A Gente Vimos: Power Rangers (2017)

Power Rangers é um filme que me divertiu.

Ao mesmo tempo, Power Rangers me trata como um idiota várias vezes.

Além disso tudo, poucas vezes eu vi uma produção de duas horas que corre tanto contra o relógio como Power Rangers.

É um filme que merece ser criticado seriamente? Não, sem chance. Contudo, ele merece ser expressado, porque se tem uma palavra que define a obra é ‘MAS QUE CARALHOS PARA NÃO VOLTA CHEGA CONTINUA AAAARGH

POR QUÊ O MEGAZORD ESTÁ SARRANDO O AR?’.

Mais de uma palavra, mas vocês entenderam o sentimento. Portanto, queria pegar o tempo de vocês e levá-los para uma viagem de analogia com o que eu considero representar completamente o filme dos Power Rangers.

Duas horas em uma piscina de bolinhas com adolescentes cheirados de cocaína até o talo.

Tudo começa quando você chega na tal piscina de bolinhas. Ela está na sua cidade faz algum tempo, mas reinaugurou. Está mais bonita, dizem. Mais elegante. E logo de cara você percebe o motivo. Ela está meio torta. Isso melhora o ângulo, alegam. É mais moderno. O.K, você responde, dando de ombros e entrando na piscina.

Acompanhando você, entram cinco adolescentes. E logo de cara você gosta deles. São estranhos? Mais do que tudo. Só que possuem carisma. Carisma até o talo. Aquela garota, Kimberly? Que pessoa fascinante.

E então eles começam a cheirar toda a cocaína da existência e pular por todos os lados.

‘MAS QUE CARALHOS’, você grita enquanto é arrastado pelo vórtex das bolinhas de plástico. Eles não param. Não há um momento para respirar. Toda a ação que ocorre ali dentro é pontuada por ainda mais ação, mais frases de adolescente, mais slow-motions e mais dubstep (porque algum idiota trouxe a porra do dubstep e não quer parar).

E, quando você vê, está no ritmo deles. Está dançando com o furacão, embalado pela quinta marcha desse carro sem freio. Tudo ali é alto, todas as emoções são gritadas. As cinco pontas da estrela do caos possuem personalidades fortes, e com isso vão te levando para cima e para baixo e para a direita e para a esquerda.

E é aí que você repara que há algo estranho. Os adolescentes tentam, com todo o empenho, fazer-te sentir todas as emoções que eles estão sentindo, mas não há tempo para respirar. Não há como absorver nada do que eles falam, porque uma cena forte é seguida por outra cena forte, interpolada por literalmente segundos de silêncio. Nesse momento, você repara que está afundado na piscina de bolinhas, sem conseguir respirar.

Seu instinto primário é dizer: ‘isso aqui está uma merda’. Aí te puxam de volta à superfície. Você os encara. Eles querem que continuem dançando, alimentados pela cocaína que abasteceria a Colômbia. Você tenta argumentar e apontar os erros, e aí eles te enfiam no fundo da piscina de novo.

‘Já entendi’, você pensa enquanto tenta respirar. ‘É só seguir o fluxo’. ‘Tudo bem, posso fazer isso’. E assim você volta a acompanhar a dança, mas a sinfonia está estranha (alguém desligue este caralho de dubstep). Os adolescentes dizem que estão preparando uma surpresa. Coisas incríveis. As coisas que faziam a piscina de bolinhas ser atrativa na sua infância. Eles colocam atrás de uma cortina, E DE REPENTE JOGAM NA SUA CARA.

Você olha assustado para aquilo enquanto eles escondem a coisa de novo. Qual foi o sentido daquilo? Você teve um vislumbre de uma armadura, mas eles só mostraram uma. Pra quê estragar a surpresa? Então os adolescentes mostram robôs em formato de dinossauro, e você tenta entender o motivo de não guardarem pro fim. Aí um deles começa a passear com o dinossauro. E guarda de novo. QUAL O SENTIDO DISSO, você grita enquanto afunda mais uma vez.

Uma das garotas, Kimberly, te traz de volta. ‘EU SOU UMA PESSOA HORRÍVEL’, ela grita, e você entende o motivo dela parecer tão afetada durante a dança. Outro adolescente, Jason, aproxima-se. ‘VOCÊ NÃO É UMA PESSOA HORRÍVEL’, ele diz. E tudo se resolve. E você está afundando de novo.

E então, a música. A música da sua infância. Você sai do fundo da piscina, sorridente. Posso aturar isso pela música, é seu pensamento. Um dos adolescentes então chega ao seu lado.

‘VOCÊ GOSTOU DA MÚSICA’, ele pergunta.

‘E COMO’, você responde.

‘LEGAL, HORA DO DUBSTEP’.

‘FILHO DA PUTAAAAAAAAAAAAA’

E aí você acorda fora da piscina de bolinhas. Os jovens agora estão jogados nas vielas enquanto vomitam todo o refluxo de drogas. Você respira, cansado. Foi uma experiência estranha. Você já viu tentativas de espetáculos melhores, e consegue ver os defeitos naquela suruba de gorilas que os adolescentes chamaram de diversão.

Contudo. Contudo. Com. Tudo. Eles se divertiram muito. Dava para ver em seus olhos e em seus sorrisos. Eles deram o máximo de si e não tem como odiá-los. Pelo contrário. Você ainda tem um sorriso no rosto. O sorriso que veio quando era arrastado por eles no furacão de bolinhas de plástico. Foi uma experiência estranha? Sim. Você aconselharia para todos? Nem fudendo.

Mas se divertiu?

Não se pode dizer que não.

Nota: 7

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