No último domingo vimos o final de mais uma temporada de Game of Thrones. Como rola com muita série, o debate sobre a temporada mudou pouco e foi uma constante. No básico, os nerds acharam que esse ano pouca coisa aconteceu de verdade.
Virou até uma piada sobre o fato de morrer pouca gente em relação a outros momentos, como na terceira que tirou o fôlego de geral. Mas fato é que a quinta demorou mesmo a engatar e o principal motivo pra isso me lembra muito a trilogia de Senhor dos Anéis.
Lá pela década passada, cheguei a escrever, em um post em que o Change deletou junto com todo o conteúdo do blog na época, sobre Senhor dos Anéis – As Duas Torres, como um filme de passagem. Diferente de A Sociedade do Anel e O Retorno do Rei, era uma produção que não concluía uma história. Simplesmente preparava o terreno para o próximo. Soa familiar?
Com exceção do fim de Stannis Baratheon – e vale lembrar que não vimos o corpo – todos os dez episódios culminaram em… Uma preparação para a sexta temporada. Cersei Lannister armou, se ferrou e… Aguardemos a próxima temporada. Sansa Stark penou de novo, sofreu muito e…. Aguardemos a próxima temporada. Khaleesi está longe, seus amigos vão procurá-la e… Aguardemos a próxima temporada. E por aí vai.
“Mas Bugman, não foi sempre assim?” Nem. Em outras temporadas você tinha um final claro pra cada personagem, mesmo que isso engatasse para uma nova história. Arya Stark embarca para Bravos, Tyrion Lannister mata o pai e foge. Você não tem dúvidas de que os dois fecharam uma parte de sua história. Game of Thrones sempre foi bom por conseguir trabalhar bem dezenas de personagens e fechar ciclos para cada um.
A gente vê na terceira temporada, Robb Stark e sua mãe morrerem de forma cruel. E é aquilo, acabou. Arya está sozinha assim como Sansa. Na quarta, após a morte de Joffrey Lannister, Tiryon conclui seu arco. Ele não tem mais lugar entre os Lannister. E por aí vai.
A quinta temporada é aquela em que Bram sumiu após o final da quarta. Qual o motivo? Simples, porque a sexta temporada é o que importa para a história toda. Esta foi uma temporada de passagem.
Vale lembrar os momentos polêmicos em que as pessoas confundiram a intenção do personagem com a do autor. O autor quer retratar de forma fiel um mundo pseudo civilizado em que há disputas de poder, magia e muita morte.
Sansa ser estuprada não é glorificação desse tipo de violência, mas apenas algo comum em um mundo desses (aliás, no que você vive há 50 mil casos por ano só no Brasil). Shireen Baratheon ser queimada viva é o retrato fiel de um povo que valoriza a religião acima de qualquer pensamento racional. Aliás, a nossa Câmara aprovou menos tributação pra Igrejas (quem gera emprego segue pagando imposto como se não houvesse amanhã) e nossos políticos cunharam o termo edificante “ideologia de gênero” pra atacar essas pessoas que resolveram exigir direitos iguais, vejam vocês.
A série não é cruel porque o(s) autor(es) são, mas porque seus personagens são assim. E são assim porque é um retrato do mundo em que vivem. E nem sei se são tão diferentes assim do nosso.
Tudo isso não nos tira os bons momentos de cada uma das seis mortes ou das cenas de ação. Talvez deixe até um gostinho de “quero mais”, mas é um risco alto que produtores e roteiristas assumiram. Depois de Lost, as pessoas estão beeeem mais receosas de serem enganadas e é bom que a sexta venha aí para chutar algumas bundas. O risco de desinteresse surgiu pela primeira vez desde que a produção começou. É um perigo pequeno, fácil de ser gerenciado mas está aí. E é preciso reagir, mesmo que tudo esteja perto do fim, para que Game of Thrones termine como um orgasmo e não como uma brochada.
E antes que alguém pergunte: só acredito em Jon Snow morto quando aparecer sendo cremado, ok? Ou seja, pra mim o fim da quinta temporada é um elemento que chama pra sexta.
Nota: 7
Bugman deseja um feliz ano novo a todos em seu primeiro post no ano