Semana passada fiz um post indignado com o terceiro aumento (em um ano) de preço nos gibis da Panini e fui censurado por colegas e leitores, pois de fato, num ato de rebeldia pessoal, ataquei a Panini ao invés da verdadeira responsável pelos aumentos de preços, que são as gráficas – a máfia das gráficas, como foi muito bem esclarecido por e-mail pelo estimado leitor Mineiro. E foi por isso que tirei o post do ar. Porque falei besteira, assumo. Mas ainda assim, acredito que a Panini, de uma certa forma, tenha e ao mesmo tempo não tenha uma parcela de culpa nesse processo todo, e eu vou explicar porquê.
Desde que o Brasil começou, efetivamente, a publicar os gibis de heróis, o esquema dos “mixes” sempre esteve presente. Quase nenhum gibi nunca foi exclusivamente de um personagem só. Ainda que o título pertença somente ao personagem, ao abrirmos o gibi, um terço dele é referente a histórias do personagem e o restante são histórias de outros personagens, que dividem o título com ele. Um exemplo disso é o gibi do Demolidor. São 25 páginas do homem sem medo, 25 do Justiceiro e 25 de Elektra. Ou, mais recentemente, o gibi de Wolverine, onde, inicialmente, 50 páginas eram do baixinho invocado, 25 eram de Arma X e 25 eram de Mística.
Agora, me pergunto: para quê, ao comprar o gibi do Wolverine, sou OBRIGADO a levar uma história de Arma X e da Mística, que são dois fiascos? Para quê, ao comprar o gibi do Hulk sou OBRIGADO a levar uma história do Quarteto Fantástico? Para quê, ao comprar o gibi do Demolidor, sou OBRIGADO a ler Elektra? Para quê, ao comprar Marvel Millenium, sou OBRIGADO a levar uma história de Ultimate X-Men? Ou pior: para quê, ao comprar o gibi do Homem-Aranha, sou OBRIGADO a ler as histórias desenhadas por Humberto Ramos? Eu poderia ficar o dia inteiro falando quais gibis compro e quais páginas não curto ler ou passo batido.
Estou falando de títulos que, pessoalmente, não curto ler, mas que sou obrigado a pagar pelas páginas que os contêm porque são incorporados à revista cujas histórias quero ler. E isso é um absurdo, pois falando como consumidor, não devíamos ser obrigados a pagar por aquilo que não queremos. E estamos pagando, infelizmente, pelas páginas que não lemos, pois assim como as que lemos, elas também sofrem reajuste de custos gráficos, e o preço como um todo sobe.
Se existirem pessoas que curtem absolutamente todas as histórias presentes em um “mix”, show de bola. Será uma grana bem empregada. Mas e aqueles que nem tudo curtem? Lembrem-se de que, enquanto Caio pode curtir Justiceiro e Elektra, Tício pode não curti-los e se sentir indignado por comprar um gibi onde só lerá 25 páginas de Demolidor.
Lá nos Estados Unidos, cada personagem tem seu título independente. Quem gostar, compra; quem não gostar, não compra. E me pergunto porque, por aqui, insistem em agrupar de três a quatro títulos americanos traduzidos em um único gibi e obrigar a pessoa a pagar pelo pacote completo. No fundo sabemos porquê… porque se vendessem independentemente, não haveria o lucro que há ao vender tudo agrupado. Porque SEMPRE haverão pessoas que pagarão R$6,90 para ler somente 50 páginas do Wolverine. E não culpo essas pessoas, pois elas estão exercendo o direito que elas têm de ser fãs apaixonados, mas que sofrem com o abuso de pagar por um “mix” onde lerão apenas 50% do gibi.
Mas eu não culpo a Panini por fazer o esquema de “mix”, porque ela apenas continuou o que a Abril já fazia. Mas acho que é culpada no sentido de continuar com esse esquema, que se torna extremamente oneroso aos bolsos dos leitores levando em consideração a qualidade gráfica superior da Panini e o progressivo aumento dos custos gráficos. Como resultado disso, cada vez mais os leitores estão cortando gibis do seu orçamento mensal e a Panini terá lucro apenas em cima dos poucos que permanecerão comprando.
Se parassem com esse esquema de “mix” e vendessem as histórias independentemente, cada uma em um gibi de 28 páginas saindo a R$2,50 (tal como fazem com Thundercats), acredito que seria bem melhor. Poderíamos ter mais opções do que continuar ou não continuar comprando e não haveria tanta indignação, tantos cortes orçamentários.
Bom, galera, isso foi uma opinião pessoal, pois não manjo nada de mercado editorial. Falei apenas como leitor, e é o que penso.