Demorou, mas aqui está a segunda parte de nossa série de posts sobre bonecos de super-heróis. Desta vez, contei com a sensacional colaboração de Eder Pegoraro, o Mr. Blisterman do site Galeria dos Brinquedos. Graças às imagens que mandou e à sua ajuda intelectual, o conteúdo desta segunda parte está para lá de enriquecido! Valeu mesmo, Eder!
Da esquerda para a direita: os bonequinhos da Marx, o Batman da coleção Super Amigos e a cartela dos bonecos dessa coleção.
Enquanto a Mego despontava por todo mundo, com seus bonecos articulados dos super-heróis dos quadrinhos, o Brasil entrava no mercado em 1968 com uma coleção de bonequinhos estáticos, produzida pela Atma, e que na verdade eram brindes de uma promoção dos postos da Shell. Eram cópias, porém licenciadas de figuras produzidas pela Marx nos EUA na mesma época, exceto pelo personagem Namor – o príncipe submarino que era exclusivamente brasileiro. Alguns colecionadores dizem que ele foi esculpido em cima de uma figura de um troféu de natação, esses foram os primeiros bonecos de heróis produzidos em território nacional.
A Gulliver também entrou na parada em 1973, com uma outra coleção de figuras estáticas (sendo que em escala menor que as da Marx) e poucos anos mais tarde, numa tentativa imitar a Mego, lançou uma coleção denominada Super Amigos. Estes últimos já eram articulados e usavam roupas de tecido. Embora essa coleção não tenha vingado, os bonecos pertencentes a ela são, hoje em dia, raríssimos.
Com o fechamento das portas da Mego, no início dos anos 80, encerrou-se aquele monopólio sobre os bonecos de super-heróis. Os direitos de fabricação foram divididos entre algumas empresas; umas pequenas e outras maiores, tais como Kenner e Mattel.
Entre as diversas coleções de bonecos que foram lançadas nessa década, duas se destacaram com louvor: Guerras Secretas (Secret Wars) e Super Powers.
O Homem-Aranha de Guerras Secretas e o Batman de Super Powers
Guerras Secretas foi uma coleção de bonecos inspirada em uma maxi-saga homônima, da Marvel. Lá fora, foi fabricada pela Mattel. Aqui, foi a Gulliver quem se responsabilizou pela fabricação. As cartelas, de forma geral, além do boneco, incluíam uma base para sustentar o mesmo em pé, uma arminha e um escudo holográfico. Este último acessório era algo meio sem sentido (tão sem sentido quanto aquele castelo com a cara do Homem-Aranha e outro do Doutor Destino, pertencentes à coleção). Por exemplo, o Homem-Aranha vinha com um escudo holográfico que alternava uma imagem do aracnídeo com outra de sua identidade secreta, Peter Parker. Não eram perfeitos, mas para as crianças brasileiras da época era algo inédito e inovador. Foi introduzido pela primeira vez, em forma de brinquedo, o Homem-Aranha em seu uniforme negro, e este era um boneco bastante disputado. Houve um relançamento posterior dessa coleção, também pela Gulliver, bem no início dos anos 90, simplesmente denominada “Super-Heróis”. Eram os mesmos bonecos; só foi alterada a cartela, mas nem todos personagens foram relançados dessa vez; heróis como Wolverine e vilões como Magneto e Kang, pertencentes à coleção original, ficaram de fora.
Já a Super Powers foi uma coleção de bonecos dos personagens da DC fabricada lá fora pela Kenner e aqui no Brasil pela Estrela. Eram bonecos que realizavam uma determinada ação ao pressionar as pernas ou braços, tais como dar socos, chutes ou “correr”, como era o caso do Flash. Poucos deles vinham acompanhados de armas. Por outro lado, pelo menos no Brasil, as cartelas traziam um mini-gibi dos personagens. A qualidade dessa coleção já era bem superior, o acabamento era melhor e tinham mais articulações, algo muito mais inovador. Enfim, uma coleção de vanguarda.
Além destas duas coleções, destacaram-se também, por aqui, o clássico Falcon, os Comandos em Ação (Gi-Joes), os Thundercats, He-Man, Transformers e a coleção do Rambo (tanto os nacionais quanto os importados). Lá fora houve outras coleções de bonecos de heróis, tais como uma dos heróis da Marvel, que jamais foram vistas por aqui e que por lá fizeram muito sucesso.
A Gulliver, visando competir com os Comandos em Ação, criou os S.O.S. Comandos: bonecos menores, de material barato, e que tinham uma premissa semelhante à dos Comandos (um exército do bem contra um exército do mal). Eram bonecos que, embora tivessem o mesmo tamanho dos Comandos, tinham o corpo diferente e articulações mais limitadas. O bom é que tanto os bonecos quanto seus veículos (carros e helicópteros) eram bem baratos. Houve uma época, também no início da década de 90, em que foi produzida (também pela Gulliver) uma coleção do Rambo no mesmo estilo dos S.O.S. Comandos, com o mesmo corpo, mesmas articulações e mesmos veículos. E continuam sendo produzidos até hoje.
O grande barato da década de 80 foi que a produção nacional barateava muito o custo de bonecos, e era possível encontrá-los até nas papelarias.
Houve um período, bem no início dos anos 90, em que o Brasil enfrentou um sério problema com relação aos bonecos de heróis. A indústria nacional não fabricava mais e as lojas tinham suas prateleiras praticamente vazias, se não fosse pelos S.O.S. Comandos e algumas coleções da Glasslite. E os demais bonecos produzidos nessa época eram horrendos. Havia, por exemplo, uma coleção de guerreiros ninjas onde o corpo do boneco era feito de um plástico vagabundo, totalmente monocromático, onde o rosto e o busto eram adesivos colados sobre esse mesmo corpo. Horror!
No entanto, após o início do Plano Real, quando nossa moeda superava o dólar, as importações foram liberadas e os bonecos de heróis entraram numa era de ouro; tanto aqui quanto lá fora, como será visto na próxima parte desta série.
Para matar saudades:
Secret Wars Archive
Kenner Super Powers