Existe uma máxima que diz “todo filme com o Mark Ruffalo ou é ruim ou é Vingadores”.
Mesmo se você discorda (parabéns pra você), ou se você é uma das inúmeras arrobas amigas do meu twitter que me mostrou algumas das poucas exceções à esta lei, na minha cronologia pessoal ela ainda figura como imbatível. Truque de Mestre 2 (assim como o primeiro, inclusive) não foge à essa constatação.
Para quem não lembra (ou não se importa, o que é uma atitude CORRETA), o primeiro filme reunia um grupo de mágicos – de diferentes especialidades (ilusionismo, escapismo, manipulação de cartas e mentalismo) – recrutados por uma organização misteriosa com um nome nada clichê – O Olho -, tipo uma maçonaria dos mágicos, para realizar diversas ações contra repórteres inescrupulosos e empresários corruptos, enquanto são perseguidos pela polícia (encabeçada pelo mais recente Bruce Banner do cinema) para, no final, descobrirem que tudo não passava dum plano daquele mesmo policial que os perseguia. É, no final, tudo é um plano maquiavélico do Mark Ruffalo.
Sim, eu te dei um spoiler do primeiro filme. Sabe porque? Porque eu sou seu amigo e quero o seu bem. Por isso estou evitando que você se ofenda ao assistir. De nada, papai Tango ama vocês.
E porque eu estou te contando na resenha do segundo filme o que acontece no primeiro? Porque, meu amigo a resenha é minha e você não manda em mim, você nem é maior esse é o tipo de sequência em que, se você não viu o primeiro, não vai entender bosta nenhuma do segundo. Tudo é extremamente corrido – não se apresenta personagem algum, nem o que é a tal sociedade secreta lá, nem quem é o repórter (agora presidiário) interpretado pelo Morgan Freeman, nada. Quer dizer, até apresentam, mas daquele jeito porco que roteirista de sequência adora fazer, numa frase aqui e acolá mas não se engane, o filme está mais para um capítulo que para uma sequência.
E se o primeiro, apesar de seus problemas, era até um filme divertido por mostrar as habilidades dos mágicos lá (que são até bem bacaninhas), esse vira mais um heist film, onde o grupo de personagens precisa roubar um MacGuffin qualquer de um vilão, para outro vilão, em troca de conseguir outra coisa blá-blá-blá-jesus-esse-filme-não-acaba. O vilão, aliás, é uma decepção à parte.
Não sei se vocês viram, mas pegaram o ex-Harry Potter, Daniel Radcliffe, para tentar trazer algum tchananã para a película, sustentada unicamente naquela piadinha de “ei, sabe o guri que fez carreira interpretando um bruxo? Olha ele aqui num filme sobre mágica”. Se te pareceu forçado e bobinho, você acertou. A “revelação” do seu personagem no filme acontece num daqueles clássicos “momentos surpresa” que não tem efeito nenhum, ou pelo menos na minha sala ninguém reagiu. Vai ver todo mundo já esqueceu quem era o cara ou, simplesmente, foi outra aposta vazia do filme.
Tramas batidas e clichês à parte, outra coisa muito bacana do primeiro filme some nesse segundo: as personalidades dos magiqueiros.
Enquanto que no filme anterior os Cavaleiros (sim, são quatro personagens anti-heróis que tem um apelido que faz alusão aos quatro cavaleiros do apocalipse, original né?) são os personagens principais, cada um com suas habilidades e idiossincrasias, neste – com exceção (um pouco) do Daniel Atlas feito pelo Lex-Luthor-Que-A-Gente-Merece, Jesse Eisenberg – todos foram sumariamente apagados em nome dum protagonismo do personagem do Hulk-Que-Tem-Pra-Hoje. Até mesmo o sempre imperdível Woody Harrelson, que interpreta o próprio irmão gêmeo no filme foi preterido. Em nome do Mark Ruffalo. Difícil hein?
Ah e também trocaram a belezinha da Isla Fischer pela engraçaralha Lizzy Caplan. Nada contra, mas, sei lá, não se faz uma coisa dessa, poxa (além do personagem de Caplan ter a relevância e a profundidade dum pires de café descartável. Se é que isso existe).
Acho que quase morrer filmando o primeiro filme tem algo a ver com isso também…Por fim, o filme continua pecando nos dois maiores crimes que seu antecessor também comete (e nisso podemos tirar o chapéu em termos de coerência na série) que é não respeitar as próprias regras e subestimar a audiência.
Sabe, o filme inteiro trabalha com a premissa de que os Cavaleiros são mágicos excepcionais. Digo, MUITO excepcionais. Dá pra dizer que você está assistindo um filme de super-heróis, tipo um X-Men, só que ao invés de mutantes a galera tira coelhos de cartola (ou o contrário) e moedas de orelhas, e isso é bem legal!… até que algum deles (normalmente o Lelesk Luthor) extrapola os limites já estabelecidos (as vezes uma mesma cena) e transforma o efeito de ilusão que estava realizando num puta feito sobrenatural.
Sabe O Grande Truque? Aquele filme em que o Batman e o Wolverine são mágicos e que no final aparecem vários clones feitos pelo David Bowie? Imagina aquele tipo de absurdo de vinte em vinte minutos? Pois é.
É como se o filme não se decidisse sobre o que quer ser: se filme de super-seres, se filme-de-assalto, filme-de-sociedade-secreta ou tudo isso junto. E, claro, tem a clássica cena em que alguém faz um monólogo no meio da ação (mesmo, não é nem narração em off) explicando tudo o que está acontecendo caso ou você seja muito burro pra entender sozinho ou tenha muito senso crítico pra não se deixar levar e ignorar os furos de roteiro.
Ah, e isso acontece nos dois filmes. A diferença é que no segundo isso incomoda menos.
Enfim, Truque de Mestre 2 consegue uma proeza que vi poucas vezes em continuações, que é de ter um desenvolvimento pior do que o primeiro mas com um final melhor, ou pelo menos menos ofensivo ao intelecto do espectador. Passa longe de ser um filme bom, mas que pelo menos entretém caso você esteja sem nada para fazer (em casa, por favor. Não gaste seu dinheiro no cinema)
E não, eu não vou contar o final do filme. Sabe porque? Porque embora eu possa ser seu amigo e ter te poupado do primeiro, amizade é uma via de duas mãos então vocês também precisam ser meus amigos e demonstrar solidariedade ao também se decepcionar, como eu, com o final dessa maravilhosa sequencia.
Papai Tango continua amando todos vocês.
Truque de Mestre 2
Lionsgate (mesmo? Jurava que era da FOX)
(longos) 129 min.
NOTA: 6.9 (vendo em casa)/5.0 (gastando dinheiro)