na atual popularidade do Capitão alcançada pelos filmes da Marvel, é necessário que Steve Rogers saiba quem são os atuais inimigos.
É como o Jack Kirby sempre falava sobre as histórias do Capitão América:
“Eu nunca entendi muito bem de política, mas a coisa que eu sabia era que, se uma pessoa era nazista, eu metia a porrada nela até dizer chega!”
Vida longa ao Rei Kirby!